Capítulo sem título 16

66 6 1
                                    

Ainda no mesmo corredor...

- Obrigado por me defender, mas não precisa. Ela não vai me perdoar nunca, muito menos aceitar minha ajuda. Não se complique com ela por minha causa, por favor. - Aquela mulher falou com uma tremenda amargura na voz. Certamente não era fácil para ela a rejeição dos filhos, e isso deixa duas possibilidades para o tratamento dela. Ou ela afunda de vez ou toma coragem para sair dessa. Sinceramente torço para a segunda opção, por isso falei.

- Não se preocupe, pois com ela eu me resolvo depois. A senhora estava certa no que disse. Estou a favor de ajudar como for, a todos, inclusive a você! – Ela me olhou desconfiada.

- Por que quer me ajudar? Não me conhece, e pela forma que age comigo, não sabe o que eu fiz para merecer esse tratamento.

- Eu te ajudo pois sei que assim estarei ajudando a ela. E realmente, eu não sei o que fez e não me importa. O passado das pessoas não pode mudar o futuro delas se elas não permitirem. E isso eu falo para a senhora. Não deixe o que fez mudar o que ainda pode fazer. Você está viva e seus filhos também. Então ainda há chance de mudar alguma coisa.

Saí andando a deixando com seus pensamentos. A única mentira era que conseguiria me entender com ela. Sei que travaria uma verdadeira guerra nos próximos segundos. Ela estava olhando o irmão sendo atendido por Ivan e mais alguém. Estavam de máscara e touca naquela sala. Deve ser para evitar algum tipo de infecção. Me aproximei colocando a mão sobre seu ombro. Ela a retirou na mesma hora, sem me virar os olhos. Isso ia dar trabalho.

- Não fica aborrecida comigo. Eu quero ajudar.

- Pois não precisa mais. - Fechou a cara.

- Sabrina para com isso. Eu não estou contra você! Vocês precisam estar juntos para ajudar o Sandro. Por mais que ele esteja errado, sei que não quer ele na cadeia. Vamos tentar ajudar ele.

- Eu não deveria mover uma palha. - Ela deu um passo para o lado quando tentei toca-la novamente. O olhar era um aviso de perigo que ignorei dando um passo até ela. - Não me toque. – Rosnou baixo entre os dentes. - Você não entende nada da minha vida, ou da minha família.

- Então me explica o que pode! Por que eu vi uma mulher sofrendo tentando ajudar o filho. E outra orgulhosa demais para ver que precisa de ajuda.

- NÃO DELA! - Gritou saindo a passadas largas. Fui atrás, ela seguia pelo corredor para a saída dos fundos do hospital. Consegui a alcançar antes que passasse pela porta. A segurando pelo braço a guiei até o lado de fora, para um lugar mais vazio a fim de evitar um escândalo publico.

- Para e me escuta. Não precisa ser assim! Vamos deixar as mágoas de lado para ajudar seus irmãos. Eles precisam disso!

- Não! Eles não precisam dela, nunca precisaram! Você não entende e nunca vai entender, pois tem tudo na vida, um belo apartamento, carro, dinheiro e certamente pais que ajudaram, apoiaram, amaram você, nunca precisou catar lixo na rua para que você e seus irmãos não morressem de fome. Nunca foi nos lixos das feiras quando criança catar restos podres para tentar aproveitar e ter o que comer, muito menos andou de bar em bar procurando seus pais, para traze-los para casa. Certamente nunca lhe faltou nada. Pôde ser uma criança feliz, brincando com seus amigos e seus brinquedos. Não, você nunca vai entender o que é ver seus pais se embriagando todos os dias, e esquecendo que tem filhos que precisavam deles. - As palavras dela me furaram o peito. Eu sentia a dor e o abandono em cada letra. Ela já foi muito ferida por eles, passou por muitas coisas, as quais nem posso imaginar.

- Não, eu não sei! - Respirei fundo contendo o enjoo crescente em meu estômago.

- Eu a odeio mais que tudo por tudo que meus irmãos passaram. Por não poderem ser crianças normais. Por não terem uma vida tranquila. Por não terem quem os levasse ao parque, quem cuidasse, quem desse amor. - As lágrimas desciam descontroladas de seus olhos enquanto socava meu peito tentando desabafar toda a angústia que estava presa. - Se isso está acontecendo a culpa é deles. Se meu irmão morrer naquela cama, se o Sandro for preso, eles são os únicos culpados! - Disse aos prantos e soluços agora presa em meu abraço.

Sabrina Onde histórias criam vida. Descubra agora