Capítulo 58: Traumas do passado

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Eu subi até o terraço para tomar um ar após dizer o que sentia – no caso, deixei de sentir – pelo Yatori. Em muito tempo, essa era a primeira vez que eu conseguia organizar os meus pensamentos. Tudo se resumia em: jornada pela pedra do fogo e vingança. Unicamente isso. Nada de tentar voltar a ser uma garota normal, pois havia percebido o quão impossível era. Aquela Sakura de antigamente morreu naquele dia e, somente agora, percebi a óbvia verdade diante dos meus olhos.

Por mais que deseje pensar sobre minhas escolhas recentes, o som da porta sendo aberta de forma brusca afasta meus pensamentos. Imediatamente, viro o meu corpo em direção ao rapaz que se aproximava em passos rápido, mantendo a cabeça baixa e abraçando o próprio corpo. A sua fantasia preta e longo cabelo ajudaram-me a reconhecer quem era.

— Kiran?

Ele ergue o olhar surpreso e assustado ao me ver também no terraço, dando alguns passos para trás com o corpo trêmulo. Eu nunca o vi tão frágil e vulnerável desse jeito. De uma forma inexplicável, meu peito dói por presenciar tamanha cena. Kiran suava frio com a respiração pesada, tirando o chapéu e passando a mão pelo cabelo.

— Sakura?! O que faz aqui? Eu pensei que você e o Yatori... — ele para de falar, desviando o olhar para o chão. — Desculpa, não é da minha conta.

Ele está com medo de algo, eu o conheço.

Em passos lentos, diminuo a nossa distância até poder sentir a sua fragrância masculina invadir minhas narinas. Devido a diferença evidente de altura, preciso manter a cabeça erguida para fitar sua expressão de desespero. Não sei o que se passa em sua cabeça mas não é nada bom. Então, apoio ambas as mãos no rosto de Kiran e ele finalmente percebe a minha aproximação, engolindo seco nervoso.

— Está tudo bem, Kiran. Eu estou aqui. — digo abrindo um sorriso gentil. — Sempre estarei aqui.

Minhas palavras surtiram efeito já que sua respiração, aos poucos, tornou-se mais calma. Porém, sou surpreendida por um abraço apertado e meu rosto vai contra seu peitoral definido. Mesmo resmungando com a voz abafada, Kiran ignora todos os meus protestos e continua a me apertar como se eu fosse um ursinho de pelúcia. Então, só me resta apreciar o momento.

Apesar de estar aparentemente mais calmo, o corpo dele continuava a tremer e isso era preocupante porque não fazia ideia do motivo desse surto. Talvez ele possua algum tipo de trauma, algo muito sério.

Lentamente, levo a minha mão até suas costas dando início a uma carícia na região.

— Desculpa, desculpa, desculpa... — ele murmurava com a voz de choro. — Desculpa...

— Você não fez nada, Kiran.

Mas parece que o indiano não conseguia ouvir nada além de seus pensamentos, repetindo "desculpa" por um bom tempo. Quando estava mais calmo, afastou-se do abraço evitando contato visual mas envolvo os braços entorno da sua cintura, puxando-o contra meu corpo.

— Desabafe comigo, por favor. — peço apertando-o mais forte, deitando a cabeça em seu peito.

— Não posso... Não quero te envolver em meus problemas e...

— Somos amigos e que tipo de amiga eu seria se não te ajudasse? — questiono segurando sua mão e o puxando para um canto do terraço. — Você me ajudou tanto e, de alguma forma, quero retribuir além de me sentir mal ao te ver assim.

Mesmo à contragosto, Kiran decide desabafar e senta ao meu lado fitando o céu estrelado. Por causa do longo vestido de princesa que eu usava, ele ocupava uma boa parte do chão e o indiano ficou um pouco afastado com as pernas estiradas. Quando abriu a boca para falar, dei alguns tapinhas em meu colo e ele olhou para mim confuso. Eu imitei o movimento até que entendesse o recado, vendo o rapaz vermelho e pensando em recuar mas minha expressão indicava que "não" deixou de ser uma opção. Por isso, ele deita a cabeça em meu colo muito corado.

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora