Capítulo 56: Adeus

58 9 112
                                    


— Por que? — questiono ainda em choque.

— Meus pais vão se separar e minha mãe irá morar na Itália. Eu havia decidido ficar no Japão mas, depois desse ocorrido, ela não acha que é seguro morar aqui. — Miku explicava abaixando o olhar para as mãos enfaixadas. — E, finalmente, posso entender que essa é a melhor escolha.

— Como assim...?

— Eu pretendo fazer faculdade de gastronomia e a Itália é uma boa opção, além de estar perto da minha mãe. Eu sentirei falta do papai mas... Mas eu não posso continuar aqui.

Nesse momento, apoio ambas as mãos na maca sentindo todo o corpo tremer.

— Q-Quando... Quando você irá, Miku? — pergunto evitando olhar em seus olhos, senão iria chorar.

— Na próxima semana, no mesmo dia em que eu receber alta do hospital. — ela responde colocando uma mão sobre a minha. — Você irá se despedir de mim na estação?

De forma instantânea, afasto a minha mão erguendo o olhar em sua direção. A minha respiração pesada é o único som por longos segundos até que decido responder:

— Eu... Eu não sei...

O som do ovo sendo frito ecoa pela cozinha junto com a frigideira sendo apoiada contra o fogão. Meu pai já havia me chamado inúmeras vezes mas continuo imersa na lembrança da minha conversa com a Miku no hospital. Ainda era difícil acreditar que ela iria embora hoje à tarde e, principalmente, que me recusei a vê-la.

— Filha, você está bem?

Desta vez, aceno positivamente com a cabeça olhando as torradas em meu prato com um semblante vazio.

— É por causa da Miku?

— É...

— Você irá se despedir, não é?

— Não.

— Por que não? — pergunta com espanto.

— Eu não quero. — respondo seca. — Não ligo para isso!

Ele opta por permanecer em silêncio, soltando um longo suspiro e voltando a sua concentração para a comida. Meu peito doía, a barriga dava tantas reviravoltas que não quis comer quase nada nessa manhã de sábado.

— A Miku é sua amiga. — meu pai comenta enquanto lavava a louça junto comigo. — Vocês se conhecem há anos.

— Eu sei disso, pai. Mas não quero vê-la.

— Por que?

— Porque é desnecessário. — resmungo. — Aliás, eu tenho uma luta hoje, esqueceu?

A minha desculpa do mini campeonato de jiu jitsu serviu para fazê-lo deixar o assunto de lado. Ele sabe que se eu não quiser falar com a Miku, eu não irei e nada pode mudar isso. Então, seco as mãos e vou para o meu quarto passar a manhã estudando para, à tarde, estar pronta para o campeonato. Como as lutas seriam no horário do embarque de Miku, não iremos nos ver e eu espero que ela entenda.

(...)

O terceiro aluno a me enfrentar havia pedido desistência, batendo a mão de forma impaciente no tatame. Ao erguer o meu corpo, ajeito o quimono ofegante e saio para o banheiro. Meu reflexo representa uma pessoa fria com o olhar vazio, sem esperanças. Era exatamente assim que eu me sentia.

Desde que executei a vingança há uma semana atrás, não consigo tirar a minha cabeça a expressão do Tomio e suas palavras. Diferente das outras duas vítimas, onde eu senti prazer em relembrar suas mortes, agora sentia um imenso peso em meu peito. Minha mente grita "Eles merecem pagar pelo o que fizeram com a Miku", mas meu coração sussurra "Essa não é você."

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora