Enquanto isso...
Esse infeliz me tira do sério e eu fico cego. Achei que a porra do Clay tivesse voltado, mas quando ouvi o gemido dela e o grito da Fabi senti meu coração parar de bater. Jamais a machucaria, nunca levantaria a mão para ela por mais puto que estivesse. Quando senti em sua cabeça o galo se formando, senti muito mais.
- Está doendo muito? - Perguntei tentando ver se havia corte.
- Com você apertando sim!
- Estou apenas verificando se há cortes. - O doutor abuso foi socorrido por uns maqueiros, eu fiquei olhando o estrago. Um corte no supercílio, e outro no canto da boca, eram os únicos pontos visíveis. Certamente vai permanecer com dor no estômago. Aquele babaca implorou por isso. A falta de respeito dele dando em cima dela daquela forma e a resposta abusada. Acha que só por que é médico pode fazer o que quiser. Me controlei dentro do quarto em respeito ao Fernando, que se recupera da cirurgia, mas aqui fora posso descer o cacete.
- O que está acontecendo aqui? - Ivan chegou olhando o estrago em seu protegido.
- Ele pediu. - Clayton foi em minha defesa.
- Desculpa Ivan, mas ele passou dos limites, e ultrapassou minha paciência.
- E ela também? - Ele se agachou avaliando sua cabeça.
- Acho que não deveria ter tentado separar. Aí! - Ela falou gemendo enquanto ele avaliava.
- Não foi nada demais. Vai ficar dolorido mais é só.
- Doutor, o Enzo ainda foi paciente. Ele pegou pesado com as palavras mesmo depois de cortarmos ele. - Ele me olhou e depois para o mediquinho empuleirado no maqueiro sendo levado.
- Vou afastar ele dessa ala por precaução. Coloque gelo na cabeça, e pode tomar um analgésico. Qualquer sintoma a mais que esse pode voltar, mas pelo que examinei e onde foi à pancada não tem perigo. Vocês agora vão pra casa. Esse pequeno não precisa disso. A mãe dele já está vindo para ficar com ele.
A peguei no colo e ela me olhou com cara amarrada.
- Enzo leva ela pra casa e cuida dela.
- Não ia fazer diferente. - digo a Fabiana que parece preocupada.
- Eu posso ir andando. - Sabrina reclamou ao sair do quarto e chamou atenção das pessoas que saíram no corredor para ver o que acontecia.
- Mas não vai. Não vou deixar. Vai assim até a cama.
- Isso é exagero.
- Então serei exagerado.
Ela se despediu do irmão e seguiu em meu colo. A acomodei com cuidado no banco, prendendo seu cinto. Ela estava irritada com o excesso de cuidado, mas se não fosse pela minha falta dele ela não estaria assim.
Entrei, liguei o carro e fiquei olhando para frente tenso.
- Ei, eu estou bem. - falou acariciando minha perna.
- Não, não está e a culpa é minha. - Ela soltou o cinto e pulou para meu colo.
- Enzo não é sua culpa não. A culpa é minha e só minha. Eu sabia que iria reagir assim e não impedi. Me desculpa, estava tão chateada pelo que me fez que deixei que ele fosse abusado. Quando vi que estava passando dos limites e tentei cortar já era tarde. - Ela estava usando ele para é que eu ficasse com ciúmes. Ficou chateada comigo e agora se arrependeu. - Eu queria que sentisse raiva, que passasse pelo que passei, mas não queria que chegassem a isso.
- Ele passou de todos os limites e embora você tenha facilitado de certa forma, ele cometeu o erro.
- Me desculpa. A Fabi tentou me alertar que estava fazendo merda e que ia acabar mal, mas estava tão cega.
- Acho que abusei também. Eu vi que estava com raiva pela brincadeira e continuei. - A apertei em meus braços. - Estamos ainda aprendendo, e é com esses erros que vamos nos ajustando. - levantei com delicadeza seu rosto a fazendo me olhar. - Vamos fazer assim, não vamos mais provocar ciúmes um no outro. Já vimos que o resultado não é bom. - Ela fez que sim com a cabeça deitando em meu peito.
- Me desculpa, por favor.
- Só se você me desculpar também. - Fez que sim novamente.
Beijei seu rosto a colocando de volta na cadeira e prendendo seu cinto.
- Pode me deixar em casa, acho que vou dormir um pouco.
- Nem pensar. Depois é te jogar longe e fazer você bater a cabeça não pode dormir. E nem vá sonhando que vou ficar longe de você. Vai para meu apartamento e ficar sob minha observação.
- Enzo, eu tenho passado mais tempo em seu apartamento do que em minha própria casa. - Reclamou e minha vontade era de mandar que trouxesse logo tudo e ficasse de vez, mais ainda era cedo. Ainda ontem aceitou ser minha namorada, não posso apressar as coisas.
- Entendo isso, mas na sua casa você não vai poder descansar, e não vou poder cuidar de você como poderei no meu apartamento. Só mais hoje, só para eu me tranquilizar.
- Eu estou bem.
- Você está com um galo na cabeça por minha culpa, não está nada legal.
- Está bem senhor exagerado. Vou para seu apartamento só para que fique tranquilo, mas amanhã estarei na minha casa. Estamos combinado?
- Estamos. - falei sem vontade alguma de cumprir.
Chegamos no prédio, ela fez menção de descer, mas rapidamente sai alcançando a porta. A peguei no colo e como não poderia deixar de ser ela se queixou, mas subiu em meu colo. No apartamento, Odete nos recebeu com um sorriso que logo se desfez no primeiro "ai" dela.
A coloquei na cama, deixando a TV ligada e o controle em sua mão. Preparei a compressa de gelo sendo interrogada por Odete. Ela foi ao quarto pelo menos umas 4 vezes saber se ela queria algo, se estava bem ou com fome. Sabrina foi paparicada e depois de duas horas do ocorrido acabou pegando no sono enquanto assistíamos o noticiário. Me sentia culpado, e me perguntava como faria para que nunca mais isso ocorresse.
Me levantei da cama com muito cuidado para não a acordar e segui para o único lugar que poderia me acalmar. Estava nervoso, me sentia mal pelo que havia feito e nada que eu fizesse para que ela se sentisse bem não tirava de mim a culpa. Fechei a porta, arranquei a blusa a jogando para longe, me sentei na banqueta da percussão. Meus dedos tocaram o carrilhão de sinos enquanto absorvia seu som, virando com a outra mão o chocalho de águas. Um som do barulho de águas de uma cachoeira começou a tocar no fundo assim que apertei o controle ao meu lado, respirei fundo com os olhos fechados sentindo os sons que o chocalho e carrilhão faziam junto às cascatas e então peguei a flauta. Toquei uma suave melodia, que vinha da alma e me envolvia trazendo a paz que tanto precisava, ia retomando em mim o foco. Com os olhos fechados sentia a música brotar de minha alma.

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Sabrina
RomanceSabrina é uma menina problemática com uma família cheia de problemas e por essa motivo foge de romances... até agora