Inexistente

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Ollavo está encostado na parede da recepção ao lado da ala de emergência, apesar de possuir uma expressão serena, sua mente está um caos. Fernanda está sentada inquieta com sua amiga segurando sua mão com força, já Sandra tenta controlar suas emoções para dar forças e consolar a pessoa ao seu lado. Dulce está do outro lado da sala, sozinha sentada ao lado de um vaso de amarílis, não para de olhar para o relógio, não porque está prestando atenção no ponteiro, mas porque finalmente caiu em si e percebeu o tamanho do problema que criara... O arrependimento bate forte se misturando com a ansiedade de saber como o garoto está, se algo de grave realmente acontecer, vai se culpar para o resto da vida.

Célia chega na recepção e olha todos, o hospital está vazio, o que é previsível a essa hora da noite, a única coisa que escuta são os soluços fracos de Fernanda e o relógio batendo, algumas vezes, ao longe, pode escutar enfermeiras se movimentando, realizando seu trabalho.

Antes que Célia pudesse sequer cumprimentar alguém, ou receber uma explicação melhor sobre o que está acontecendo, a tão esperada notícia vem através de uma enfermeira muito carismática, apesar da mesma saber como o menino assustara á todos.

— Olliver está bem, agora o Doutor Iberê está conversando com ele e logo virá aqui falar com vocês. Mas podem ficar despreocupados, o menino de vocês está bem... Ele é um garoto forte. – Ela diz com um sorriso no rosto e volta para a emergência novamente.

Ollavo finalmente pode sentir o peso sair de suas costas, mas a preocupação ainda está ali, mesmo que não demonstre emoções claras. Ele resolve que está na hora de voltar para casa, de qualquer forma, ele não pode fazer nada nesse momento, ele sabe que Olliver nem sequer vai querer olhar na sua cara e o garoto é o único motivo para ele ainda continuar aqui com todas as pessoas que ele mais odeia. Vai andando até a entrada para sair sem se comunicar com ninguém, mas Fernanda nota tal movimento e resolve contestar, pela primeira vez se dirige a ele.

— Pra aonde você vai? – ela pergunta hesitante, sabe que não deveria, mas ela realmente quer que ele fique. Afinal, é o filho dele que está mal.

— O que você quer que eu faça? – ele a questiona parando de andar e se virando para ela.

Fernanda não responde, apenas o olha intensamente esperando que ele a entenda. Mas Ollavo, que ainda mantém uma postura tranquila, não está aguentando mais...

— Você achou o quê?! – ele fala firme, vai jogar as palavras para fora agora que lhe foi dado a oportunidade. – Achou que quando contasse que nós dois somos pai e filho tudo mudaria e a gente viraria uma família feliz?! Achou mesmo que ele me aceitaria como pai?!... Se fosse à 19 anos atrás eu podia ter feito algo por ele, eu poderia ter sido um pai pra ele. Mas agora, eu sou o quê?!

Ollavo assume isso com dor, sabe que falar o óbvio só piora a situação, mas porque ele tem que pensar nelas se elas nunca pensaram nele, e nem em como ele se sente.

— Aquele garoto tem mais um motivo pra me odiar agora por causa de vocês_

— Ollavo... – Sandra tenta interromper seu irmão, mas ela sabe que é inútil, pois ele tem todo o direito de estar bravo e de falar o que quiser.

Ele percebe que o que diz vai levar a nada, assume que é inútil, pois isso não traria de volta o que ele perdeu todos esses anos...

— Quer saber, cansei de vocês sempre fazerem merda pra mim limpar e no final, eu ainda levar a culpa como um bobão... Eu vou pra casa dormir, pois amanhã eu trabalho.

Ollavo conclui e se vira novamente, ele sabe que não vai conseguir dormir mesmo que esteja exausto, mas ele precisa sair dali. Nenhuma delas tem coragem de retrucar essas palavras, o mais afetado nessa confusão toda sempre foi o Ollavo, que abaixou a cabeça e aceitou o lugar de culpado, porém agora, ele não vai fazer mais isso, então como elas poderiam sequer se dirigir a ele?

Brotheragem (Romance gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora