Capítulo 22

98 14 8
                                    

*** Rychard ***

Eu não sou eu mesmo se não estiver fazendo alguma loucura e naquele momento estava fazendo mais uma. Me encontrava na estrada dirigindo minha moto a mil com a Anne na garupa e indo sabe para onde? Praia.
No dia do show ela comentou comigo que o lugar que mais ama era a praia. Então decidi montar uma surpresa para ela e fazer um bate-volta por lá. Dar mais uma daquelas fugidas, sabe? Então fui até a casa da Anne cedinho, escondido dos pais dela e a convidei, o engraçado foi ela não ter nem pensado durante alguns minutos. Apenas aceitou! E esse era um dos principais motivos da Anne ser tão diferente das outras garotas, para a maioria das respostas comuns, as dela eram sempre o contrario da maioria.

Vamos para o meu apartamento?
Não!
Vamos passar um dia na praia do nada?
Sim!

Ela apenas vestiu roupas leves como uma regata e short jeans, pegou uma mochila e fomos.
Já estávamos quase chegando, naquele dia vimos a cidade, hoje víamos as montanhas e árvores ao longe. Mesmo tão diferentes, as duas paisagens eram de tirar o fôlego...
Quando chegamos estacionei a moto, tiramos nossos sapatos e guardamos na bolsa, depois fomos descalços caminhando pela areia morna até o mar. Ou melhor, eu achei que íamos caminhar até o mar, a louca saiu correndo na minha frente e me puxando pela mão, rindo e dizendo que eu era devagar demais, dei risada também e apostamos corrida até a água.
Naquele dia sentimos o que era sagrado em momentos únicos, em que não nos importamos com mais nada a nossa volta. Corremos pela orla e sentindo as primeiras ondas frias no tornozelo, enquanto respingava água para todos os lados, sentindo a liberdade.
Depois que fizemos aquele ritual de chegada voltamos rindo para a mochila. Tirei a camisa, estava quente ali e estava doido para me refrescar de verdade no mar, quando levantei o olhar vi que Anne também estava tirando a sua, ela tinha colocado um biquíni azul por baixo, apenas continuou com o short jeans.
- O que?- Perguntou ela corando e descendo também com seus olhos por mim, aparentemente estava gostando do que estava vendo. Não posso negar que aquela visão também mexeu bastante comigo, ela era muito linda... Mas acho que eu estava olhando demais.
- Nada não... Azul é minha cor preferida e comprovei agora que é a cor mais quente. Aquela camiseta não era nada comparada a realidade...- Falei com um sorrisinho de lado.
Ela deu risada e um empurrãozinho em mim.
- Deixa de ser bobo! Vamos logo aproveitar a praia.
Entramos na água, que estava refrescante e amenizava o calor. Anne me lançou um sorrisinho travesso e jogou com tudo água na minha cara, parei tentando recuperar o fôlego. A olhei fingindo estar bravo e preparei um contra-ataque enquanto ela fugia gargalhando de mim, um jogava dali e o outro jogava de lá, já estamos completamente encharcados e adorando aquela guerra disputada.
Passamos o dia naquela curtição inocente, rindo por qualquer motivo, fazendo tudo o que desse na nossa cabeça e zoando bastante.
Eu gostei mais daquilo do que achei que iria. Até ajudei ela a pegar conchas na beira da água quando já estava entardecendo. Escutava realmente interessado Anne contar sobre sua infância, quando ela fazia coleção daquelas pequenas conchinhas e achava aquilo o melhor tesouro de todos os tempos.
- Sei exatamente como era!- Falei rindo- Eu me achava o melhor engenheiro do mundo quando eu e meu irmão construiamos castelos gigantescos de areia...
Deixei meus pensamentos irem para minha infância e também sorri.
- Você tem irmão?
Parei surpreso.
- Eu falei irmão? Ah... É sim! Eu tenho...- Tentei consertar um pouco sem jeito. Escapou.
- Que legal! Por que nunca me contou dele?
- Não sei... Acho que nunca paramos para falar sobre isso.
- Como seu irmão é? Ele é parecido com você?- Perguntou Anne.
- Parecido?... Imagina! Perfeição é raridade, somos muito diferentes!- Eu disse rindo nervoso.
Ela também deu risada.
- Quem sabe um dia eu não conheça ele, né?
- É...
Anne trouxe duas toalhas na sua bolsa para colocarmos no chão. Paguei dois sorvetes para nós e nos sentamos para assistir o vai e vem das ondas, com a chegada da tarde, a paisagem alaranjada tomou conta do lugar e estava perfeita. Tudo estava maravilhoso...
Olhei para Anne, ela parecia tão cheia de vida naquele instante, enquanto sorria e admirava aquele espetáculo.
Depois que terminamos o sorvete, ficamos com uma brincadeira de cutucões e provocações, dando leves empurrões, talvez nós dois usando aquilo como desculpa para nos tocarmos um pouco.
Anne se deitou rindo do que eu tinha falado e eu olhei para ela, senti meu coração acelerar com a simples visão dela deitada, Anne era linda demais, com um corpo incrívelmente belo e curvas esbeltas, chegava a ser perfeita. Sentia tanta vontade de tocar seu corpo, de beijar ela até ficar sem fôlego...
Me aproximei mais da Anne, me deitando de lado e observando os detalhes do seu rosto, pensando se ela negaria se eu tentasse beijar ela de novo, já havia negado naquele dia umas três vezes.
Mantive a gente a poucos centímetros de distância e falei:
- Você é linda...
Ela sorriu de leve, mas disse um pouco tímida:
- Obrigada, mas algo me diz que você mentiria para agradar uma garota, sabe?
- Não estou mentindo agora, Anne.
Nossos olhos se fixaram novamente e eu tirei uma mecha de cabelo que caia sobre seus olhos.
Ela colocou sua mão por cima da minha, tentando não sorrir quando fiz isso e falou, se fazendo de durona:
- Que aproximação é essa? Daqui a pouco as pessoas a nossa volta vão achar que somos um casal apaixonado...
- Ah, isso seria tão ruim assim?... E se eu estiver mesmo me apaixonando por você?- Perguntei sorrindo.
Mas paramos.
Paramos olhando um para a cara do outro, talvez disputando para ver quem estava mais surpreso. Eu falei mesmo isso?! Realmente falei? Era para ser uma mentirinha como sempre era! Sei lá, tipo em forma de brincadeira ou cantada como sempre foi... Mas sabe o que me assustou de verdade naquele momento? Eu de fato não estava mentindo pela primeira vez...
Anne estava surpresa também e sem reação com a minha confissão repentina. Me levantei rápido ainda com medo de mim mesmo e querendo voltar atrás.
- Quer dizer, não que eu esteja... Você sabe!- Estava com medo até de falar aquela palavra de novo- Nossa, olha a hora! Acho que precisamos ir embora, né? Já está ficando tarde!
Sorria todo nervoso.
O Sol já estáva afetando minha mente!
- Hã... Claro... Vamos, então!- Disse Anne confusa.
Arrumamos as coisas e fomos embora um tempo depois. Acelerava a moto, mas o mais estranho era que eu não estava conseguindo mais fugir da sensação que ficou... A verdade estava em mim dessa vez e não conseguimos mentir para nós mesmos.

Entre Segredos e MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora