Capítulo 1: Coragem para a confissão

670 180 1.1K
                                    


Os raios solares invadiram a janela do meu quarto, o que não seria o maior incômodo se não fosse por causa do toque do despertador. Ele era alto e estridente, além de tremer enquanto tocava. Isso foi o suficiente para que eu abrisse os meus olhos, sentando na cama ainda sonolenta.

Eu gostava de ir à escola, apesar de dormir alguns minutos a mais não me parecesse uma péssima ideia. O segundo ano do Ensino Médio é legal, aprendo várias coisas diferentes e participo de todos os eventos escolares. Após a minha higiene matinal, vesti o uniforme tradicional da instituição. Ao fim disso, ergui o olhar para o espelho onde analisei o meu cabelo negro. Ele era longo, tocando a minha cintura e continha sutis cachos nas pontas. Minha mãe sempre falava que meus olhos – da mesma tonalidade – combinavam com minha aparência.

Não gosto de lembrar dos mortos, é desconfortável.

Ao descer as escadas, dou de cara com meu pai tomando o café da manhã enquanto lia o jornal. Ele sempre foi um homem alegre e forte em todos os sentidos. Depois que a minha mãe, morreu ele cuidou de mim e esteve presente em minha vida em todos os momentos. Sei que o trabalho às vezes o afasta de casa mas ele sabe que estarei aqui o esperando.

— Acordando disposta como sempre, filha. — disse com um sorriso terno e calmo como sempre.

— Fazer o que, não é? — retribuí o sorriso alegremente.

Sentei à mesa fechando os olhos e aspirando o cheiro delicioso das panquecas. Ele cozinhava tão bem, minha mãe fez um ótimo trabalho em ensiná-lo todos os afazeres domésticos.

A refeição foi rápida mas saborosa, peguei as minhas coisas e sai de casa encarando o novo dia que me aguardava. A escola não era muito longe da minha casa, era perfeito para uma caminhada matinal.

O colégio era enorme, várias salas e três grandes andares, corredores largos e uma diversidade de alunos de várias partes do mundo, devido à sua estrutura e parceria com o governo.

Avisto a minha sala, meus olhos correm até meu assento e então, em passos lentos, vou até lá.

— Bom dia, Miku! — digo me sentando enquanto abro um sorriso, olhando para a garota ao meu lado.

— Bom dia, Sakura! — Miku sorri alegremente.

Miku é o tipo de amiga que todos desejariam ter: atenciosa, carinhosa, alegre, divertida e meiga. Foi a primeira pessoa que quis ser minha amiga, vindo até mim e estendo a sua mão – literalmente – para que nossa união fosse selada.

Sua aparência também não fica para trás; seus cabelos castanhos e curtos, olhos verde claro e óculos vermelhos, fazem dessa garota atraente. Seu corpo pequeno combinava perfeitamente com o uniforme preto da instituição, além de que ela parecia uma boneca com aquela saia.

— Já conversou com o Yatori hoje? – o sorriso da Miku me parecia malicioso. Acabei ficando corada por causa da forma que ela me encarava.

— N-Não. – abaixo a cabeça envergonhada, só de ouvir o nome dele o meu coração já dispara.

— Tem que confessar o seu amor por ele logo, amiga. — Ela diz se apoiando na minha mesa com uma mão enquanto se aproximava do meu rosto, sussurrando e fitando o rapaz que se entrava na sala.

Yatori Misu consegue atrair olhares por onde passa com extrema facilidade. Os olhos azuis como lagoas profundas, águas calmas e acolhedoras. O loiro de seus cabelos tinha um leve brilho quando os raios de sol tocavam graciosamente seus fios. O corpo com traços que definiam sua masculinidade, ombros largos e músculos sutis nos braços.

— De jeito nenhum! — falo um pouco alto e todos me olham, me encolho atrás da mesinha envergonhada. — Ele nunca vai gostar de mim.

— Só saberá se tentar. — Miku deu uma piscada, ela fazia isso com frequência mas dessa vez parecia mais confiante.

Depois dessa conversa nada produtiva, as aulas se seguem normalmente e na hora do intervalo a Miku continua a me importunar para que eu me confessasse. Não dou ouvidos à sua ideia ridícula, então resolvo ir andar pelos corredores da escola para esquecer essa conversa.

Distraída como sempre, acabo me esbarrando em alguém e quando meus olhos se encontram com o da pessoa, percebo que é o Yatori me observando. Suas mãos estão nos meus braços para que eu não caísse, como se executasse uma perfeita dança pois meu corpo estava inclinado. Paro de respirar naquele momento quando sou atingida pela bela lagoa azul de suas orbes. Seu olhar era terno e gentil acompanhava o meu. Aquele era o olhar que eu queria me perder todos os dias.

— Tudo bem com você? — sua voz suave ecoou pelos meus ouvidos e fez meu coração acelerar.

— S-Sim — desvio o olhar tentando esconder a vermelhidão de minhas bochechas.

— Que bom.

Seu sorriso simplesmente iluminou o meu dia e, com um toque no rosto, ele se despede da boba apaixonada aqui.

Não resisti e corri até Miku para contá-la a novidade, ela dá um grito animada e insiste de novo sobre o assunto da confissão.

Mesmo demonstrando imensa insegurança, minha amiga conta que Yatori nunca teve contato tão próximo com uma garota antes. Nesse momento, uma pontada de esperança atinge o meu peito. Será mesmo que ele gosta de mim? E se gostar, sou muito medrosa para admitir o meu amor por ele. Mas uma frase da Miku me encorajou: "Viva como se não houvesse amanhã, se não for você que estará com ele pode ser outra".

E assim eu concordo com as sábias palavras da minha Sócrates particular e corro em direção à sala, encontrando Yatori sozinho e meditando ao olhar para a janela. É difícil se concentrar e arrumar as palavras em minha mente, quando a pessoa mais bela do mundo está na sua frente.

— E-Ei! — meu tom de voz saiu rouco e fraco, tentei novamente e consegui com sucesso chamar atenção do garoto.

Porém, nesse momento, eu não conseguia controlar meu coração. As pernas tremiam, a pele ficou gelada, estava suando frio e não eram borboletas em minha barriga, pareciam mais gaviões arranhando meu estômago e pedindo para sair.

— Sim, Sakura? — o tom que ele usou para dizer o meu nome foi tão calmo e doce, acabei corando bruscamente.

— Tenho algo para lhe dizer... Eu...Eu... — Sentia minha voz não sair, mas pensei em meus sentimentos e no desejo de tê-lo só para mim.

E com esses pensamentos me deixei levar pela emoção do meu primeiro amor.

O primeiro amor é realmente algo complicado, qualquer sinal ou toque te deixa nervoso. Você não sabe o que fazer mas sabe que quer estar ao lado dessa pessoa para a vida toda, é algo bobo mas sincero. Sou jovem, eu sei, tenho apenas dezesseis anos e devo conhecer outros garotos na minha vida mas é com o Yatori que eu quero me casar.

Eu sempre olhei para ele de uma forma diferente, aquele garoto mexia comigo de um jeito inimaginável. Eu não posso guardar os meus sentimentos para sempre, se ele me rejeitar está tudo bem. Não crio expectativas, só quero viver a minha vida sem arrependimentos.

Vamos lá, Sakura! Você consegue!

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora