Capítulo 10: O corredor da morte

325 69 578
                                    

Depois do café da manhã fomos pegar nossas malas e ir para o aeroporto. Antes de fechar a porta de casa, olhei tudo ao meu redor e pensei receosa se nunca mais veria tudo aquilo de novo. Se tudo isso não passar de um papo para me levar para viajar, eu juro que o mato. Porém, se toda essa história maluca for verdade – o que acho pouco provável – então talvez nunca mais veja meu pai ou minha amiga.

Entrei no táxi junto com Kiran e fomos ao nosso destino. Enquanto o carro vagava pelas ruas da cidade, eu olhava através do vidro um mundo ao qual eu estava acostumada. As cerejeiras já estavam perdendo a sua essência, seus caules tinham menos flores. Suspirei baixinho sentindo que uma parte de mim ia junto com a flores.

Ao entrar no avião, busquei um assento perto da janela e fiquei encarando o aeroporto. Kiran buscou sentar-se ao meu lado, parecia querer falar comigo mas agi como se não quisesse ser incomodada. Peguei um livro na minha mochila comecei a lê-lo. Enquanto o avião voava, eu buscava me concentrar em cada detalhe do livro, mas aquele cheiro de camélia sempre fluía ao meu redor. Eu desisti de ler e me virei para a janela vendo o céu.

Mesmo com o voo tranquilo eu sentia um frio na barriga, não só pela altura mas por tudo que estava acontecendo em minha vida. Então, em algum momento, dei uma leve olhada por trás do meu ombro e vi uma cena estranha. Kiran estava me encarando com um olhar triste e vazio, sua mão lentamente se aproximou do meu ombro, estava a poucos centímetros. Contudo, de forma repentina, sua mão congela no ar, seu olhar passou um semblante vazio e então ele recuou a mão. Parecia tão absorvo em seus próprios pensamentos que não notou meu olhar. Ele simplesmente abaixou a cabeça pensativo.

Devo admitir que fiquei confusa com aquele gesto mas ignorei, voltando a ver o céu ao meu lado.

Após longas horas de viagem, chegamos ao Egito, era um lugar muito diferente para mim. As pessoas, as roupas, a cultura. Um táxi nos levou para o hotel e, ao chegar no destino, notei que era um lugar incrivelmente grande e com uma enorme piscina. Por sorte, eu e Kiran ficamos em quartos separados. Nos despedimos com um aceno e seguimos por corredores opostos.

Ao entrar no meu quarto fiquei de boca aberta, tinha uma enorme cama vermelha e ao lado dela um enorme sofá da mesma cor. No banheiro havia uma banheira e além de um chuveiro com detalhes que pareciam ouro. O hotel era digno das cinco estrelas que possuía. Poderia passar mais tempo admirando o local mas já era hora do jantar. Tomei um bom banho e vesti um longo vestido marfim, deixando meus longos cabelos soltos. Em poucos minutos, me encontrei com Kiran na recepção e fomos ao restaurante mais próximo para jantar. Um jantar muito silencioso pelo visto, até que o garoto à minha frente resolveu quebrar o silêncio.

— Então, como seu pai reagiu à viagem?

— Bem... — refleti um pouco e então respondi. — Ele sabe que estou em uma viagem mas é para relaxar e esquecer o passado. Apesar de tudo que aconteceu, meu pai ainda confia em mim.

— Isso é bom. — disse calmo e olhando para o prato, mas logo voltou sua atenção para mim. — Como vai sua relação com seu pai?

— Isso não te interessa! — falei um pouco alto e desviei o olhar.

Sei que estou sendo rude mas não consigo agir normalmente com ninguém.

— Eu sei que não. — disse triste. — Mas sinto que você está rejeitando todos à sua volta e isso não é bom. Você tem que encontrar forças no amor e não no ódio.

—Por favor, não me venha com papos melosos. — bufei. — Vamos jantar logo, quero dormir.

E o nosso jantar prosseguiu silencioso novamente. Ao chegar na recepção do hotel, Kiran se ofereceu para me acompanhar para o meu quarto para me manter segura. Neguei friamente e sai andando pelos corredores acenando como um sinal de "Boa noite idiota!"

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora