Capítulo 13: A linguagem do olhar

249 55 495
                                    


O sinal tocou, todos foram para as suas salas mas eu permaneci no terraço. Minhas mãos continuavam a apertar a grade com força, meu olhar estava distante. Era como se houvesse uma batalha dentro de mim, eu me questionava se o caminho que escolhi trilhar é o melhor. Será que vai me trazer felicidade? Foi um alívio saber que o Dylan Hall estava morto e que eu o matei, menos um lixo nesse mundo. Porém, talvez aquilo só trouxe um sentimento fugaz pois não me sentia completa. Ainda estava em pedaços e perdida.

Depois de um bom tempo de reflexão, sentei com as costas apoiadas na grade. Abracei com força os joelhos encostando a cabeça sobre eles. Eu queria estar em casa descansando, não estou acostumada a tanto esforço físico e psicológico em tão pouco tempo. Meu corpo caiu para o lado e acabei deitando no chão do terraço, minhas pálpebras pesaram e tive que fechá-las. O sono veio tão rápido que não tive tempo de pensar em mais nada sobre o rumo da minha vida.

Acordei com o maldito sinal tocando, abri os olhos com dificuldade e sentei no chão acariciando meu rosto. Não dormi no melhor lugar do mundo, na verdade acho que é um dos piores para descansar pois estava com uma terrível dor no pescoço. Desci para a sala, peguei a mochila colocando-a nas costas e olhando o sol que já estava desaparecendo entre os prédios. Quando cheguei na saída do colégio, o Kiran estava encostado no muro com as mãos no bolso. Ele observava os carros com um olhar vazio, pensava em algo muito profundo. Eu senti uma pontada de curiosidade mas me contive. Ao me ver, abriu um de seus sorrisos e logo se aproximou.

— Demorou, hein. — falou ajeitando a mochila e começando a andar para o caminho da minha casa.

— Não pedi para que me esperasse.

— Pedindo ou não, eu sempre irei te acompanhar para casa. Além de garantir a sua segurança, é algo que eu gosto. — ele falou normalmente com seu típico sorriso.

Estranhei ele não tocar no assunto do Yatori.

— Mas nós mal conversamos... – eu desviei o olhar um pouco sem jeito. Como alguém gosta da minha presença? E logo eu, que trato o Kiran tão mal e rude.

— Uma conversa não é feita somente de meras palavras. Gestos, olhares, respiração, batimentos cardíacos, suspiros e outras coisas são uma forma de conversar. Comunicamos uns com os outros sem ao menos perceber, eu gosto dessa nossa comunicação. — disse sem olhar para mim, apenas encarou as poucas folhas de cerejeira nas árvores ao nosso redor.

O Kiran é incrível quando quer, suas reflexões vão além do que um garoto em sua idade diria. Ele é extremamente paciente comigo, mesmo sabendo que eu o odeio. Ódio... É esse o sentimento que eu alimento pelo Kiran?

Não pude deixar de olhar o indiano de canto, seu olhar é tão profundo e cheio de dor. Não sei ao certo porque eu defino-o dessa forma, apenas sinto que a nossa conexão significa mais do que parece. É como se ele sentisse as minhas dores e eu as dele.

— C-Como... Como foi a aula? — falei um pouco nervosa, era a primeira vez que puxei assunto. O Kiran me encarou surpreso, suas bochechas morenas coraram um pouco e logo abaixou o olhar.

— Foi chata, eu não gosto de matemática e mal entendo o assunto. Eu estava ansioso para que a aula acabasse logo pois queria... — ele corou mais ainda e manteve a cabeça baixa. – ... queria te ver. Queria saber se você estava bem, pelo visto me preocupei em vão.

— É... — lembrei do olhar dele quando me viu quase beijando o Yatori, coloquei a mão no peito sentindo uma leve dor. — Mas obrigada por se preocupar comigo, Kiran.

— D-De nada.

Os olhos dele se encontraram com os meus, o silêncio fez-se presente por longos segundos. Ele engoliu seco, perguntando em seguida: — E a sua aula? Como foi?

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora