Capítulo 20

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*** Rychard ***

Saímos de uma forma sorrateira até minha moto, para ninguém conhecido ver o que iríamos aprontar.
Entreguei um capacete para ela e a ajudei a colocar, eu estava empolgado para passar um tempo com a Anne, eu gostava de estar junto dela.
Sorrimos um para o outro quando nossos olhos se cruzaram e eu subi na moto. Logo depois ela fez o mesmo, aos poucos se encostou em mim e colocou as mãos e braços em volta da minha cintura.
- Hum... Mãozinhas espertas, deixo você se aproveitar da situação...- Falei sorrindo.
- Desisto! Não vou mais, não!- Falou ela fazendo como se fosse sair da moto.
- Fica aí, doida!- Eu disse rindo - Estou brincando. Podemos ir?
Ela riu e concordou com a cabeça.
Dei partida e saímos do campus, virei a direita e acelerei mais, logo entrando em uma avenida. Eu adorava a sensação que me dava conforme acelerava, a rapidez, ver tudo ficando para trás, sentir o vento forte batendo no rosto, a liberdade de poder ir a qualquer lugar... Olhei pelo retrovisor e vi Anne sorrindo enquanto encostava a cabeça no meu ombro, seus cabelos pareciam ter vida, com os fios ruivos e loiros esvoaçantes e dançando ao vento. Nossos olhos se cruzaram pelo retrovisor e senti meu coração acelerar um pouco, era como se nós dois estivéssemos compartilhando do mesmo sentimento, da mesma paixão pela liberdade. Olhamos juntos para o lado e vimos ao longe a cidade, ao longe os grandes prédios de diversas formas e tamanhos, com o céu azul atrás e as nuvens com reflexos alaranjados e amarelos do Sol. Eu adorava me perder em visões como aquela.
- Eu adoro admirar paisagens assim...- Falou ela, parecendo ler minha mente, mas na verdade ela simplesmente pensava como eu.
Tentei segurar um sorriso involuntário, mas não deu. Me voltei para a frente ainda mantendo ele em meu rosto.
Fomos até o centro da cidade, andamos por entre as ruas movimentadas e pouco tempo depois estávamos em um lugar lotado de pessoas, uma praça usada como ponto de encontro entre jovens para rolar os mais diversos eventos culturais e musicais. Lá tinha de tudo, percebi que ela tinha a mesma mania que eu de parar para ver coisas que mais ninguém parava. Lá era mais colorido que parada gay e o povo se fantasiava de tudo quanto era jeito, ficamos experimentando chapéus e óculos estranhos, jogamos alguns jogos de acertar o alvo, tomamos um milkshake e ficamos observando as pessoas a nossa volta, uma mais escandalosa que a outra com roupas coloridonas e acessórios exagerados, então decidimos nos misturar! Anne comprou uma daquelas camisetas que tinha a silhueta do corpo de uma mulher de biquíni e eu uma saia havaiana e um óculos duas vezes maior que meu rosto.
Olhei para ela de cima a baixo.
- O quê?- Perguntou ela corando.
- Está todo mundo olhando para você...
- É por causa da camiseta! Esse povo é muito safado.- Se defendeu ela se escondendo atrás do seu algodão doce.
- É uma camiseta que atiça a mente!
Ela me deu um tapa e eu dei risada.
- Pois pode dizer para a sua mente ficar fora desse atiçamento!
- Que isso, eu sou santo demais para pensar em coisas desse tipo!
- Sei, você também está arrasando corações, loirinho do hula!- Informou ela rindo.
- Vai dizer que eu dançando com isso aqui não fico sexy?- Falei isso e já comecei a rebolar e dançar o hula para ela no meio da multidão, que gargalhou até umas horas com aquele jeitinho dela que me fazia rir mais ainda.
Depois que comemos algumas besteiras e curtimos bastante, fomos até a outra parte onde eu tinha deixado minha moto e guardamos nossas roupas novas na bolsa, já estava quase entardecendo e tínhamos que nos preparar para outra coisa. Compramos duas camisas pretas com a estampa do Firewalkers, banda que iria fazer um show ali perto.
- Eu não acredito! Eles estão aqui mesmo?- Perguntou Anne sorrindo surpresa.
- Estão! Conhece eles?- Também estava surpreso.
- Desde quando começaram! Adoro as músicas dessa banda!
- Uau, tem bom gosto para música! Não sabia disso.
- Já falei que você ainda não sabe quase nada sobre mim.
Isso era verdade, então começamos a conversar sobre tudo um pouco, perguntava coisas que eu realmente tinha uma curiosidade genuína de saber sobre ela e Anne fazia o mesmo.
Vi ela olhando para alguns acessórios, eram pulseiras personalizadas dos Firewalkers e decidi dar para a Anne de presente também. Compramos duas pulseiras iguais e tiramos várias fotos mostrando elas e fazendo zoeira.
O show tinha acabado de começar e a multidão foi toda para lá.
- Como vamos entrar sem ingresso?- Perguntou Anne.
Nos aproximamos mais e o segurança olhou para nós.
- Hey! Vejamos quem está por aqui hoje!- Falou ele se aproximando de mim e me cumprimentando com um toque de mãos animado.
- Fala, mano! Fiquei sabendo que os garotos iam tocar, então não podia perder!... Tem como colocar a gente lá dentro?
- Só vou abrir exceção por causa dessa linda jovem!- Falou ele sorrindo para a Anne que também sorriu de volta.
- Pô! Está me trocando? Vou ficar com ciúmes!- Falei encarando ele e brincando.
Deu risada e falou:
- Estou brincando, podem entrar! Os garotos queriam ver você depois.
- Beleza!
E entramos, todo mundo já estava agitado.
- Você conhece pessoalmente os Firewalkers, Ryan?- Anne perguntou no meu ouvido por causa dos gritos estéricos.
- Somos parças!- Falei também no ouvido dela.
- Ah, tá bom!
- É sério! Também tem muita coisa sobre mim que você não sabe, senhorita Anne.
Tipo muita coisa mesmo! Talvez começando pelo meu verdadeiro nome.
E eles começaram a tocar uma nova música, fomos até o meio para ver e escutar melhor e ficamos curtindo, jogando a mão e os braços para cima animados, em sincronia com os toques fortes, cantando junto deles achando que estávamos arrasando mas nem se importando se a letra estava certa ou se estávamos desafinados. Pulavamos e dançavamos com aquela energia gostosa, que aparecia de novo. Sempre foi assim, era uma música começar a tocar que uma energia muito boa de se sentir tomava conta de mim por completo.
Teve um momento que Anne simplesmente se aproximou de mim e segurou minha mão enquanto curtia bem empolgada. Olhei para nossas mãos juntas e senti algo diferente, foi como se aquela energia dobrasse dentro de mim, meu coração também batia forte em sincronia com a música. Sentir o calor e a energia que Anne também estava sentindo ao se entregar aquela liberdade fazia tudo ter ainda mais intensidade... E foi daquela maneira que curtimos durante horas, de mãos dadas, dançando, cantando, indo a loucura.
- Eu realmente adoro estar aqui em baixo, ser a parte do público que vibra com cada toque... - Falei no ouvido da Anne - Mas se tem uma coisa que eu amo é estar lá em cima do palco.
- Como assim? Você toca?
- Na verdade, toco e canto!
- Está brincando?- Perguntou surpresa.
- Não, estou falando sério! Quem sabe qualquer dia desses eu não te mostro.
E pisquei para ela que sorriu para mim.
O show foi incrivelmente ótimo! Depois que acabou levei a Anne para conhecer os integrantes da banda Firewalkers e tiramos muitas fotos, eu só tive que tomar cuidado para eles não falarem meu verdadeiro nome.
Ela estava radiante ao meu lado, com uma alegria genuína.
- Eu finalmente consegui um autógrafo deles e ainda várias fotos! Hillary vai pirar quando souber. Ela é super fã desses caras!- Disse Anne olhando as fotos do seu celular. Tínhamos ido para outro lugar de moto e agora estávamos andando e subindo.
Ajudei ela a subir em uma pedra e só agora Anne desfocou das fotos e se lembrou de perguntar:
- Onde está me levando?
- Para a última parada da lista...
Subimos mais um pouco no morro e paramos no topo. Anne parou e ficou observando tudo ao seu redor.
- Bem vinda ao meu lugar preferido... É aqui que venho quando quero simplesmente me afastar de tudo e curtir minha liberdade.- Falei olhando para o longe, estávamos no topo de um morro onde nunca vinha ninguém, que achei por acaso com alguns amigos uma vez, mas que acabei vindo direto depois de descobrir. De lá conseguia ver uma boa parte da cidade, prédios, casas, avenidas, tudo parecia menor dali. Gostava de pensar que eu estava acima de qualquer coisa que me deixava mal, "para baixo". E o topo daquele lugar me ajudava a afirmar aquilo.
- É lindo...- Falou ela observando tudo detalhadamente, com os pensamentos longes dali, aproveitando o momento e vendo agora o por do Sol que formava sombras nos prédios e deixava o céu em tons bonitos de vermelho, laranja e azul. Aquilo trazia tanta leveza...
Nos sentamos na grama mesmo e ficamos assistindo o por do Sol juntos e em silêncio, aquela imagem era tão intensa que já falava por nós. Quando ele se pôs, me deitei e fiquei olhando o céu escurecer e algumas estrelas aparecerem no céu azul.
Anne se deitou ao meu lado, ela trazia consigo um sorriso no rosto.
- Eu juro que não estava esperando que hoje fosse tão bom... No máximo achei que iria me levar para algum lugar para maiores de 18 anos.
- Para um motel? Ainda dá tempo!- Falei brincando e ela me deu um cutucão rindo.
Pensei um pouco e falei enquanto nós dois olhavamos para o céu, deitados:
- Eu nunca tinha trazido uma garota para assistir os Firewalkers...
Ela sorriu e falou:
- Eu nunca cabulei na faculdade para ter um dia de aventuras com um garoto psicopata...
Dei risada, me virei mais para ela e continuei:
- Nunca mostrei meu lugar secreto para ninguém...
Ela pareceu surpresa com aquilo.
- Nunca tinha assistido um pôr do Sol tão bonito com alguém...- Ela se virou para mim e se aproximou mais.
Pensei um pouco e falei:
- Ele nunca tinha sido tão bonito quanto hoje... Acho que foi porque eu estava com você.
Os olhos da Anne pareceram brilhar naquele momento, um brilho inocente, bonito, ficar olhando para seus belos olhos azuis me pareceu melhor do que admirar as estrelas do céu. Era como se perder em um céu totalmente novo.
E estávamos fazendo isso, nos perdendo no azul do olhar um do outro, vendo nossos reflexos e um milhão de coisas a mais. Era como ver além.
Estávamos tão próximos... Conseguia sentir o calor da sua respiração, meu peito estremecer com as batidas do meu coração... Não sei o que está acontecendo com ele hoje.
Anne apenas sorriu para mim e eu olhei para a sua boca. Eu nem sei o quanto queria beijar ela, mas ao mesmo tempo que eu queria muito fazer isso... Também não queria estragar esse momento que estávamos tendo. Não queria que ficasse como se eu só tivesse feito tudo o que fiz para conseguir meu objetivo.
Eu não fiz aquilo pelo meu objetivo? Então por qual motivo estou fazendo tudo isso?
Gostei de pensar que eu poderia encontrar a resposta dentro do seu olhar, então permiti me perder mais um pouco por lá, eu não sabia quando iria acabar aquele momento ou se um dia poderia sentir aquilo que estava sentindo de novo...
Então queria simplesmente aproveitar o agora, o meu presente com a Anne.

Eu e a Bárbara queremos muito agradecer o 1k de visualizações!
👏👏🎉
O livro está crescendo rápido e isso graças a vocês! Muito obrigada, lindas...❤😍
(Nos perdoe pelo atraso dos capítulos, tivemos que resolver algumas coisinhas e acabou que não conseguimos postar, espero que vocês possam compreender. 😉)
Beijos, espero que continuem gostando!💋

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