Capítulo 12

141 7 3
                                    

Enquanto isso, na direção da moto...

Sobe logo! – Falei irritado. Por que Gabriela resolveu brincar com as palavras? Eu havia sido muito claro com ela quanto o sigilo. Tive que dizer que me fazia passar por outro pois alguém estava dando um golpe nas empresas do meu pai, o que não era de todo mentira, e com muito custo ela concordou em me ajudar. Mas depois, na frente dela, ficou fazendo gracinhas, dizendo meias palavras.

Calma, estou tentando não mostrar pra todo mundo o que tem debaixo do vestido! – Falou tentando arrumar um meio de puxar o vestido. A puxei, pelo braço, e ela se desequilibrou quase caindo de 4 sobre a moto. – O que há com você! – Gritou se levantando vermelha, seu vestido nem havia saído do lugar.

Parece que você não está com pressa! – E com ciúmes!

Eu só não quero que todo mundo veja minha bunda.

Nem eu! – Falei sem pensar! – Olha, apoia o pé no pedal e sobre com o capacete atrás, tapando. – Ela, toda desajeitada fez como eu falei. E novamente puxou o vestido aumentando o decote tentador. E mais uma vez lutei para não olhar para eles. Ela se segurou no apoio novamente, evitando encostar em mim.

Peguei a estrada, com a velocidade moderada por causa do seu medo, ela havia me dito onde era o hospital, e embora eu não o conhecesse, as placas me ajudavam a encontrar o caminho. Ainda estava tentando entender a crise que ela teve no hospital. A observava pelo retrovisor, enquanto ela, com os olhos assustados, apertava as mãos no apoio. Ela sugeriu que eu usasse camisinha, deve ter pensado que eu trocaria favores como aquele marginal havia dito que queria dela. Olhou Gabriela com despeito, a medindo, embora tenha parado o olhar naquele par de peito siliconados e exagerado. Passamos por uma blitz e por sorte não fomos parados, então ao saímos da linha vermelha, e entrarmos em uma rua, percebemos que havia algo de errado. Quanto mais conhecia os bairros do Rio de Janeiro mais entendia o significado da palavra adrenalina. A divisão entre milícia, e bandidos de diversas facções, que tentavam se dominar gerando uma guerra urbana atrapalhava diariamente a vida dos moradores de alguns bairros e a minha como entregador, como agora por exemplo. Ao menos como boy, passava despercebido, o que não aconteceria se estivesse com roupas de uso habitual e minha moto importada. Certamente seria alvo fácil deles. Na rua em questão haviam uns 5 homens com fuzil na mão, parando cada pessoa que passava. Eles nos abordaram, então reconheci um deles, era o tal bandido do morro. O cara que estava na frente, pediu que tirássemos o capacete e ao nos olhar aquele sujeito se aproximou.

Como esse mundo é pequeno, não? – Olhou para as pernas dela. – Libera eles. Mas vão rápido pois estão invadindo a comunidade!

Obrigado! – Falei, colocando o capacete. – Se segura em mim Sabrina! – falei ríspido.

Não precisa! – Ela disse, mas peguei suas mãos e coloquei em minha cintura. – Vou ir muito rápido, se segura e para de reclamar!

Você está muito estressado! – Falou reclamando, enquanto aquele cara ficava nos estudando.

Acelerei a moto, o pneu cantando, e voamos. Rapidamente as mãos dela me seguraram com firmeza, circulando toda minha cintura, e fechando os dedos. Eu tinha pressa, passar por tudo aquilo novamente, ainda por cima em cima da moto era muito perigoso. Corri entre becos até alcançar novamente a principal, o hospital já estava próximo. Para meu alivio!
Chegamos, e ela correu até o quarto. Fui atrás, e uma mulher loira de olhos verdes, magra, estava sentada ao lado da cama, e um homem ruivo, deitado em uma cama. Ela foi modesta em dizer em quais condições o pai dela estava internado. Se é que aquilo pode se chamar de condições. Era penoso ver quantas pessoas dividiam o mesmo cômodo sujo, as camas enferrujadas descascando a tinta bege barata que a cobria. Algumas pessoas com feridas expostas, outras apenas com problemas leves, tudo misturados. Ela estava certa, ele não poderia ter ficado nem um dia naquele lugar. A mulher me olhou me analisando, de cima a baixo, enquanto ela explicava tudo. Me deu um sorriso desconfiado, e se levantou. Pegou os documentos saindo. Acho que não foi com minha cara!

Sabrina Onde histórias criam vida. Descubra agora