Capítulo 23

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No quarto...

Estava sozinha naquela cama, sentia um vazio, como se uma parte de mim faltasse. Bendito analgésico que tomei, a dor em minha cabeça diminuiu para quase inexistentes.

Fui até a sala, mas não havia ninguém. Na cozinha Odete preparava o jantar com um fone no ouvido dançando sozinha, os cabelos presos em um coque, uma calça legging e uma blusa branca de mangas escrito "eu amo salvador". Não lembrava em nada a pessoa que me recebeu ontem. Sorri comigo mesma e continuei a procura, entrei no escritório e até no banheiro, mas foi parando em frente ao quarto de hóspedes que ouvi muito baixo o som de uma flauta. Parei na porta ouvindo aquele som tão gostoso, não ia entrar, ele deixou claro que não tocava para ninguém, mas aquela música me hipnotizava. Permaneci ali parada, estava segura enquanto a porta estivesse fechada, ouvindo o som tão suave que jamais imaginei sair de um homem como ele. Quando se olha um homem assim, com tantos músculos, um jeito bruto até mesmo um tanto grosso, (ele foi muito grosso quando nos conhecemos), não se imagina uma tanta sensibilidade.

Encostei a cabeça na porta para ouvir melhor todo o som que havia, e a porta se abriu. Tomei um susto quando quase perdi o equilíbrio me apoiando na parede com as duas mãos. A porta se abriu apenas o suficiente para vê-lo sentado à banqueta sem camisa, pernas cruzadas e a flauta em seus lábios. Ele estava com os olhos fechados, o movimento de seus dedos eram hábeis demais para um amador, o som de água caindo como de uma cachoeira tomava todo o ambiente, e às vezes ele com uma das mãos mexia em um monte de tubinhos de metal que faziam sons de vários sininhos. A visão dele entregue a música e a música em si me prendiam, me faziam ser telespectadora mesmo sabendo que não poderia estar ali. Ele não gostava de tocar para ninguém, era um momento dele, mas algo tão fascinante que não conseguia me desprender. De repente algo tocou minhas costas, dei um pulo quase caindo novamente e tapando minha boca para abafar meu grito. Meu coração parecia uma escola de samba, batendo acelerado e forte.

- Calma dona Sabrina, sou só eu. - Odete falou passando as mãos em minhas costas. Puxei a porta de volta com cuidado para não fazer barulho.

- Me chama só de Sabrina por favor. Esse negócio de dona não combina comigo. Aí meu coração. - me apoiei com uma mão na parede enquanto a outra segurava meu coração que parecia querer sair do peito. - Por favor Odete, não conta a ele que estava aqui. Eu o estava procurando quando ouvi a música e acabei me deixando levar pela melodia. Sei que ele não gosta que o vejam.

- Está tudo bem, não vou te dedurar. Eu também fico às vezes ouvindo atrás da porta, ele toca tão bem que não dá pra resistir. Fica sendo nosso segredo.

- Eu não sabia que ele tocava assim, tão bem.

- Ele toca muitas coisas. Mas não é sempre, só quando está nervoso ou triste.

- Ou seja, ele está ainda bravo comigo. - Falei pensativa lembrando como ficou com o que fiz com Benjamin.

- Não acredito, ele estava muito preocupado com a senhora, apavorado na realidade.

- Você, por favor Odete.

Caminhamos para a sala e em minha mente um monte de interrogações começaram a se formar. Eu sempre agia por impulso e ele sempre era compreensivo, mas certamente isso não deve ser muito fácil pra ele. Eu queria fazer algo especial, algo que ele não fosse esquecer fácil e a idéia da Fabi era ótima, mas o que complicava era, o onde vou comprar tudo o que preciso neste bairro? Não conheço nada aqui e duvido que Enzo ficará feliz se eu sair depois de tudo o que aconteceu. Mas e se fosse perto? Poderia comprar e voltar e ele que está tão entretido tocando poderia nem perceber. Isso é uma ótima idéia.

Sabrina Onde histórias criam vida. Descubra agora