Capítulo 62

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Eu estava sozinho no apartamento, Chris tinha saído para ver seu sobrinho que finalmente havia nascido. Pelo menos com a família, Chris iria poder desestressar um pouco, estava com a cabeça muito cheia por causa da Julie.
Já eu estava o oposto de desestressado, me encontrava sentado no sofá e relendo pela terceira vez a carta que tinha chegado da faculdade.

"Prezado Aluno,

Com base nos últimos acontecimentos e descobertas, a direção da UNIMAD está analisando o caso em que supostamente teria ocorrido o delito de falsidade ideológica. Como duas pessoas estavam frequentando o campus e realizando as atividades da faculdade, tendo apenas uma delas como universitário oficial, a sua vaga está sendo averiguada pelo conselho. No final das análises, sua vaga poderá ser suspensa ou cancelada(expulsão), podendo também se for provado o delito, responder a um processo criminal.

Agradecemos pela atenção.

Diretora McKellen"

Me encostei no sofá todo aflito e sem saber o que pensar. Eu estava perdendo tudo...
Agora além de ser expulso da faculdade, vou começar minha vida adulta respondendo a um crime?! É nessa hora que você se arrepende, que fica morrendo de medo de tudo o que fez e que não sabe como escapar, pois está se afogando em problemas.
Eu realmemte não sabia o que fazer... Estava perdido.
Rychard chegou no apartamento, me viu lá no sofá mas não questionou minha cara de preocupação, da mesma forma que eu não questionei a dele de tristeza.
Foi para a cozinha e voltou com uma garrafa de wiski na mão.
- Quer?- Perguntou ele se servindo.
Olhei para cima.
- Beber não vai resolver nossos problemas, Rychard...
- Não estou nem aí para os nossos problemas, que se dane tudo...
Olhei para ele nervoso, o jeito irritante do Rychard de não ligar para nada me fez ficar ainda mais indignado, já que eu estava quase tendo um treco de aflição ali.
- Não se importa? Percebe o que está dizendo?- Falei o encarando.
- Estou dizendo a verdade, mas aparentemente isso é errado já que eu sou um mentiroso.- Falou bebendo.
- Seu sarcasmo não vai ajudar em nada! Sabia que quando você age assim eu realmente paro para pensar se devia mesmo ter te ajudado e arruinado tudo por sua causa? Olhe bem, perdi o respeito dos nossos pais, todos me veem como um mentiroso, posso ser expulso da faculdade e ainda responder a um crime, porque o que fizemos passou tanto do limite, que virou um crime, Rychard!
- Faz um tempinho que não dou uma voltinha no carro da polícia!- Falou ele parecendo surpreso.
- Para mim já chega! Eu estou cheio de você e das suas brincadeiras! Se eu pudesse nunca teria aceitado entrar nessa loucura com você! Maldita hora que fui nascer como seu irmão!- Falei explodindo e me levantando.
- Imagino o quanto você deve odiar isso! Quer achar uma máquina do tempo, então? Eu te ajudo! Vai e me obrigue a ir para os Estados Unidos, talvez eu devesse ter feito essa merda mesmo. Porque eu admito, errei! Errei em ter feito tudo isso, em ter mentido e manipulado você! Também em ter perdido o restinho da confiança que nossos pais me deram e errei mais ainda com a única garota por quem eu cheguei a me apaixonar!- Rychard também explodiu batendo o copo na mesa, por um momento achei que iria quebrar- Mas quer saber o porquê de eu estar de boa? Errar é o que eu faço de melhor! Na verdade é a única coisa que eu sei fazer, então já era lógico o final dessa história!
Rychard pegou a garrafa e bebeu direto dela.
- Quer saber também o que é irônico? Ah, de ironia eu entendo bem...- Falou ele rindo- Mesmo tudo dizendo que eu só faço merda, eu vivo ainda tentando fazer o contrário, sabe? As pessoas não tem como saber, mas eu me esforço muito para tentar ser bom. O problema é que o resultado nunca muda e não vai mudar, eu sempre vou estragar as coisas!
Ele deu de ombros e continuou bebendo, percebi que ele não estava nada bem.
- Ryck...
- E não é de hoje isso, não... Já que é para dizer a verdade, eu vou dizer! Acho que as coisas são assim desde que me conheço por gente! Sim, porque eu sempre via você, conseguindo trazer orgulho e alegrar as pessoas simplesmente por ser como você era. E nisso eu tentava ser como você, Ryan! Admito isso também, eu tenho inveja de você! Porque você sendo o meu oposto, conseguia tudo o que eu mais queria e era impossível ser! Sempre me senti horrível por isso, mas quanto mais eu tantava ser bom, mais eu era o oposto disso. Mais eu me tornava o Rychard!
Ele batia no peito e despejava tudo isso ao me encarar, como se estivesse colocando toda a verdade que por muito tempo omitiu para fora.
- Depois de um tempo eu percebi que eu realmente era bom em ser errado! Tanto que comecei a não levar nada a sério, nem escola, nem garotas, nem responsabilidades... Se todas as vezes que eu levava, me machucava, por que continuar insistindo, não é mesmo? Então que se dane tudo... Eu não me importo em ser assim. Não me importo em ter perdido tudo! Não me importo em nunca ter orgulhado nossos pais! Não me importo em ter perdido os primeiros amigos verdadeiros que eu tive... E também não me importo nada em ter magoado a única garota com quem eu sonhei ter um futuro! Muito menos chego a ligar para o fato de eu querer ser como você e não conseguir, Ryan! Não me importo! Porque eu sou o Rychard!- Gritou ele no final e acabou deixando duas lágrimas caírem de nervoso.
Eu olhava para meu irmão sem saber o que dizer ou o que fazer, não me lembrava da última vez que tinha visto ele chorar e agora via ele na minha frente chorando de raiva, mas raiva de si mesmo.
Na verdade, Rychard ainda estava mentindo. Conseguia ver em seus olhos que não era verdade quando ele dizia que não se importava, era o total oposto. Significava que mais do que nunca Ryck se importava.
- Ryck... Eu...- Não sabia como reagir a tudo aquilo.
Ele me pareceu ir voltando ao normal depois de ter tirado aquilo de dentro de si e ficou sem jeito por ter falado aquelas coisas e chorado na minha frente. Me olhou uma última vez e saiu do apartamento, apressado.
- Rychard! Espera!- Falei da porta, mas ele já tinha ido antes de eu tentar impedi-lo.
Depois de tudo aquilo eu precisava de ajuda, de alguém que me entendesse e que me ajudasse a passar por tudo. Então fui até a casa de Thomas, que me recepcionou me olhando sentido por saber que eu estava mal, me puxou para um abraço e deixei eu me perder ali entre seus braços. Eu estava tão assustado com tudo, as coisas nunca tinham saido do controle como daquela vez... Mas saber que ele estava ali comigo me dava força para continuar.

Entre Segredos e MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora