Um Lugar Para o Meu Coração

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— Existe algo... – ela fala com os olhos vermelhos, o que pretende dizer vai a machucar profundamente, mas com confiança e seriedade, diz a verdade. – Olliver é fruto de um incesto... O pai do Olliver é meu primo.

Após escutar essas palavras, o médico Levi viu e sentiu aqueles olhos transparecerem arrependimento e tristeza, foi quando ele pensou em dizer algo sobre o assunto, mas de qualquer forma ele apenas ia dar sua opinião e como um profissional ele nunca poderia se envolver dessa maneira.

Ele olha para o papel na sua mesa, sente que essa situação está o afetando de alguma forma, então para fugir desse momento de tensão, ele lembra de algo que havia de perguntar minutos antes desse silêncio perturbador começar.

— Entendo, vou ter que avaliar os genes seu e do pai biológico de Olliver, só para ter uma visão melhor da situação. – ele deu sua breve explicação sem olhar para elas, ainda focado na folha á sua frente, olhando firmemente a questão escrita no papel, mas resolve olhar para as duas antes de realizar sua pergunta. – Eu gostaria também de conversar com um menino chamado Thalles. Será que vocês me dão acesso á ele?

As duas o olham estranho, por que o menino foi citado agora? Ele nota isso.

— Bem, Olliver durante a conversa que tivemos sobre os relatos de seus incidentes de perda de consciência, ele sempre citava esse nome, seja em momentos antecedentes ou posteriores aos acontecidos. Seria bom eu ter a visão dos ataques de um forma segundaria, através de outra pessoa além do paciente, assim posso avaliar de um modo mais amplo. – ele explica para as duas sem tirar os olhos delas.

— Ele é meu filho, posso falar com ele, mas é realmente importante? – Sandra pergunta, pois não quer envolver mais seu filho com coisas ligadas à Olliver, pode parecer egoísta num momento como esse, mas ela não quer usar seu filho novamente.

— Sim, até porque eu senti que Olliver tem um carinho muito especial por seu filho. – Levi diz isso com cautela, pois ele já sabe sobre os sentimentos do paciente para com seu primo.

Levi realmente não queria tocar em coisas íntimas de Olliver, mas quando percebeu que ele citava inúmeras vezes esse nome, quase que sem perceber, ele teve que perguntar qual era sua relação com essa pessoa, foi nesse momento que ele viu seu paciente ficar mais vulnerável do que já estava. Ele naturalmente explicou toda a relação dele com seu primo, e agora o médico sabe de mais coisa do que as próprias mães dos dois indivíduos.

Sandra escutou a frase e parou seus pensamentos perante ela. “Eu senti que Olliver tem um carinho muito especial por seu filho.” Fez ela pensar em quão insano é essa situação, e quanta hipocrisia havia rondando seus pensamentos nesses dias.

“O que eu estou tentando fazer?!”

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O caminho de volta á recepção foi silencioso, as duas não se pronunciaram, cada uma com suas perturbações entre passos pesados e lentos.

Fernanda pensa em como foi egoísta e precipitada em suas decisões, durante toda a sua vida, ela fez suas escolhas mal pensadas, para no fim, quem levar o maior peso nisso ser seu filho. Isso a machuca tanto que seu coração palpita entre a ansiedade e o medo, junto com o amor incondicional que tem pelo Olliver. Ela suspira em meio a sua tristeza.

Porém Sandra, de fato, a mais perturbada entre as duas, está sendo assombrada pelas lembranças daquela noite de insônia, aonde descobrira algo que a deixa um passo mais perto do desespero total, mas, depois de analisar o passado e o presente, percebe que as semelhanças entre os ocorridos são igualmente atormetadoras. Mas será que o futuro da situação atual pode ser diferente da passada?

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