Capítulo 15

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Enquanto isso no corredor...

- Quem sabe depois disso tudo ele não tenha aprendido a lição? - Patrícia tentava diminuir minha mágoa em relação ao Sandro... sem sucesso.

- Difícil! Ele quase se mata e me leva junto, já era para ter acordado faz tempo. Ele não é mais uma criança. Essa vez ele passou de todos os limites.

- Sabe, eu achei muito legal da parte do Renato ficar do seu lado. – Fabi gostava dele ao contrário da Paty, que parecia estar sempre com o pé atrás.

- Pois é. Vou ter que ver um meio de pagar a ele. Ele quem está pagando o hospital e tenho medo até da conta, mas quando o médico do hospital público disse que ele precisava ser operado e não tinha médico nem estrutura para isso e falou que ele tinha que ter sorte não pensei duas vezes. Nem que eu trabalhe como garota de programa eu pago isso.

- Tá dramatizando amiga, você não vai precisar fazer nada disso. Vamos ver quanto fica no final. Ele certamente não esta preocupado com isso. – Para ela era fácil dizer, no final a conta seria minha!

- Os meninos estão voltando. - Fabi avisou e nos calamos na hora.

- Oi, sentiram minha falta? - Clay chegou falando, e olhei Renato ao seu lado. Ele estava tenso, parecia preocupado.

- O que houve Renato, aconteceu alguma coisa? - perguntei.

- Não, não houve nada. A propósito, autorizaram a entrada para ver seu irmão, é através do vidro, mas acho que você vai se sentir melhor.

- Claro! – Me levantei em um pulo. – É aonde?

- Vou te levar até lá! Como eu disse, não vai poder chegar perto dele.

- Eu só quero olhar para ele. - A angústia tomava minha voz, minha paz. Eu parecia viver um pesadelo desde a noite passada. Talvez se o visse ficaria mais tranquila.

Ele me acompanhou até a sala, minha mãe estava lá, encostada no vidro, mas quando me viu se afastou. Melhor assim.

Todos esperaram do lado de fora, Fabi aproveitou para conversar com o médico. Talvez fosse para me deixar mais a vontade. Cheguei naquele quarto, e lá estava ele, na cama do meio ente duas outras crianças. Uma imagem infeliz me veio à mente, eu o vi dentro de um caixão, coberto de flores, uma dor aguda me acertou o peito e logo tentei afastar a imagem da mente. Se algum dia eu precisasse enterrar qualquer um dos três certamente estaria sendo enterrada junto. Coloquei as mãos no vidro como se pudesse ultrapassa-lo e tocar seu rosto. Só a vaga imagem dele morto me perturbou.

- Você precisa ser forte meu pinginho! - Minha voz quase não saia, devido as lágrimas que estavam presas na minha garganta, mas como uma represa se rompe, a barreira em meus olhos se rompeu, e elas desceram desenfreadas. - Você precisa ser forte por nós dois. Eu não aguento ver você assim, tão quieto, tão calado. Quero sua bagunça de volta, seu sorriso, sua pirraça e sua malcriação, mas quero você bem. Você lutou para sobreviver tão bravamente quando nasceu, e lutou contra a fome e o abandono. Agora precisa lutar por mais essa. Eu não admito perder você! – Minha voz saía fina, e tão baixa que acho que somente eu ouvia. - Sabe que me peguei até conversando com Deus e eu nem acredito nele. Tudo para que você fique bem. Eu não quero nunca mais passar por isso, por que não sou forte o suficiente para aguentar. Volta meu pinguinho, volta para mim! Eu te amo mais que tudo, não faz isso comigo. - Os soluços tomaram meu peito enquanto minha testa encontrava o vidro gelado. Nunca senti tamanho vazio como ali. Minhas pernas fracas, meu corpo pesado e eu lutava para ficar de pé. Uma mão me segurou pela cintura, e eu nem precisei erguer a cabeça para saber quem era. Apertei seus braços em mim me virando para seu peito. Renato me abraçou forte enquanto chorava aos soluços.

Sabrina Onde histórias criam vida. Descubra agora