Capítulo 41: Nós sempre resistimos

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Flash Back On

A mulher ajeitava a gravata borboleta em meu pescoço e depois puxava um pouco a barra da saia para baixo. Os pequenos sapatos pretos e brilhantes tinham o tamanho o perfeito para uma garotinha de cinco anos. O uniforme escolar preto com detalhes brancos estava justo em meu corpo. Abaixo o meu olhar para o chão, as orbes pretas fitavam um ponto qualquer com completo desânimo. Então, minha mãe apoiava o dedo indicador no queixo fazendo-me encarar seus olhos de mesma cor.

— O que houve, Sakura?

— Eu não quero ir à escola. — resmungo fazendo um biquinho fofo.

— Por que não?

— Porque tenho medo que eles não gostem de mim.

— Ora, eles vão gostar de você. — ela sorria mostrando seus perfeitos dentes alinhados. — Confie em mim.

— Hum...

Ainda estava desconfiada e receosa. Da última vez que tentei fazer amigos no parque da cidade, as crianças não me deixavam ir em nenhum brinquedo e me excluíam de suas brincadeiras. Como sempre, voltei chorando para perto da minha mãe e ela me confortou com seu afago maternal.

— Não confia na mamãe?

— C-Confio...

Ao ver o sorriso dela, sinto que desta vez as coisas serão diferentes. Eu espero poder ser sua fonte de orgulho algum dia.

Sou puxada para fora de casa, andando pelas ruas um pouco atrás da mulher. Ela cumprimentava todos por onde passava, mostrando o seu simpático sorriso. Quero muito ser tão sociável assim, um dia. Paro de andar, chocando o rosto em suas pernas e acaricio a testa, inclinando a cabeça para ver o que era. O grande colégio abrangia um método eficiente de ensino, havendo momentos didáticos e outros dinâmicos.

As crianças corriam animadas pelo grande campo de areia na frente, outras faziam uma roda conversando. Entrei na sala em silêncio, ainda atrás da minha mãe e apertando com força sua saia como se tivesse medo dela sumir ali. Mesmo assim, fui obrigada a se apresentar para a professora e fiquei vermelha de vergonha.

Eu nunca fui muito confiante em mim mesma e parecia que essa característica não ia mudar. Ao ser guiada pela professora para ir de encontro aos demais colegas de classe, engulo seco nervosa e aceno com um sorriso trêmulo. Os olhares não foram os melhores, então percebo que seria um longo dia.

Minha mãe precisou ir, voltar para a sua rotina no trabalho. A professora nos mandou fazer um desenho sobre algo que gostamos. Apoio a mão no queixo lembrando das belas flores de cerejeira que nos rodeavam naquela bela primavera. Seria perfeito pintar uma vista como essa!

Estico o braço para pegar o frasco com a tinta rosa mas outra criança aparece, pegando-o mais rápido e me encarando com desdém. Encolho a mão com um olhar cabisbaixo e pensando em outra opção. Eu podia pintar uma árvore cheia de folhas e flores. Decido pegar a tinta verde mas outro garoto tira a tinta de mim, desta vez apenas por diversão.

— Quero ir para casa... — murmuro segurando as lágrimas.

Não, eu não posso. Eu preciso ser forte como a mamãe!

O intervalo foi o pior momento, as crianças não queriam brincar comigo porque eu não conseguia ser sociável. Desde sempre, a timidez era um ponto marcante da minha personalidade. Fiz o máximo possível para ignorar tal fato, sentando no balanço e começando a movimentar o corpo. Porém, alguém me empurra e acabo caindo de cara no chão. Tiro a areia dos olhos, coçando-os com ambas as mãos e encaro por cima dos ombros o alto garoto que tentava me intimidar.

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora