Capítulo 4: Humilhação e tortura

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Sentia a onda de medo percorrer o meu corpo enquanto eu tentava gritar, porém amarraram a minha boca com um lenço branco. Um dos homens pegou um faca e começou a rasgar a minha roupa enquanto, propositalmente, fazia cortes em minha pele. Eu tentava me soltar mas era em vão. Já não sobrara nada da minha roupa, só alguns farrapos espalhados pelo meu corpo. Mãos "sujas" começaram a percorrer o meu corpo, minhas lágrimas não paravam de sair, era como uma onda de desespero e humilhação.

Tentei memorizar os rostos deles, um era careca e usava terno. Vamos lá memória, não falhe. O outro tinha cabelo castanho, curto e um pouco espetado, usava bermuda marrom e camisa azul celeste, mas o que isso importa agora?! Como se eu fosse viver depois disso.

Desviei o olhar, um dos agressores tinha cabelo preto, comprido e amarrado para trás, trajava um terno como a maioria deles. Devem ser pessoas ricas e poderosas. Chutei com força o rosto do careca ao vê-lo se aproxima demais de mim, ouvi seu grito de dor com o chute e recebi um soco na barriga, sentia ela dilapidar-se.

Aguentei toda aquela terrível sensação até que senti uma dor interna, sabia o que era. Gritava e implorava para que parassem mas tudo em vão. Estava rompendo aquilo que eu guardei para o alguém especial, era para ser o Yatori. Em um momento que eu estaria totalmente entregue à ele mas não, o meu sonho foi despedaçado diante de mim. O sangue escorria pelas minhas pernas, as lágrimas pelos olhos e a dor pelo coração. Observei o céu por um momento e vi as poucas estrelas brilharem para mim.

Olhei para a minha frente procurando ajuda, algum ser passou perto do beco, gritei o mais alto que pude mesmo com o lenço na boca, o estranho ser se virou e me olhou. Era... o Yatori! Ele me olhava assustado, estendi a minha mão para ele como um pedido de ajuda, as lágrimas cessaram um pouco. Ele está aqui para me salvar! Que alívio! Yatori correu em direção aos homens que logo se viraram fitando o garoto.

— Soltem ela, agora! — Yatori gritou e os encarou corajosamente.

— Ah! É isso que você quer pirralho? — um dos homens apontou uma faca para o jovem, ela aparentava ser afiada e brilhava com a luz da lua. Yatori deu alguns passos para trás, me olhou receoso, vi suas pernas tremerem e então ele disse as palavras das quais nunca irei esquecer.

—Desculpe, Sakura... — foi com essa simples frase que vi o meu namorado sumir daquele local, em poucos segundos ele já estava longe de vista. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo.

O Yatori me abandonou como um cachorrinho doente? O que eu significava para ele? Somente uma menina para namorar mas não para proteger? Isso é um amor fugaz? As lágrimas acompanhavam os meus pensamentos, não conseguia enxergar direito porque elas impediam que minha visão trabalhasse perfeitamente. Eu não quero chorar! Mas que escolha eu tenho, senão me perder nesse sofrimento que me acompanha agora?

Fui tirada dos meus pensamentos ao ouvir um dos homens sussurrar para o outro que deviam me tirar daqui já que eles foram visto. Depois de terminarem o trabalho sujo, senti alguém injetar uma agulha em meu braço e tudo ficou escuro.

Abri os meus olhos lentamente, analisei onde eu estava, era um galpão enorme, aparentava estar vazio tirando uma mesa com coisas brilhantes em cima. Tentei me mover mas percebi que meus membros superiores estavam presos à correntes, encostei minhas costas na parede enquanto olhava tudo ao meu redor e, para o meu azar, os malditos homens estavam lá segurando ferros. Fiquei assustada com tudo aquilo, ao ver que estava sem o lenço eu gritei o mais alto que pude por socorro mas novamente foi em vão. Resolvi tentar conversar com eles.

— Por favor, me tirem daqui! Eu prometo não contar isso à ninguém mas eu imploro que me deixem sair. — as lágrimas voltaram a sair dos meus olhos, eu desejava que algum deles mostrasse compaixão.

Em meio àqueles olhares frios, um dos homens se aproximou de mim. Eu pude perceber o arrependimento por seus atos nas íris escudas, porém ele foi barrado. Um de seus companheiros colocou o braço na frente, impedindo-o de continuar e logo o puxou para fora do galpão. Enquanto isso, o maldito careta se aproximou de mim.

— Só queremos nos divertir um pouco, princesa. Hoje tem sido um dia muito difícil, então alguém precisa pagar. — seu rosto estava bem próximo ao meu, senti uma enorme vontade de vomitar mas controlei a sensação. — E agora é hora da verdadeira diversão. — seu hálito de bebida me causou repulsa.

Nesse momento, eu percebi que gritar por ajuda era inútil e minha opção era suportar o que viria a seguir.

Senti um deles me bater com o ferro na perna, gritei com a dor e todos riram, olhava para o chão vendo as lágrimas caírem. Fui atingida novamente com um ferro porém, desta vez na barriga, cuspi sangue e gemi com a dor atordoante. A cada grito de dor eram mais risadas, continuei a receber golpes nas pernas, braços, barriga, costas e um na cabeça que me deixou um pouco tonta. Com o tempo eu já não conseguia mais gritar, a voz não saía, somente a dor que logo eu me acostumei. Mesmo assim, queria que tudo acabasse o mais rápido possível.

Sempre me via presa à cena do Yatori. Ele parado, imóvel e depois correndo para longe enquanto eu estendia a minha mão em sua direção pedindo ajuda. Isso cortava o meu coração em pedaços, era pior do que qualquer ferro ou navalha. A dor do coração é a que mais machuca porque não sabemos como curá-la ou, ao menos, que remédio alivia todo o sofrimento. Eu percebi como os sentimentos humanos são falsos, como um "Eu te amo" não significa nada, eu não preciso destas palavras.

A cada corte que eles me fazem com facas é um favor que estão prestando, preciso de dores maiores para esquecer esta, mas nada adianta porque os pensamentos sempre voltam, agora sem lágrimas mas ainda machucam.

Meu corpo está cheio de sangue, todo cortado e inchado. Apesar disso, meu coração doía mais que qualquer dano físico. Um sentimento novo invadia meu coração: Ódio. Não sabia como lidar com algo tão negativo, mas precisava fazê-lo uma arma para seguir em frente.

Encarei todos, meu olhar expressava raiva e rancor, observei alguns olhares assustados que logo sumiram. Um deles pegou um ferro e colocou sobre uma fornalha que estava ao meu lado, escutava as risadas maldosas ao meu redor mas nada importava, nenhuma dor importava mais. O ferro quente aproximou-se do meu corpo frágil, senti ele tocar o lado esquerdo da minha cintura, a pele queimava. Senti o ferro próximo a minha carne, ao meu interior, não gritei nem nada somente tranquei tudo dentro do meu coração. Porém, a dor estava querendo vencer esta batalha, todo o meu corpo doía e sangrava, estava perdendo muito sangue. Tudo começa a girar e ficar escuro, então acabo desmaiando.

Memórias da minha mãe vieram à tona, seu rosto calmo e sereno, seus olhos castanhos, seus cabelos longos e cacheados num rodopio impecável. Ela me segurava no colo, eu estava com cinco anos, abraçava seu pescoço e sorria apontando para as estrelas no céu. Meus olhos escuros brilhavam com a luz da lua e minha pele também. Minha mãe começou a contar as histórias de Orihime e sua paixão, como ela e seu amado representam duas estrelas da via Láctea, essa lenda sempre me comovia e eu chorava toda vez que a escutava.

— Mamãe, isso é injusto. — falava fazendo biquinho inconformada com tudo aquilo enquanto ouvia minha mãe rir e concordar comigo. — Conta outra história, por favor, por favor! — dava pequenos pulos alegres em seu colo. — A mais bela de todas!

Uma nova história chegou até mim, sobre uma bela deusa que se apaixonou por um demônio mas como esse amor era proibido, os dois foram amaldiçoados e com o tempo morreram. Outro conto triste, sei que é errado mas eu senti pena do demônio, ele só queria ser amado. Mas que pensamentos são esses que eu estou tendo agora? Não é hora para isso!

Essas memórias foram afastadas ao escutar alguns barulhos estranhos, sons de golpes, chutes e outros que não consegui diferenciar. Não pude abrir os meus olhos, por estar tão fraca mas senti alguém me soltar nas correntes. Não tive forças para continuar sentada, meu corpo caiu sobre essa misteriosa pessoa. Fui carregada nos braços dela, um forte cheiro de camélia tomou conta das minhas narinas. Com muita dificuldade, abri um pouco os olhos vendo um peitoral moreno e bem definido, estava tão fraca que desmaio novamente e me encostando neste ser desconhecido. Não fazia ideia se o que viria a seguir era mais sofrimento, estava sem forças para lutar contra o meu destino. 

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora