Sabrina

Capítulo 5

Na baixada...

Eu já estava quase em casa, e ainda não tinha coragem de entrar. Como dizer a eles que fui demitida por justa causa por roubo? Não que meus pais merecessem alguma satisfação de minha parte, mas ao menos eu queria ser bom exemplo naquela casa. Parei no portão vendo as crianças jogando bola na rua, Fernando estava no meio rindo em sua inocência de criança.

 Até que enfim chegou. - Meu pai falou da porta com a voz embaralhada pelo álcool. - Achei que já tivesse saído de casa!

 Ainda não tive essa sorte! - Entrei, só faltava essa para fechar meu dia. Minha mãe gritava com Isaque.

 Vai logo comprar essa cerveja moleque.

 Já disse que não! Não tô afim!

 Vou arrebentar essa sua cara e...

 Nada! - gritei. - Ele é menor de idade, nem deveria segurar uma garrafa de qualquer bebida alcoólica que seja! Quer encher a cara, compre você mesma!

 Abaixxxa a voz! - quase que a palavra abaixa não saiu. - A casa e minha!

 Até onde eu saiba, a casa é minha, está em meu nome. Meu irmão não vai comprar e ponto final!

 Ninha, você está bem? - Meu irmão se aproximou do meu ouvido perguntando baixo. Fiz que sim com a cabeça.

 Vou ter que ir pra rua pra beber, que ssssaco.

Ignorei e fui para o meu quarto. Estava cheia de dor de cabeça, me joguei sobre a cama tentando ordenar meus pensamentos. O que faria agora? Preciso terminar de pagar a faculdade, tenho as contas da casa, meus irmãos precisam comer.

 Ninha! - Isaque colocou a cabeça dentro do quarto. - Posso entrar?

 Entra, o que houve?

 Eu quem te pergunto. Seus olhos estão inchados, você chorou e não foi pouco.

 Aconteceu algo muito ruim no meu trabalho.

 Foi despedida? - me perguntou sério. Ele era mais novo que o Sandro, mas tinha quatro vezes mais o juízo dele. Respondi que sim com a cabeça. - Fica tranquila, vamos ficar bem. Eu posso procurar um trabalho.

 Nada disso, quero que termine os estudos. Você sempre sonhou em ser militar, vai terminar seu curso e fazer a prova sem nada te atrapalhar!

 Não vai atrapalhar.

 Por favor, só faltam alguns meses, eu vou me virar.

 Mas o que aconteceu?

 Aquele bosta do meu gerente armou pra mim e conseguiu me dar uma justa causa.

 Nossa!

 Mas o que mais me abalou foi que o Clay e a Fabi se demitiram juntos. Tentei fazer eles voltarem na decisão, mas não consegui.

 Eles são seus amigos de verdade!

 Pois é, nunca duvidei disso. Essa foi a maior demonstração de amor que já recebi de um amigo. Eles passaram a tarde comigo Isaque, conversando, tentando me tranquilizar que tudo ia ficar bem. Mas a realidade não é como nos queremos.

 Quando eu conseguir entrar para a aeronáutica, eu prometo que você não passará mais por isso! Vou estudar bastante e me dedicar.

 Eu fico tão feliz de ver que está seguindo um caminho bom, nunca, está me ouvindo, nunca deixe as drogas atravessarem seu caminho. E um caminho muito difícil de voltar depois.