Capítulo 73: A queda da máscara

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Você precisa se libertar, Sakura!

Abro os olhos repentinamente diante de suas palavras, analisando o vasto campo gramado o qual estou. A grama verde e macia tocava os meus pés e a forte brisa a fazia se mover como ondas no oceano. Ao dar o primeiro passo, surpreendo-me com a sensação real como se eu não estivesse sonhando. À minha frente, encontrava-se Amaterasu de costas para mim encarando o horizonte. O seu longo cabelo negro e o quimono balançavam conforme a dança do vento. Em passadas pequenas e lentas, aproximo-me da mulher até parar ao seu lado e, mesmo com minha presença, ela continua fitando o vazio.

A sua beleza destacava-se, principalmente, por causa dos traços sutis do rosto e os cílios longos. Digna de uma verdadeira deusa, era evidente a expressão serena em seu semblante. Ela parecia ignorar tudo ao seu redor para apenas apreciar a paisagem, mesmo que não houvesse nada à frente, somente grama. Então, resolvo seguir o seu olhar e ver o vasto campo que parecia não ter fim.

— Você precisa se libertar, Sakura...

— Do que?

— Da vingança.

— Mas eu já os perdoei!

— Não em seu coração. — dizia olhando-me de canto pela primeira vez em nosso encontro. — Você ainda não os perdoou por completo, há uma parte relutante em seu interior.

— Mas, eu... Eu...

— Eu sei, o perdão é mais difícil do que imaginava.

Diante de suas palavras, abaixo a cabeça encarando a grama em meus pés descalços e só então percebo que estou usando um majestoso vestido branco. Quando tenho acessos à Amaterasu, geralmente tenho uma aparência mais delicada e... Divina.

— Eu queria perdoar... Queria muito... Mas...

— Eles te machucaram de diversas formas e, ainda assim, você conseguiu perdoar o Kiran e o irmão dele. Por que?

Eu passo longos segundos tentando entender o porquê fui capaz de perdoar o Kiran e o Dinesh, sendo que boa parte da vingança girou entorno desses dois. Uma parte de mim gritava a verdade mas meus ouvidos continuavam tapados, focando somente em uma explicação lógica. O irmão do indiano conseguiu o meu perdão por ter mostrado um real arrependimento, mas eu sabia que esse não era o maior motivo.

— Porque eu não queria ver o Kiran sofrer.

— Por que? — a deusa questiona mais uma vez. — Por que não queria vê-lo sofrer?

— Porque eu...

Em um único ano, muitas coisas aconteceram comigo e eu adquiri traumas, ao mesmo tempo que os superei para não me perder por completo à escuridão. Ainda assim, havia um ponto faltando nessa história, uma conclusão importante para que eu chegasse à resposta tão desejada. Infelizmente, minha mente estava uma completa confusão e ser pressionada pela deusa do Sol não ajudava muito. Entendendo meu dilema, Amaterasu apoia uma mão em meu ombro abrindo um sorriso terno.

— Eu confio em você, por isso te designei essa missão para salvar o mundo. Mas quando toda essa jornada acabar, o que você realmente deseja?

— O que eu desejo...?

— Sim, para que braços você quer correr quando sentir medo? Ou estiver feliz? Qual o seu porto seguro? Quem é o seu feixe de luz?

Meus olhos vão de encontro às orbes negras da deusa, compreendendo melhor a sua linha de raciocínio. Ela queria saber dos meus sentimentos e o quão forte eles poderiam ser nessa última etapa da jornada.

Entre amor e vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora