Capítulo 47

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Já sentiu medo?
Sabe como é a sensação de temer estar indo pelo caminho errado, se agir por impulso?
Eu estava assim, queria tanto contar quem eu era para o Esk, mas ao mesmo tempo tinha muito receio de tudo o que tínhamos acabar no momento em que eu abrisse a minha boca, tudo o que já revelei sobre mim deixaria de ser segredo. E também tinha o grande porém dele não querer revelar nada sobre si mesmo. Do que adiantaria eu contar sobre mim, sem nunca saber sobre ele?
Talvez eu nem precise contar já que ele estava tendo suspeitas...
Todos nós estávamos indo para a faculdade. Ryck voltou a ficar radiante de novo com a nova loucura que estava bolando.

"Temos 99,999% de chance dos caras não gostarem nadinha de nós, de estarmos perdendo nosso tempo precioso ensaiando e gastando horas cruciais em algo mais útil do que uma coisa que pode arruinar totalmente nossos sonhos mais profundos, mas nós nunca esquecemos daquele 0,001% que pode mudar nossas vidas. Eu vou ser cantor, gente!"

Foi dessa maneira, bem empolgado que Ryck deu a notícia de que ele, Anne e cia estavam querendo seguir pelo ramo musical de vez, que eles gostaram da lavagem cerebral que ele fez e agora todos estavam dispostos a fazer sacrifícios em nome da paixão pela música. E pela primeira vez, estava torcendo muito, mas muito mesmo para que essa loucura do meu irmão dar certo. Só quem consegue ver a alegria com que eles se entregam a isso para entender o porquê.
Estavamos eu, Chris e ele saindo do carro. Peguei minha mochila e livros e falei, me lembrando:
- Ryck, posso trocar de lugar com você hoje e passar o intervalo com o seu pessoal?
- Como assim? Para que?
- Queria ver o Thomas, aproveitar e conversar um pouco com ele sobre um livro que me deu.- Falei sorrindo.
Ryck olhou para mim e fez uma careta.
- O que? Não brinca que você está estragando um dos meus melhores amigos? Sem ofença Chrisão, você ainda é meu bff.- Falou ele e Chris deu risada fechando a porta do carro.
- Não estou estragando, ok? Ele também pode ser meu amigo, temos muitos gostos em comum!
Ele revirou os olhos.
- Ok... Mas eu quero ele de volta inteirinho, sem a mentalidade abalada com suas abóbrinhas românticas, tá? Se eu quisesse saber de livro, estaria indo para a biblioteca!
- Tabom, seu chato!
Assim as aulas se passaram e logo chegou o intervalo. Fiquei o tempo todo convesando com o Thomas sobre o livro e falando minhas teorias loucas, o engraçado era que ele também tinha as deles e em algumas até concordávamos.
- Tirando tudo, eu não imaginava que os dois fariam tudo aquilo só para ficarem juntos!- Comentei.
- Ah, é como o título diz... O amor te faz delirar e fazer loucuras! Não faria isso pela Anne?
Olhei para ele surpreso e tentei dizer:
- Ah... Sim, claro!
Thomas olhou para mim e arqueou a sobrancelha de leve, talvez o meu tom não tenha sido do mais verdadeiro, já que me esqueci de que estava fazendo o papel do Ryck.
- E você, já fez alguma loucura do tipo?- Perguntei para quebrar o gelo e tirar a atenção de mim.
- Não, quem me dera...- Falou ele rindo.
- Ah, mas faria por sua namorada, né?
Ele me olhou por um momento depois se virou para frente, olhando para o longe.
- Com certeza.
Falou, mas não tinha tanta empolgação na voz. Todas as vezes que vi ele falando da namorada dele não me pareceu perdidamente apaixonado, mas talvez só fosse impressão minha.
Virei um pouco a cabeça de lado e observei ele, pensando nisso. Mas Thomas sorriu e começou a falar empolgado sobre seus filmes preferidos.
Ainda mantive meus olhos nele, sorrindo e escutando seus comentários cheios de entusiasmo. Só naquele momento pude perceber com mais atenção o que eu já havia descoberto desde o dia em que o conheci, Thomas tinha uma beleza e tanto... Ele tinha seu rosto magro, com formato angular e bem desenhado, seus traços eram fortes e ao mesmo tempo leves, mas seus olhos eram os mais marcantes, cílios um pouco longos e olhos negros, bem intensos, que combinavam com os fios pretos de seus cabelos, que eram bagunçados e arrepiados, as vezes tinham um chapéu ou boné para dar um toque a mais no seu visual, que também costumava sempre ter cores fortes combinando. Sorri e concordei com o que dizia, então disfarçadamente olhei para sua boca, Thomas tinha lábios finos, mas perfeitamente desenhados... Acho que seu sorriso era uma das melhores partes, desconcertava qualquer um... Eu, principalmente.
- Ryan?- Ele me chamou e eu percebi que não estava sendo exatamente tão discreto.
- Oi! O que?- Falei rápido.
- Te perguntei o nome do seu filme preferido.- Informou ele me olhando confuso.
- Ah, sim... É o...- Fui falando meio envergonhado e sentindo meu rosto corar pelo que estava fazendo. Que horror! O que deu em mim para ficar secando ele desse jeito? Ficar fantasiando de novo com hétero, que ainda por cima tinha namorada, passava longe dos meus planos! Aí já seria demais!
Algumas garotas se aproximaram de nós, a loirinha já veio toda cheia de amores para cima dele.
- Oi, Thomy!
- Oi.
- Faz um tempinho que a gente não conversa!
- Faz, é?
- Sim, bobinho! E a sua namorada, como está?
- Ótima, como sempre!- Falou sorrindo.
- Hum, não sei como você consegue namorar a distância!- Comentou ela rindo e tocando no braço dele.
- É algo fácil quando se gosta da pessoa de verdade, a distância não é problema.- Ele recuou um pouco.
- Sei... Acho que eu ficaria carente no seu lugar.- Falou a garota sorrindo e jogando um charme.- Mas eu estou com saudade de conversar com você. Me liga qualquer dia desses ou aparece lá em casa para a gente se divertir!
Thomas sorriu concordando, ela e a outra garota sairam em seguida.
- Mas é claro que eu vou ligar...- Falou ele irônico.
Dei risada e falei:
- Pelo jeito, você faz sucesso com as garotas.
- Só com as que não respeitam nem o fato de eu estar em um relacionamento.- Falou revirando os olhos.- É aí que percebemos que existem muitas pessoas que não ligam se podem estar separando um casal ou causando sofrimento à alguém.
Sorri para ele.
- Nossa, é difícil ver um garoto falando isso...
- É, eu... acho que não sou do tipo mais convencional.- Falou ele sorrindo um pouco sem jeito.
- Gosto do que não seja convencional... E admiro a forma como você pensa.- Falei ainda sorrindo para ele, realmente admirava, só pessoas de caráter para respeitar assim.
Thomas abaixou o olhar e sorriu com o meu elogio.
- Estamos precisando de mais pessoas menos convencionais, então.- Falou ele sorrindo e me observando de uma maneira diferente.
- Com certeza estamos.

Entre Segredos e MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora