Capítulo 8

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Naquela mesma sala ...

Não dá pra entender essa menina, está correndo tanto atrás desse garoto sem graça e não quer nada com ele? Tudo isso só pra dar uns beijos? Eu podia jurar que ela estava apaixonada! O jeito meloso que estavam conversando ali fora agora, e até a forma educada com que se desculpou depois de esbarrar nele, - diferente de como foi comigo né, que xingou e faltou pouco bater! – o que ela quer afinal de contas. Essa menina é uma contradição, a cada instante eu descubro que ela é o completo oposto do que eu havia acabado de descobrir e me pego novamente estudando ela para no fim ver que não descobri nada sobre ela novamente. Eita, fiquei tonto!
Sentei na cadeira dos fundos observando ela atendendo e as veze ela esticava os olhos para a loja da frente. Um tempo depois Clayton se levantou vindo até mim.
 Fala ai, tudo tranquilo?
 Até demais. Não tem nada para eu fazer, está me dando tédio!
 Às vezes fica assim mesmo. Mais diz aí, tem planos para hoje? – Heim? Estou sendo chamado para sair por ele?
 Eu não sei eu...
 Clama cara, não estou dando em cima de você. – Ele riu – Hoje é aniversário de uma amiga e vamos sair, vamos a uma boate. Se quiser ir, é nessa aqui. – Me entregou um papel com o logo do lugar. – Vamos gostar da sua companhia, você está muito isolado aqui, talvez conhecendo melhor o pessoal você se solte mais.
 Ta ok, obrigado pelo convite, vou ver se dá.
 Se for por dinheiro, pode nos encontrar na porta, que você entra na boa.
 Não é que... – Fiquei sem jeito, claro que dinheiro não era problema, mas ele estava me chamando mesmo sabendo da rixa entre a Sabrina e eu. Talvez ache que assim ficaremos amigos. Não sei. Mas a verdade e que estou tentado em aceitar, vai ser bom conhecer melhor eles, como são fora do trabalho, embora como patrão não seja da minha conta o que façam fora da loja. – Bom, vamos nos falando pelo celular, me passa seu número que eu te ligo.
 Está ótimo! – Ele passou um papel já escrito, e saiu para almoçar.
Me peguei observando Sabrina novamente. Ela é educada quando quer, então por que logo comigo não foi? Não sei bem o por que, mais isso me deixa irritado.
Na hora da saída ainda estava na dúvida se iria ou não. Enquanto Fabiana fechava a loja, Clayton, e eu conversávamos e do lado oposto ela e Carla. Tenho que rir, ela estava tão irritada comigo que nem me olhava. Foi quando Henrique chegou.
 Oi! – Ela falou com aquele sorriso besta no rosto.
 Oi, boa noite! – Ele cumprimentou a todos.  – Conseguiu o endereço?
 Aqui está. – Ela entregou sem nenhum tipo de esperanças no rosto, mas sua feição desamparada não durou muito.
 Sério? Eu estava louco pra conhecer esse lugar. Nos vemos lá dentro mais tarde, pega meu número! – O rosto dela se iluminou, e então em um impulso me virei para o Clayton.
 Eu vou com você mais tarde, mas o problema é que não sei se poderei encontrar vocês na portaria, por que tenho um compromisso, mas vejo vocês lá dentro.
 Tranquilo. Só mandar a mensagem que falo onde estarei. – Ele falou com a mão sobre meu ombro e me perguntei o que eu estava fazendo. Todo mundo naquele lugar me conhece, quando me chamarem de Enzo, vai dar merda, mas eu tenho que ir.
Eram dez e meia da noite, e eu estava na portaria da boate, optei por uma roupa mais simples, como iria justificar todas aquelas roupas de marca com salário de boy? Ainda não estava convencido de estar fazendo o certo mas não conseguia tirar da cabeça que tinha que estar lá. Queria conhecer melhor essas pessoas, saber como são, afinal, preciso achar o erro daquela loja. Vestido com uma calça jeans, um sapatenis e uma regata branca, entrei rapidamente me esquivando da fila.
 Boa noite senhor Enzo. – O segurança me cumprimentou abrindo o cordão e me dando acesso na frente da fila que quase virava a rua. 
Fiquei observando as pessoas, quem conhecia? Metade do lugar claro, mas onde eles estavam? Circulei pelo lugar os encontrando entre o bar e a pista. Sabrina e uma menina que não conheço, e suponho que seja Patrícia dançavam na pista. Ela estava diferente da trombadinha favelada que esbarrei, e da profissional séria da loja. Também não parecia a menina concentrada com notebook da praça de alimentação. Era uma menina, até que simpática, e muito bem vestida em um vestido justo preto com algumas franjas, as curvas do quadril bem ressaltadas, mostrando a parte traseira avantajada. Nossa isso tudo mesmo? Naquelas calças nem parece ter esse corpo todo. Os seios não tão modestos acompanhavam o tamanho de trás, grandes, vistosos e empinados em um decote escandaloso. Ela dançava animada no ritmo acelerado da música.
 Olha quem está aqui, Enzo! – Ouvi a voz atrás de mim com a mão sobre meu ombro.
 Rafael? O que está fazendo aqui?
 Viemos comemorar. – Ele falou puxando Cecília para seu lado e mostrando o anel.
 Parabéns a vocês dois, e meus pêsames também
 Mas você, o que faz aqui vestido assim? – Cecília perguntou com o soriso besta tatuado na cara.
 Estou em missão secreta! – Apontei com a cabeça para o grupo a frente. Logo Rafa reconheceu.
 Saindo com o pessoal do trabalho?
 Tentando descobrir algumas coisas.
 Mas aqui todo mundo te conhece cara!
 Eu seu, por isso vim vestido assim. – Olhei novamente e reconheci aquele cara branquelo se aproximar dela. Com o mesmo sorriso besta que Cecília carregava no rosto ela o recebeu, dando um abraço, a mão dele quase pegou e sua bunda. Aff. Cara mais apressado!
 Então Enzo, qual delas você está pegando? – Cecília interrompeu meus pensamentos olhando na direção da Sabrina. - Pela sua cara parece ser aquela ali com o rapaz.
 Pela minha cara? – O que ela quis dizer? – Não estou pegando ninguém.
 Sei... – Ela falou observando Sabrina com os olhos semicerrados.
 Na boa Enzo, a favelada dá pro caldo! – Levou uma cotovelada da noiva sorrindo. – Meu amor, ninguém se compara a você. Mas por tudo o que ele falava, você tem que concordar que ela é bonita. 
 Realmente Enzo, pelo que você falava eu imaginava outra coisa!
 Não sei onde vocês veem beleza nela. Talvez os olhos, são assim meio puxadinhos, a cor mel, quase amarela, mas só.
 Enzo, não vejo o olho dela daqui, e naquele dia não sai do carro, então não faço ideia. – Cecília falou com a mão na cintura.
 É que ela tem os olhos quase amarelos, e sinceros sabe, às vezes brilham, como quando olha para aquele pateta ali ou quando está com raiva de mim. – Eu ri, realmente, quando estavam com raiva de mim brilhavam muito.
 Sei... – Me olhou um tanto séria. – E você reparou tudo isso? – Olhou para o Rafa que olhou para mim e de volta para ela.
 O que foi?
 Nada, vai lá, segue seu plano que vamos assistir de camarote! – Ele falou rindo, e não entendi bem de que.
Saí andando, que papo de maloco, e aquela cara que a Cecília fez. Segui em direção ao pessoal que já estava novamente reunido ao bar. Clayton fez um aceno de mão e o olhar de todos se voltou em minha direção.
 Ah não! – Pude ler seus lábios soltarem furiosos quando seu olhar veio em minha direção. Ela estava furiosa, de verdade. Com as mãos nas cadeiras, começou a bater o pé. O Henrique me olhou da cabeça aos pés, cheguei ao lado deles. – O que você está fazendo aqui?
 O Clayton me chamou. – Agora todos os olhares foram para ele.
 Ele precisava se enturmar! – Deu de ombros.
 Me desculpem, não sabia que causaria esse constrangimento todo eu vou...
 Não que isso! – Fabiana falou sem graça. – É só que não sabíamos, fomos pegos de surpresa. Fica por favor. Essa é Patrícia. A aniversariante do dia.
 Parabéns! – Falei dando um abraço nela, que ao se afastar me analisou da cabeça aos pés voltando os olhos para Sabrina com um sorriso de canto de boca.
 Obrigado. Então você é o tão falado Renato.
 Sou? – Olhei para ela que ficou sem graça.
 Amo essa música, vamos dançar Henrique? – Ela o puxou para pista fugindo de mim.
E assim ela passou boa parte da noite. Dançou, com as amigas, mas o rapaz parecia tão travado quanto ela, e nada fazia. Ela estava visivelmente frustrada. Será que ele ficou assim por que eu cheguei? Pois quando chegou estava cheio de mãos e agora, nada. Resolvi dar uma volta, afinal, eu já havia atrapalhado ela demais. Fui ao encontro do Rafa e da Cecília.
 O que houve, não está se divertindo? – Rafa me perguntou olhando ainda o grupo.
 Acho que atrasei o rolo deles dois, só sai para ver se aquele cara toma alguma atitude. Acho que ele não consegue comigo perto.
 Eita! – Ele falou quase engasgando. – Por que isso?
 Ah, eu aprontei algumas, só por vingança.
 Que horrível Enzo, você fez alguma coisa com ele do lado? – Cecília criticou.
 Pois é. Na hora foi divertido, bem, ainda é!
 Vou pegar alguma coisa pra beber mais forte, acho que preciso agora! – Rafa falou saindo.
 Se não quer a garota, deixa ela quieta, isso não se faz! – Ela falou um pouco mais baixo se aproximando do meu ouvido para ninguém ouvir.
 Não quero mesmo! Eu só quis devolver as gentilezas. Ela também soube dar o troco.
 E se eu não estiver enganada você devolveu.
 Isso mesmo! – Sussurrei e seu ouvido e ela riu, vindo novamente em meu ouvido.
 Você não sabe na enroscada em que está se metendo. Depois não vai conseguir mais sair.
 Que
 Boa noite! – Sabrina chegou, me olhando, depois para a Cecília que a olhou curiosa mais de perto.
 Boa noite! Ela respondeu.
 Boaaaa! – Falei achando graça, sem saber o que ela aprontava. – Largou o pé de valsa?
 Mulheres tem necessidades a fazer.
 Que bonitinho, ela tem modos para falar! – Disse com ela ficando vermelha de raiva, seus olhos brilharam.
 Meu nome é Sabrina. – Ela apertou a mão de Cecília, e não tive uma sensação boa naquilo.
 Cecília.
 Lindo nome, escute. – Chegou perto do ouvido dela, e vi uma Cecília ficar vermelha, quase roxa, e soltar uma gargalhada como nunca antes. Ela me olhou de cima abaixo, sem graça parando bem na minha braguilha e voltando para meu rosto. – Se me derem licença, preciso ir ao Toalete. – E saiu.
 O que ela falou?
 Ah não, não vou dizer mesmo! Mas pode-se dizer que se isso foi um troco, você deve ter feito uma merda muito grande. Olha, se não fosse eu, que já tenho uma péssima visão de você, você estaria encrencado. – Olhou novamente para a minha braguilha. – Só posso garantir que nunca imaginei que você tivesse algo atrofiado e colocasse meias para disfarçar!
 O que? – Falei puto. Ela não ousou!
 Voltei... – Rafa olhou para mim, depois para ela que ria sem parar – O que foi?
 Nada amor! – Ela o beijou. Saí antes que eu fosse mais envergonhado.

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