Capítulo 36

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Enquanto isso na cozinha...

- Bom dia! - Gabriela entrou na cozinha emburrada olhando a revistas na mesa. - Que inferno, não deveria nem ter saído da cama.

- Não começa Gabi, Já não basta a cena que fez ontem! - Briguei ainda preocupada com a saída da Sabrina. Ela não me parece uma má pessoa, mas todo esse medo, essa reserva dela... aí tem! Olhei minha cunhada tomar café ainda emburrada.

- Ju, está tudo bem amor? - Fábio me conhece como ninguém e certamente está preocupado com tudo isso. Deus do céu... essa história de desvio de dinheiro, namorada complicada... meu irmão está encrencado.

Fui para a pia fazer alguma coisa, não adianta pensar demais, às vezes a mente vazia nos dá pensar coisas desnecessárias. Fabio me abraçou por trás chegando perto do meu ouvido.

- Está tudo bem?

- Essa coisa toda não está me cheirando bem, e sua irmã fazendo isso também não. – Falei baixo.

- Gabi é mimada, ela supera. Quanto a sua cunhada, ela me parece bem temperamental.

- Enzo me falou que ela tem alguns problemas pessoais. Mais me preocupam quais.

- Se fosse algo grave ele não estaria perto dela. Seu irmão pode ser mulherengo, mais burro nunca foi. Ele Sabe onde está se metendo, confia na intuição dele. Lembra quando todos eram contra nosso namoro? – Ele me fez lembrar do tempo em que começamos. Ele todo mauricinho, cheio de pré-conceitos em tudo e minha família logo se preocupou. Hoje não existe pessoa mais simples. É, eu tenho que confiar no meu irmão.

- Está bem, vou confiar neles. Você me convenceu! – falei me virando e o beijando.

- Ainda tem café nessa casa? – Enzo chegou abraçado com Sabrina, que estava com o rosto vermelho e inchado, parecia ter chorado bastante, e ambos sujos de lama nas roupas. Não quero nem imaginar o que andaram fazendo.

- Claro que sim. – Respondi sorrindo. – Está melhor Sabrina?

- Estou sim, obrigada.

- Podemos conversar a sós? – a ideia me veio agora, mas seria uma boa oportunidade, embora o olhar do meu irmão de "eu te mato" não fosse tão acolhedor a ela. Mais já que esta aqui, vamos nos comunicar melhor.

- Claro que sim. – Respondeu tensa.

- Claro que não, ainda nem comeu. – Enzo rebateu me olhando com cara feia.

- Eu como já já. Me deixa conversar com sua irmã.

- Acha conveniente? – Ele a olhou nos olhos. Tão fofo esse meu irmão nada fofo.

- Vai ficar tudo bem. – Ela o beijou e veio até mim, sob o olhar ainda escaldante dele.

A peguei pela mão a levando até meu quarto, sentamos na cama e fiquei me perguntando durante o caminho o que realmente queria falar com ela. Será que quero saber da vida dela? Seria uma forma de me tranquilizar? Acho que assim, seria apenas invasiva, então resolvi o que faria.

- Bom Sabrina, te chamei aqui por que quero que se sinta a vontade com qualquer coisa. Gostei de você de graça, e ver os olhinhos do meu irmão brilhando é uma coisa impagável. Não sei o que se passa na sua vida, e o por que dos medos que parece ter, mais quero que saiba que aqui em minas ganhou uma amiga incondicionalmente, que vou estar a favor dos dois seja pelo que for. Só quero a felicidade dele e se é ao seu lado, estamos juntas.

- Nossa! – ela deu um grande suspiro, creio de alívio. – Obrigada. Eu gosto muito do seu irmão também. Me desculpa se sai mais uma vez bruscamente da sua cozinha, fico até sem jeito por isso. Tem certas... coisas na minha vida que são difíceis de explicar, de contar, entende. Durante anos fui fechada e nunca cobrada nem pelos meus amigos a me abrir sobre certos assuntos. Agora me vejo encarando tudo tão de perto que sinto medo a cada acontecimento.

- Sabrina, não precisa me explicar nada se não quiser. Nem se justificar. Como meu avô, o pajé da tribo da minha mãe sempre diz: Cada um traz na alma cicatrizes que servem para aprender e crescer. " As suas parecem ser bem profundas, e essas são as mais difíceis de lidar. Mais também são as que mais nos dão prazer no futuro. Saiba que seu passado pode não ter sido bom, mas o que te espera no futuro com certeza é! – lavei minha alma. Não sei bem o por que estava falando essas coisas, talvez, o que me motivou a chama-la aqui foi muito além do meu entendimento, mas ambas ficamos muito mais leves naquele cômodo.

Sabrina Onde histórias criam vida. Descubra agora