Capítulo 79: Flores de cerejeira

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Ao passarmos pela saída do templo, toda a passagem foi coberta por uma enorme rocha. O meu coração ainda estava preso à cena da Okami sacrificando-se por mim, como um ato de amor.

— Você pode andar, Sakura?

— Sim...

Cuidadosamente, o indiano coloca-me no chão e apoio a mão em seu braço. O desespero da batalha me fez esquecer o detalhe dele estar sem camisa, por isso coro ao ver sua pele exposta. Quando pretendo comentar algo, analiso ao nosso redor percebendo que não há nada além da escuridão. Estranhamente, eu podia ver o corpo do Kiran mas todo o ambiente além dele era um breu completo.

— Onde estamos?

— Deveríamos estar em uma das passagens do labirinto mas eu não consigo enxergar nada.

— Está com sua mochila?

O corpo do rapaz trava e já obtendo a resposta.

— D-Desculpa, eu...

— Sem problemas, teremos que encontrar o caminho através do tato. Você deixou algo importante na mochila?

— Não, apenas o kit de primeiros socorros e a lanterna. Os documentos eu deixei no quarto do hotel.

— Menos mal.

Eu iria dar o primeiro passo, mas meu corpo começa a brilhar e essa luz sai de mim, ao mesmo tempo que minhas roupas retornam ao normal. Quando olho para o Kiran, o mesmo fenômeno acontece com ele. Ambas as luzes tomam a forma de silhuetas até se materializarem. Nesse momento, quase cambaleio para trás ao ver Amaterasu e o Rei Demônio diante dos nossos olhos.

A deusa é mais bonita de perto, o seu longo cabelo e quimono branco combinam perfeitamente com o aspecto "divino" em seu semblante. A coroa de ouro dela fazia jus ao posto de deusa mais importante. O Rei Demônio é do mesmo tamanho que o indiano e sua pele vermelha reluz com o fraco brilho da mulher ao lado. Os chifres curvados e unhas pontudas o tornam, minimamente, assustador mas o seu sorriso me acalma – apesar de expor a fileira de dentes afiados. Ele vestia um manto preto, deixando apenas o peitoral musculoso exposto. O cabelo dele é quase tão grande quanto as madeixas da Amaterasu e alguns fios deslizam sobre seus ombros.

— V-Vocês...

— Nós saímos das suas almas. — responde Amaterasu com um sorriso gentil. — Vocês estão livres dessa missão...

— E da maldição. — completa o Rei Demônio direcionado o olhar para o Kiran. — Podem viver suas vidas.

De um lado, estou feliz por ter completado a missão mas sinto um aperto no peito pois, querendo ou não, acabei me apegando a essa responsabilidade.

— À partir de agora, tudo vai ficar bem, não é?

— Sim. Não se preocupe, Sakura. Eu devo te agradecer por ter carregado essa missão e também peço perdão por todas as complicações.

— Não, Amaterasu. Eu aprendi muito com essa jornada, principalmente porque pude conhecer mais sobre mim mesma.

Ela encarava-me com ternura, dando alguns passos para frente até apoiar a mão em minha cabeça.

— Fico feliz. Eu devo apagar suas memórias sobre tudo o que viveram, assim poderão agir como adolescentes normais.

— Não é o que desejo... — murmuro erguendo os olhos em direção aos seus. — Quero usar tudo o que aprendi para seguir em frente.

— Eu também desejo isso. — diz Kiran determinado. — Por favor, permita-nos desfrutar dessas lembranças.

— Tudo bem, é o mínimo que posso fazer por salvarem o mundo.

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora