Entre amor e vingança

Prólogo

Minha mãe sempre falava que a primavera era o início de um novo ciclo. No começo, eu não pude entender o porquê destas palavras mas agora tudo faz sentido. As belas flores de cerejeiras que cobrem a cidade recebem destaque nessa estação. Logo após, vem o verão ganhando toda a atenção para si com o imenso calor e a queda das flores. Como se não bastasse, o outono muda a cor da folhas. É uma época de mudanças, afinal as ruas possuem um ar mais melancólico. E, por final, não posso esquecer do frio do inverno. Nessa estação do ano, as pessoas parecem mais próximas umas das outras, buscando aquecer seus corações em toques e contatos alheios. Quando menos esperamos, a primavera volta e todo o ciclo se repete.

Ao lembrar de toda a transformação da natureza percebo como nós, seres humanos, também sofremos modificações. No início do ano, tomamos determinadas atitudes que provavelmente não tomaríamos meses depois. Estamos em uma constante modificação, às vezes essa mudança parte de nós mesmos. Porém, talvez a maior mudança da minha vida partiu dos fatores externos. Eu não decidi o que aconteceria naquela noite mas o que viria a seguir foi uma escolha minha.

É estranho pensar que uma garota do ensino médio possa ter uma mente tão perturbada. Quando olho para meu reflexo no espelho, dia após dia, percebo que sou uma pessoa diferente a cada estação. Nessas horas, penso nas palavras da minha mãe e chego à conclusão de que ela estava certa. Eu sou como árvores de cerejeira, mostrando a beleza somente quando o momento é favorável. Caso contrário, as pessoas ao redor terão que lidar com a melancolia e frieza que possuo.

Eu sempre ouvi que transformações podiam ser lentas, mas não essa. Ela foi tão abrupta quanto uma pequena chama ao ser apagada em um simples assopro. Algumas consequências foram assim também, outras vieram à longo prazo. Cada decisão gera um caminho a ser seguido, cada caminho leva a um fim específico. O que me preocupa é que não sei para qual fim essa longa trilha está me levando.