Capítulo 7: O plano

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O barulho irritante do despertador me acordou ­– como de costume – e com um soco mandei o aparelho para longe. Meus olhos insistiam em permanecer fechados, mas eu tinha aula. Após me levantar da cama, fiz minha higiene pessoal e tomei um bom banho. A água está gelada mas deve fazer bem para mim. Vesti o uniforme escolar e me dirigi à cozinha, meu pai já estava comendo enquanto lia o jornal desta manhã. Ele parou de comer quando ouviu o som dos meus passos, me olhou e abriu um sorriso.

— Bom dia, minha amada filha! Como está se sentindo? — ele me ofereceu um pão e eu aceitei.

— Bom dia, vou bem. — disse seca e dei uma mordida no pão.

— Bem... E a escola? — ele disfarçou a tristeza.

— Continua lá — acabei com o suco em poucos goles e então o resto da refeição foi em total silêncio.

Ter uma relação normal com o meu pai parecia impossível no momento. Essa sensação de abandono continua a me perseguir, como uma doença pegajosa instalada em meu coração. Ele deveria ter feito algo, mas não fez. Tentar me confortar depois que tudo aconteceu não iria adiantar. Sinto que vou me sentir abandonada por muito tempo, pois perdi a confiança nas pessoas – até mesmo em meu apoio paterno.

Caminhei rápido até a escola e dei de cara com a Miku. Ela conversava com algumas garotas mas logo me viu, desviei o olhar e entrei logo no prédio. Joguei minhas coisas na mesa ao chegar na sala, corri pelos corredores à procura de um certo alguém. Olhava para os lados procurando a sua notável presença, até que vi um bando de garotas cochichando algo, elas pareciam estar admirando alguém. Me aproximei vendo o tal "deus grego" que elas tanto babavam... Era o Kiran. Como elas podem se rebaixar tanto? Não entendo essas mentes medíocres.

Kiran estava encostado em uma árvore do pátio, olhava o chão e aparentava estar pensando seriamente em algo. Quando ele se virou, seus olhos claros foram de encontro ao grupo de garotas, onde conseguiu me encontrar em meio à elas. Instantaneamente, um sorriso formou-se em seus lábios bem desenhados e o moreno começou a caminhar em minha direção. Cada passo dado causava um certo desconforto, não gostava de estar perto dele.

Ignorei o grito irritante das garotas quando Kiran se aproximava, provavelmente elas pensaram que eram alvos de seu olhar.

— Bom dia! — sorriu acenando para todas e principalmente para mim.

— O que você quer? — revidei.

— Somente conversar. — ele caminhou e eu o segui indo até o pátio, onde estava vazio.

O vento da manhã era bom, passava pela minha pele e me causava uma sensação de conforto. A grama do pátio balançava lentamente a cada ventania, as árvores acompanhavam o movimento também, tudo parecia calmo e em perfeita sincronia. Kiran sentou-se no chão, cruzando as pernas e colocando suas mãos apoiadas nos joelhos, a brisa batia em seus cabelos sedosos e eles flutuavam, poucas mechas ainda estavam sob sua testa. Fiquei de joelhos arrumando uma posição confortável para me sentar, estava de saia e tomei o maior cuidado possível para que a brisa não fizesse nenhuma brincadeira de mal gosto. Eu o encarei e ele fez o mesmo, passando longos segundos em silêncio e nesse intenso contato visual.

— Vou começar. Eu vou lhe dizer onde um dos violentadores está, mas quero que você prometa me ajudar a purificar a espada. — ele me encarou sério, quebrando aquele silêncio desconfortável.

— Se você estiver falando a verdade, eu te ajudarei — respondi na mesma seriedade.

No fundo, eu não acreditava nessas baboseiras de deusa e demônio, mas ele parecia muito confiante em cada palavra dita. Algo em meu interior gritava para que eu acreditasse nas lendas contadas por minha mãe anos atrás. Abafei essa voz interior com toda a força possível.

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora