A hipocrisia

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Érico desliga o telefone celular, após aceitar o convite de Olliver para ir a despedida de solteiro de Daniel acompanhado de Ollavo. Apesar de estar grato por terem lembrado de chamar ele para a festa, sinceramente, não está muito animado. Afinal, ir em uma despedida de solteiro em um clube de strip-tease para homens não é muito agradável sendo a pessoa que é, ainda mais com suas preferências. Além de ainda estar inquieto por não saber aonde o militar se escondera nesse hotel enorme, não sabe como irá avisa-lo sobre a festa.

Na tarde do dia anterior, quando voltaram para o hotel, Ollavo recebeu uma ligação “urgente” na qual o fez sair apressadamente sem dizer para onde iria. O jovem tinha o plano de seguir com cautela o homem mais velho para descobrir, enfim, em qual quarto ele está hospedado. Porém desistiu após constatar que Ollavo fez aquilo de propósito. Ele ainda ri ao lembrar de como ficou parado sozinho no salão de entrada, acha engraçado o Major estar realmente sendo reservado ao ponto de ter que o enganar com uma “ligação urgente”.

Esse receio do Ollavo de ter um contato mais íntimo com Érico só o instiga cada vez mais a correr atrás dele, tanto que o jovem pensa em, talvez, até invadir de surpresa o quarto do seu mais novo amigo. Entretanto, primeiramente, tem que descobrir o número do quarto.

Esquecendo suas possíveis hipóteses e preocupações, mesmo relutante, decide por ainda tentar encontra-lo. Érico se levanta da cama, se veste e faz suas higienes, olha a hora no celular e percebe que já se passam das 9 horas, se não descer logo perderá o desjejum e não conhece os arredores do hotel para comer fora, então se apressa.

Chegando no salão ouve uma voz conhecida passar por de trás de seu ouvido, mas quando olha para trás não encontra nenhum rosto familiar. Segue em frente no salão, no balcão de self-service pega um pedaço de bolo, um sanduiche natural e um suco de carambola. O ambiente esta praticamente vazio, sendo assim, consegue achar um lugar em frente a uma janela diante da piscina aonde vê várias pessoas e crianças nadando, enquanto outras tomam banho de sol. Ali se senta sozinho, mas quando ia saborear sua primeira mordida em seu sanduiche vê Ollavo andando para trás da piscina, indo em direção a saída de trás do edifício.

Erico pensa por alguns segundos se sua fome é mais forte que a sua curiosidade, mas logo lembra que essa é uma oportunidade única. Se levanta apressadamente, sai do salão pela porta de acesso a área de lazer e corre até seu alvo quando vê que de pouco a pouco ele some de sua visão.

Quando chega na saída, achando que havia o perdido, se vira e o encontra na parada de táxi olhando seu próprio celular. Tomando coragem, respira fundo e se aproxima.

— Bom dia. – Erico diz parando ao lado do adulto que o olha surpreso.

— Bom dia. – Ollavo responde desanimado, não achava que encontraria o garoto justamente agora.

— Dormiu bem? – Erico pergunta sorridente tentando criar um diálogo antes de entrar no assunto de importância.

Ollavo, que olhava para seu celular tentando ignorar o garoto, respira fundo e o olha.

— Estou ocupado hoje, então o que você quer?

— Nossa, que mal-educado, eu sendo todo amigável com você e é assim que me retribui. – Erico desmancha seu sorriso e cruza os braços. – Como minha mãe me deu educação não vou lhe retribuir com a mesma moeda. Eu podia muito bem não te avisar sobre a festa que você foi convidado hoje.

— Ah, despedida de solteiro do Daniel? – Joga as palavras rispidamente, evitando olhar para o menino.

— Quem te contou?!

— Anderson acabou de me ligar. – Ollavo fala rapidamente olhando para os carros na rua para ver se encontra o Uber que chamara.

— Ah, certo. – Erico fala desanimado, pensando seriamente se não seria uma boa hora de dar meia volta e terminar seu desjejum, ele estava pensando em um jeito de provocar o mais velho, mas desistiu após suas respostas curtas e diretas ditas de maneira tão despreocupada e grossa.

Ollavo estranha esse tom de voz do garoto e direciona seu olhar a ele analisando a situação, um pensamento passa pela sua cabeça, mas antes que possa desistir de sua ideia estupida já começa a se explicar.

— Estou indo no cadete do exército buscar alguns documentos, meu Coronel sabe que estou aqui e quer que eu faça isso por ele. Sei que nada justifica, mas estou irritado de ter que seguir as regras desse bastardo quando estou de folga, foi por isso que respondi de maneira grossa. – Quando termina sua fala e vê um olhar de questionamento no rosto do menino percebe que era melhor ter deixado como estava e não ter se explicado.

Erico, após finalmente assimilar o que fora dito, sorri de alegria concluindo que Ollavo disse isso pois achara mesmo que ele ficara triste com sua a falta de educação anterior.

— Sabe, eu não achei que fosse sério mesmo... – Erico fala mudando completamente sua postura, sendo sincero ao ver que o mais velho o olha surpreso esperando sua conclusão. – Que você me tinha como seu amigo... tanto assim para até se importar em si explicar.

Ollavo pensou em si explicar novamente nos pequenos segundos que o silencio constrangedor se estabeleceu, mas apenas sorri em retribuição. Na verdade, nem ele achou que o garoto viraria seu amigo, com tanta consideração, a ser capaz de se expressar abertamente para ele sem notar. 

— Então... como amigo posso te acompanhar? – Erico pergunta confiante que uma negação vira em seguida, mas ele sente que tem que tentar, se não poderia se arrepender depois. Afinal, pela primeira vez viu Ollavo desarmado de suas proteções emocionais.

— Vai ser entediante, mas se quiser. – Ollavo resolve ser sincero, ter alguém como companhia poderia ser algo bom, mesmo sendo Erico.

O jovem sorri mais ainda dando uma afirmação firme com a cabeça, e logo após Ollavo acena para o carro que chamou pelo aplicativo, em seguida, o carro estaciona na frente dos dois.

— Não tem como nada ser tedioso comigo. – Erico fala animado entrando primeiro no carro e se sentando no banco de trás.

— Algo me diz que eu vou descobrir. – Ollavo murmura para si mesmo abrindo a porta do passageiro e torcendo para não se arrepender de sua escolha futuramente.
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— Mariana, vá atrás dos meninos. Daniel, temos que conversar. – Anderson diz, olhando seriamente para seu amigo.

Mariana após a frase ser dita, prontamente, sai do salão para procurar os dois meninos e tentar, de sua maneira calma, convence-los a ouvirem as desculpas de Daniel. Quer apoia-los nesse momento como fez com seu filho e Rodrigo. Ela queria dar a oportunidade de Daniel fazer isso, mas depois dos acontecimentos de mais cedo e notar o sofrimento explicito dos meninos não deixará isso continuar. Afinal, se eles, como pais, não entenderem seus filhos e os aceitarem, o mundo não fará diferente.

— Eu e o Davi vamos procurar a Alice e a Tati, aquelas duas sapecas sumiram, não é mesmo? – Rodrigo se pronuncia ao ver que os dois adultos no salão querem privacidade para conversarem sobre o assunto.

Davi se prontifica em ir atrás de seu noivo quando o mesmo começa a puxar seu braço para irem para a saída do salão, mas antes de perder o campo de visão de seu padrasto ele deixa claro que está irritado com o mesmo. Com seu rosto sério, testa franzida e olhar fixo nele, revela o quão desapontado e magoado está com as atitudes dele. Chega a ser hipocrisia e falsidade ele aceitar tão abertamente seu noivado, mas ficar relutante em aceitar a união do seu próprio filho.

Daniel nota a seriedade e o desapontamento no rosto de seu afilhado, notando exatamente o motivo do menino estar o direcionando para ele. Nesse momento ele deseja ter feito as coisas diferentes, talvez nada disso estivesse acontecendo, mas quando olha de volta para Anderson e ouve a porta do salão fechar um sentimento de culpa toma seu coração.

— Pode ficar calmo, não vou advertir você pelos seus atos. – Anderson começa, antes de deixar Daniel se explicar, pois, na verdade, ele não quer ouvir explicações. – Nós somos adultos, você sabe muito bem o que faz da sua vida e eu sei que me intrometer não vai resolver em nada. Mas...

— Mas? – Após alguns poucos segundos de silêncio, Daniel fala tentando acabar com esse clima tenso que se formou com a pausa repentina e desanimada do seu amigo.

— Mas eu aceitei eles e acho que você deveria fazer o mesmo. – Anderson fala confiante olhando fixamente para o outro homem no salão.

— Não é como se eu fosse contra, Okay! Eu só não sei o que dizer para ele. – Daniel bufa, tentando achar coragem para assumir tudo que está o assombrando nesses últimos dias. – Eu não esperava isso, eu só não sei como reagir...

— É... Não posso mentir que não me surpreendi quando vi nossos filhos agarrados no chão da sala... Mas não foi algo que me deixou tão pensativo, afinal, eles dois de alguma forma, não sei como ou quando, já demonstravam que a ligação deles não tinha nada haver com a de dois amigos. – Anderson fala isso se lembrando de várias situações estranhas que passou com os dois garotos quando crianças. – Lembra daquela vez que tentei levar Thalles para casa no meio da madrugada e ele agarrou a perna do Olliver dizendo que queria ficar com ele, mesmo com o Olliver morrendo de febre.

Os dois riem ao lembrar do acontecimento.

— Thalles chegou a não deixar a Fernanda medicar Olliver, ele mesmo queria cuidar dele. – Daniel fala sorridente, mas para ao pensar em todo o seu tormento e de repente o sorriso deixa seus lábios, respira fundo antes de concluir. – Mas eles eram apenas crianças... E isso me assusta.

Anderson pensa sobre o que deveria dizer, porém ele conhece Daniel e já sabe o que está o assustando.

— Não é estranho?! O passado ele sempre volta... – Anderson fala olhando para o chão tentando não pensar muito no que vai dizer, pois pode se arrepender. – Eu já ouvi essa história antes, quer dizer, todos nós.

Daniel fica confuso com a mudança significativa de clima, não sabe o que seu amigo quer dizer. Anderson levanta seus olhos para dizer suas palavras seriamente.

— Não seria hipocrisia demais ser contra eles? Sabe, a gente já passou por isso, não temos argumentos. Quando pensei sobre essa situação toda dos dois juntos, analisei todas as possíveis respostas que poderia dar. Eu poderia ser um pai tradicional e falar para eles: “Não, vocês são dois homens, não podem ficar juntos. ” Mas não, eu não gosto de pensar assim, pensava antes e graças a Deus não penso mais. E nem posso usar o tão conhecido: “Vocês vão para o inferno”, sendo que eu não sou ligado a nenhuma igreja e nem religião... – Anderson hesita por alguns segundos, mas tem que chegar no ponto em questão, não quer ver o homem mais justo que conhece, que está na sua frente, sendo hipócrita, seria uma decepção insuportável. – Ou posso falar uma coisa pior ainda, tipo: “Vocês são da mesma família, são primos, não podem fazer isso! O que o resto da família falaria de vocês e dá gente”. Não faria sentindo também, sabe, eu acabei percebendo que o pior da história já aconteceu no passado. Se separarmos os dois, como fizeram antes, o resultado não vai ser pior? Tudo o que podemos falar ou fazer contra vai ser a pura e a mais genuína hipocrisia.

Daniel escuta calado e tem que assumir que cada uma dessas palavras são verdades, tanto que o machuca. Pensa no que pode responder a isso, mas seu coração está transbordando de arrependimento.

— É por isso que me sinto culpado, só agora a ficha caiu, olhando para os dois... percebo que sou culpado também e sinto remorso...

Anderson fica confuso, não achou que escutaria algo assim como resposta e seu rosto transmite sua duvida.

— Todo mundo me pergunta se eu superei de verdade. Meus amigos me ligaram preocupados e acharam um absurdo o Ollavo ter sido chamado para o meu casamento. É claro que eu usei a desculpa que o Olliver sabe que é filho dele e que eu queria deixar claro, com esse gesto, que superei tudo o que aconteceu e que quero ver eles juntos... felizes. Mas acho que não vou conseguir fingir por muito tempo, quer dizer, não consigo. – Daniel olha para cima, fugindo de olhar nos olhos de Anderson. – A verdade, é que agora, eu me sinto a pessoa mais insensata e hipócrita do mundo.

— Como assim? – Anderson pergunta quando percebe que seu amigo, de alguma forma, mostra um lado novo dele.

— Você tem razão, todos nós escutamos a história. O engraçado é que ela não soa da mesma forma para mim. – Daniel respira fundo. – Meu coração não perdeu uma pessoa, perdeu duas, ele não teve que superar uma pessoa apenas, mas sim, duas...

Anderson fica cada vez mais confuso, não entende quem seria a segunda pessoa, mas quando cai a ficha se surpreende e olha fixo para Daniel. Nesse momento Daniel sabe que vai ter que explicar desde o início, se não seu amigo não irá entende-lo.

— Querer ficar com a Fernanda era um capricho meu e eu sabia disso, mas eu amava tanto os dois, não conseguia ver que eles dois ficavam melhor sem mim, eu era a merda de um egoísta. Eu queria os dois para mim, meu irmão e a garota dos meus sonhos, mas eu era o outro e o outro não é tão participativo assim... Casar com a Fernanda me deixou feliz por um tempo, mas foi inútil, pois percebi que eu não era amado plenamente e Ollavo já não participava mais da minha vida, estávamos pouco a pouco nos afastando. E a gente sabia o porquê... Porque eu tinha feito algo horrível.

Anderson finalmente viu um brilho incomum nascer naqueles olhos a sua frente, ele se aproxima dele dando dois passos, mas desiste e para. Ele sabe que Daniel ainda não acabou.

— Eu fui o outro. Eu tirei ela dele, e depois tirei o filho dele. Aceitei enganar ele, o cara que eu chamava de irmão. Ele confessou para mim que amava ela, que não desistiria dela por nada nesse mundo e eu prometi que não ia fazer nada. Mas eu fiz... todo mundo olha para mim e me coloca nesse lugar de o marido deixado ou o cara traído pelo melhor amigo... O engraçado é que ninguém quis escutar a primeira parte da história. Eu nunca me senti culpado por isso, ninguém nunca nem sequer notou que fui eu o mais errado nisso. O Ollavo está aqui porquê eu achei que quando visse ele eu sentiria culpa o suficiente para conseguir ser sincero com ele, mas no final, não senti nada. Ele me olha como se ele fosse o culpado de tudo e eu fosse inocente. E o pior, eu continuei achando que era.

Daniel respira fundo, sente sua garganta ficar seca e ao lembrar dos acontecimentos repentinos dos últimos dias com o seu filho a culpa o afeta novamente.

— Mas quando eu vi o Olliver beijar o Thalles.... Meu Deus! Era como se eu voltasse praquele tempo! E eu vi, percebi como eu fui idiota e estúpido... não posso acreditar até agora que eu vou ter que aceitar o Olliver com o Thalles, sendo que naquela época eu pensava como todo mundo. É insano, eu sei! Eu me acho um babaca só de pensar que eu não consigo me desligar desse passado inútil. Mas a verdade é essa, eu não consigo ver os dois juntos, me dá remorso só de pensar que eles são, exatamente, o que a Fernanda e o Ollavo eram.

Anderson escuta e termina sua aproximação dando alguns passos na direção de Daniel que agora está com os olhos perdidos, correndo pelas paredes do salão.

— Acho que no mundo, se existissem mais homens como você, seria um lugar melhor. – Anderson toca com suas mãos os ombros do homem perdido na sua frente.

— Isso é um elogio? – Daniel finalmente olha para ele querendo rir de uma declaração dessa depois de tudo que ele disse.

— Pode considerar que sim. – Anderson diz dando um sorriso reconfortante sendo plenamente sincero. – Não conheço ninguém como você, e acho que Mariana tirou uma sorte grande.

Anderson abraça Daniel, está surpreso por alguém como ele realmente se arrepender de seus erros, mesmo que já tenha passado anos, não pode acreditar que tudo que atormenta esse homem é remorso. Pensa em um conselho para ser dito agora e chega na conclusão que tem um perfeito.

— Ollavo não precisa escutar essas palavras, ele também errou nisso, acho que todos erramos. – ele se afasta desmontando o abraço e olha para seu amigo. – O melhor que você tem a fazer agora, é abraçar seu filho e não deixar essa merda acontecer de novo. Pois acho que se separarmos aqueles dois, se é que é possível, o resultado pode ser muito pior. Se quer recomeçar de verdade com a Mariana, vai ter que aceitar a união dos dois.

Daniel consente com a cabeça, não sabe como vai fazer isso agora. No fundo, está com remorso de não ter feito isso desde o princípio. Tem que consertar todas as atitudes ruins e mal pensadas desses últimos dias, o que não será uma tarefa nada fácil.

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— Olliver. – Mariana chama o nome do menino ao encontrá-lo no estacionamento encostado no carro abraçado com Thalles.

Quando Olliver abre os olhos, instintivamente tenta se afastar de Thalles e o menor se separa dele pelo susto de ver Mariana.

— Vocês sabem que não precisam agir assim comigo, né? – ela diz se aproximando deles e vendo eles se envergonharem um pouco. – Eu queria muito pedir desculpas por não ter falado com vocês antes, mas lhes dou meu apoio. Afinal, vocês são lindos juntos.

Olliver e Thalles não sabem o que dizer, após o que passaram nunca pensaram em escutar algo tão positivo assim sobre eles. Mariana vê o sorriso nascer no rosto dos dois meninos e mesmo não querendo se posicionar no lugar de Daniel sente que deve fazer isso.  

— Olliver, peço que tenha paciência com seu pai. Daniel pode estar demonstrando que está decepcionado com a união de vocês, mas na verdade ele só está apreensivo e ansioso... Ele nunca pensou em passar por isso, eu mesma quando o Davi veio a mim dizendo que gostava de meninos, ainda muito novo, eu também não agi de forma tão compreensível.

Mariana respira fundo se lembrando do dia em que seu filho de 11 anos na época a perguntou, com palavras inocentes e vagas, se ela sentia arrepios quando garotos chegavam perto dela como ele sentia. Foi dali que ela percebeu que ele poderia ser gay, mas não o aceitou prontamente e se arrepende, pois só o aceitou quando foi chamada na escola pela diretoria para discutirem os atos estranhos do seu filho. Foi assim que ela percebeu que deveria acima de tudo amar, ouvir e entender seu filho, pois o mundo não faria isso no lugar dela.

— Isso pode parecer uma desculpa desleixada, mas seu pai ele é desnecessariamente cauteloso, ele pensa demais e depois faz. Então dê esse tempo a ele para pensar. Eu tenho certeza que ele vai escolher o certo, pois você conhece ele e nós dois podemos afirmar que ele é o homem mais justo que conhecemos. – Mariana diz isso confiante, olhando para os meninos que não estão mais sorrindo, até eles tem dúvida se Daniel irá ou não aceitar essa união.

Mas antes que pudessem formular um agradecimento a Mariana pelas palavras reconfortantes, veem Alice correndo em sua direção fugindo de Tati.

As duas meninas em euforia são acalmadas por Mariana que as advertem de estarem correndo no estacionamento sozinhas. Logo após isso Davi e Rodrigo que estavam atrás das duas sapecas finalmente as acham e se juntam ao grupo esperando Daniel e Anderson terminarem a conversa.

Mariana tinha muitas coisas a dizer aos meninos, mas nesse momento, com tantas pessoas a única coisa que pôde fazer foi dar um sorriso de solidariedade e piscar amigavelmente para os meninos. Olliver e Thalles pela primeira vez sentem uma inveja incomparável, pensam em suas mães e em como queriam que elas os aceitassem como Mariana está demonstrando o aceita-los.

Os dois se olham e desencostam do carro. Nesses pequenos segundos, Olliver sente falta da mão de Thalles na sua, ao ver os olhos do menor tão reconfortados pelas palavras de Mariana pensa se não devem começar a agirem como verdadeiros namorados.

Chega na conclusão que não precisam mais fingir que não são, todos ali os entendem e os aceitam. Com coragem agarra a mão do seu namorado que o olha surpreso, mas logo sorri para ele e retribui o aperto em sua mão, Thalles entende que nesse momento eles não precisam se esconder. Um gesto simples que todos notam e si sentem felizes por eles, Alice, em um gesto de apoio, pisca para seu irmão mais velho e gesticula com a boca: “Lindos!”. Nesse momento os dois sentem que não há nada que seja capaz de separa-los.

Davi e Mariana estavam decidindo aonde todos iriam almoçar quando Daniel e Anderson finalmente aparecem para irem embora. De certa forma, agora Daniel está decidido a falar com seu filho e tirar esse mau entendido e amargura de seu peito. Porém, ainda não consegue olhar nos olhos de Olliver, sua vergonha e remorso ainda o afetam e ainda mais ao notar que os dois meninos estão de mãos dadas de forma tão “natural”.

Foi quando todos se acomodaram dentro dos carros que Mariana deixou um suspiro desanimador sair dentre seus lábios. Se Daniel não resolver as coisas com Olliver ela realmente começará a repensar sobre quem ela escolheu casar.

Daniel que está no outro carro, levando consigo Davi, Rodrigo e Anderson para o restaurante no centro para almoçarem, sabe que está em maus lençóis. Sabe que sua noiva e seu afilhado também estão ressentidos com suas atitudes, tem tantos arrependimentos que nem cabem em si próprio. Mas lembrando da conversa com Anderson, sabe que tem um ponto de partida para resolver tudo.
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Érico espera pacientemente na recepção do cadete Ollavo voltar, pois não pôde entrar com o Major para buscar os documentos. Ele quase conseguiu convencer a recepcionista de que ele era um militar ajudando seu superior, porém foi pego quando ela pediu para ele fazer a reverência militar e ele acabou usando o braço errado. Entretanto, mesmo sem ter conseguido entrar está feliz, pois conseguiu fazer Ollavo rir com sua atuação e isso já valeu a pena.

Nesse momento, sua fome intensifica cada vez mais, sentado no banco de espera percebe que o mais velho tinha razão, é tedioso ficar ali. Mas no meio do tédio acaba direcionando sua atenção a uma estante de vidro com fotos antigas, troféus, medalhas e ternos de superiores; um pertence a um Major, um ao Coronel e outro ao Marechal. Ele se levanta e vai até ela, acaba vendo a hierarquia militar e descobre que Ollavo realmente tem uma delegação importante como Major. Ele sorri ao ver o terno de gala que seu amigo deve usar. Ele já o viu uma vez de farda militar e realmente o achou atraente, mas nunca com o terno de gala de Major, seria fantástico o ver com esse terno e todas as medalhas pendurados, só de imaginar já fica encantado e extremamente curioso.

— Casar com um homem vestido de uniforme militar de gala deve ser um sonho. – ele murmura alto suspirando, sonhando mais do que lhe é permitido.

— Fernanda falava a mesma coisa. – Ollavo diz por atrás do garoto o assustando e acaba rindo da reação desajeitada dele.

— Aí, minha Santa purpurina! E para que lembrar dela agora?! – Érico, após se recuperar do susto de ser pego pensando alto, fala sem pensar e logo se arrepende de ter dito isso tão rispidamente quando vê que o mais velho o olha sério em silêncio por alguns segundos, então resolve se explicar. – É...

— Vamos embora, já peguei os documentos. – Ollavo fala cortando o garoto e andando até a saída rapidamente.

Érico o segue realmente arrependido do que disse, não entende como deixou seu ciúme sair tão facilmente. Enquanto os dois esperam o Uber chegar com um silêncio constrangedor entre eles, Ollavo tenta disfarça seu desconforto por ter lembrado de algo assim perto do garoto evitando o olhar.

— Você tem um cargo importante, né? Todo mundo deve ti respeitar. – Érico faz a observação esperando que Ollavo o responda.

— Nem todo mundo. Meus superiores só faltam pisar na minha cabeça. – Ollavo fala sem olhar para o menino.

— Olhando para aqueles ternos pensei em você vestido em um deles, imaginei que você deve se sentir muito importante e respeitado vestido nele com todas as medalhas. – Érico diz sendo sincero depois de notar que o silêncio se estabeleceu de novo.

Ollavo olha para o garoto surpreso, ele acabou de dizer que o imaginou vestido no terno e lembra da frase do menino anteriormente: “Casar com um homem vestido de uniforme militar de gala deve ser um sonho. ” Ele não quer pensar muito sobre isso, então pensa em uma resposta antes que sua cabeça comece a deduzir coisas desnecessárias.

— Na verdade, não me sinto assim. Nunca me senti, mas sei que quando estou vestido com ele chamo mais atenção e sou mais respeitado do que sem, é por isso que evito, de toda forma possível, de usá-lo. Não quero ser visto ou respeitado pelo meu título, pois isso evidencia a falsidade das pessoas. – Ele fala com mais sinceridade do que realmente queria demonstrar, afinal, tem más lembranças dos momentos que passou vestido com o terno de gala.

Érico pensa nessas palavras e tem uma resposta perfeita para isso, o que o faz sorrir para o seu amigo.

— Só por você falar isso eu já te acho alguém digno de muito respeito e autoridade. E sim, isso é um elogio sincero. – ele diz olhando alegremente para o mais velho que reage em surpresa.

— Ah, obrigado. – Ollavo responde sem graça, ainda tentando entender como o assunto parou nisso, mas antes de tentar dizer mais alguma coisa escuta um barulho alto e claro vindo da barriga do garoto ao seu lado. – Você está com fome?!

— Bem, eu não tomei café da manhã e ainda falta muito para a hora do almoço no hotel... – ele fala sem graça tentando se justificar, mas logo um sorriso nasce no seu rosto ao perceber que pode se aproveitar do momento e convidar Ollavo para comerem juntos, mas antes de conseguir abrir a boca novamente...

— Vamos comer alguma coisa, conheço um lugar bom por aqui, tenho certeza que você vai gostar. – Ollavo fala vendo o garoto ficar surpreso com o convite.

Logo o carro chega e Ollavo pede ao motorista para trocar de rota, os dois vão para uma confeitaria, simples e aconchegante, se sentam em uma mesa e comem um bolo por recomendação do Major. Os dois conversam amigavelmente, enquanto comem rindo vez ou outra falando bastante sobre a infância de Alice e Tati, e de como as duas sapecas são parecidas em vários aspectos.

Érico não consegue acreditar que está tendo uma conversa sincera e extrovertida com o homem que a alguns meses atrás considerava uma personalidade intocável. Ele está realmente feliz, mas através da janela na frente da mesa que estão sentados acaba olhando a vitrine de uma loja de roupas masculinas e lembra que ainda não comprou uma roupa boa para ir ao casamento. Ele suspira pesadamente pensando que seria um abuso pedir isso a Ollavo, é claro que o homem mais velho negaria.

Porém, coincidentemente, o Major pensa na mesma coisa, ele precisa de um terno, pois não trouxe nenhum, vendo a hora em seu celular acha que tem tempo de comprar um agora.

— Temos que ir, tenho coisas a resolver. – Ollavo diz se levantando e indo ao balcão pagar a conta.

Érico pensa na possibilidade de ir fazer compras sozinho, não deve ser difícil, sabe o endereço do hotel, se si perder é só chamar um Uber e voltar. Ele se levanta e vai atrás de Ollavo que já está saindo da loja.

— Vou chamar um Uber para você, tenho que resolver coisas aqui no centro. Então_

— Não precisa, eu também tenho coisas a fazer, quer dizer, preciso de uma roupa para ir no casamento. – Érico fala vendo Ollavo parar na sua frente na calçada e o olhar surpreso.

— Sério! Você é bom em escolher terno? – Ollavo pergunta, pois toda vez que vai comprar suas roupas sempre pede ajuda de Alice ou Dulce e já que nenhuma está disponível, pensa seriamente em levar Érico com ele.

— Na verdade, não querendo me gabar, eu sou ótimo nisso. – Érico fala animado, já imaginando o que possa vir a seguir como resposta.

— Quer me ajudar nisso? – Ollavo pede sem pensar se irá si arrepender ou não, já está se acostumando com o jeito do garoto e até gosta de falar com ele, imagina que ele realmente pode ser útil.

— Com certeza. – Érico responde sem demora segurando sua euforia, não consegue acreditar que foi convidado pelo militar para irem fazer compras.

“Minha Santinha Purpurinada! Muito obrigado, esse é o melhor dia da minha vida! ” – Érico pensa assim que Ollavo começa a andar em frente na rua e logo o segue, se segurando para não saltitar de alegria.
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Durante todo o almoço Olliver e Daniel não mantiveram nenhum contato, sentados em mesas separadas conversando sobre assuntos aleatórios se ignoram completamente. Todos os outros notam o clima ainda frio entre pai e filho, e apesar de todo o ocorrido respeitam esse silêncio, afinal, só os dois podem resolver isso agora.

Olliver não quer ter que discutir com o seu pai novamente, ainda está irritado com as atitudes dele e depois de ouvir as palavras reconfortantes de Mariana está decidido que não irá mais se esconder, seu pai querendo ou não ele ama o garoto sentado ao seu lado na mesa. Daniel ainda não sabe com que palavras vai se expressar para pedir desculpas ao seu filho, pois ainda é estranha a ideia de seu filho e sobrinho estarem juntos. Olhando para os dois da mesa aonde está sentado, ambos tão próximos e rindo, tenta desde já os aceitar como um casal, mesmo sendo difícil deve isso a seu filho e a si próprio.

Davi aproveita que seu padrasto está longe da mesa e resolve conversar com Olliver sobre a despedida de solteiro dos noivos. Planejam como irão separa-los e os levarem para as respectivas festas. Olliver tem que arrumar um jeito de enganar seu pai, pois o mesmo não aceitaria facilmente ir a um bar de stripper. Por conhecê-lo bem, sabe que terá que arrumar uma boa desculpa para levá-lo ao bar, em meio aos seus pensamentos pede ajuda as pessoas sentadas com ele na mesa. Davi, Rodrigo, Thalles, Alice e Tati tentam dar várias ideias, porém nenhuma é realmente boa para por em prática e descarta todas elas. Entretanto, quanto estava quase desistindo de enganar Daniel seu meio irmão lhe faz uma proposta interessante.

— Que tal se aproveitar do momento e falar para ele que você quer conversar com ele a sós? Assim ele nunca desconfiaria e iria aonde você quiser. – Davi dá a sugestão sabendo que Daniel nunca negaria e nem imaginaria que, na verdade, é uma desculpa para o levar em uma festa.

Todos na mesa ficam sérios e em silêncio, não que a ideia seja ruim, porém mexer com esse assunto não é algo tão simples assim. Esperam a resposta de Olliver que pensa por alguns segundos em silêncio, não acha uma má ideia, mas não parece certo ao mesmo tempo.

— Eu não sei se... – Olliver começa a falar, porém logo para ao pensar que se seu pai leva-lo sério e realmente querer conversar com ele, o que ele faria?

Olliver ainda está apreensivo sobre esse assunto e instintivamente olha para seu pai a algumas mesas a frente dele e percebe que o mesmo estava o observando com um olhar de coruja, Daniel desvia o olhar logo que é descoberto voltando a comer tranquilamente.

— Acho que vou fazer isso. – Olliver fala confiante, voltando a olhar para todos na mesa. – Afinal, ele nunca irá desconfiar se eu fizer isso e ele ama surpresas.

Thalles se surpreende com essa resposta e pensa em aconselhar seu namorado a não fazer isso, mas percebe que nesse momento quem tem que fazer esse tipo de escolha é apenas Olliver. Afinal, isso é um assunto restrito a pai e filho, então confundir seu namorado com pensamentos vãos não vai ajudar.

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Erico achava que era o ser mais indeciso que existia no universo, mas depois de ver Ollavo passar por cinco lojas sem sequer provar um terno ou ficar interessado em um conclui que seu novo amigo merece o título. Ele já escolheu seu terno, na segunda loja que passaram encontrou um terno do seu agrado, se acha sortudo por ter achado um tão rápido e mesmo tendo visto outras opções pelas lojas que passaram não se arrepende do que comprou para si.

Ele espera pacientemente Ollavo sair do provador, torcendo para que o terno de linho azul escuro sirva e que o militar goste, pois não quer mais ter que andar e está ficando com fome de novo.

Anteriormente, o major discutiu com ele dizendo que queria escolher um terno sem ter que o provar, depois de uma breve conversa um pouco exaltada Érico o convenceu dizendo que se não servisse ele não poderia voltar na loja para trocar. Então, mesmo relutante, Ollavo entrou no provador, mas está demorando demais para sair.

Érico bufa olhando o relógio imaginando o que possa estar fazendo Ollavo demorar para vestir um simples terno.

— Ollavo, por que está demorando tanto? – Érico chama enfrente ao provador aonde seu amigo está.

— Desisto! – Ollavo irritado sai do provador vestido com terno submedida, com a gravata na mão e a gola da camisa preta levantada.

Érico fica surpreso com o homem a sua frente, Ollavo está lindo com o terno, fica estático admirando a beleza e porte masculino que o terno dá ao militar. As atendentes da loja também param seus afazeres ao verem o homem grosseiro que entrou na loja sair do provador elegante, atraente e, de certa maneira, sexy.

— Você está magnífico. – Érico o elogia sem vergonha alguma ou receio, porém o homem continua mudo o olhando estranho. – Não sabe colocar uma gravata?

O garoto corta o clima ruim causado por sua primeira frase indo em direção ao Major.

— Não. – Ollavo, prevendo que o garoto se ofereceria para o ajudar se vira rapidamente para o espelho enorme na parede ao seu lado e arruma a gola da camisa. – Mas acho que ficou bem sem a gravata, não irei usá-la.

Érico observa esse afastamento rápido de Ollavo e sorri, não vai desistir tão facilmente assim.

— E por acaso você colocou a gravata para ver se realmente sem ela é melhor. – Érico fala rindo continuando sua aproximação, porém o militar se recusa a virar-se em direção ao garoto e se aproxima mais do espelho.

— Nunca gostei de usar gravata, quem insiste para mim usar é sempre minha mãe ou Alice. Já que as duas não estão aqui posso ficar tranquilo. – Ollavo diz realmente ficando preocupado com o porquê de estar ficando tão nervoso.

— Mas acho que elas têm razão em insistirem, deve ficar mais lindo ainda com uma. – Érico fala se encostando no espelho ao lado do reflexo do Militar, assim podendo o olhar diretamente.

— Estou melhor sem ela. – Ollavo diz confiante se afastando um pouco do espelho e se olhando de longe, não pode acreditar que está ficando envergonhado pelos elogios exagerados do menino.

— Então vamos ter certeza, deixa eu colocar ela para você. – Érico tira abruptamente a gravata da mão do militar, em um movimento rápido o puxa pela gola da camisa sem medo algum e sem esperar qualquer indagação passa a gravata pelo pescoço do homem calado a sua frente o olhando sério.

Ollavo pode muito bem empurrar o garoto ou impedi-lo de fazer isso, mas o jeito irritante do jovem e presunçoso o fez lembrar de alguém. Por esses pequenos segundos com Érico colocando a gravata nele sente saudade de algo que não tem coragem de dizer em voz alta. Então o deixa lhe ajudar, pois o menino aparenta estar realmente feliz em fazer isso.

Quando Érico termina se afasta de Ollavo para o mesmo poder ver seu reflexo no espelho e o homem assume para si mesmo que está realmente magnífico.

— Sendo sincero, você está lindo vestido assim, mas acho que prefiro você sem. – Érico fica sorridente ao ver o militar o olhar assustado depois de sua fala.

— Você tinha razão... – Érico se aproxima novamente do militar e puxa devagar o nó da gravata o desfazendo. – Você fica melhor sem ela.

Ollavo fica mudo vendo o garoto se afastar dele com um enorme sorriso no rosto. Érico está extremamente feliz, pois conseguiu deixar o militar envergonhado e mudo.

— Que tal tentarmos uma gravata borboleta? Eu amo homens que combinam com gravatas borboletas. Vamos ver se você fica bem. – Erico fala contente indo em direção a uma das atendentes para lhe pedir uma gravata do gênero.

Ollavo olha para seu reflexo, ele sente vontade de rir da forma idiota que seu rosto está transparecendo sua vergonha ao ter interpretado mal a primeira frase do garoto. Deixa um sorriso aparecer em seu rosto envergonhado pensando que arrumou um bom amigo, apesar de tudo, tem que admitir Érico é único.

— Vamos tentar essa? – Érico volta com uma gravata borboleta na mão. – Juro que não vou mais ti irritar se essa não combinar.

As atendentes olham a cena dos dois e acabam achando engraçado, pela primeira vez estão vendo um casal tão inusitado na loja. Ollavo e nem Érico percebem que viraram a atração do lugar, os dois estão pensando em como resolverem a situação de sua maneira. Ollavo quer recusar a gravata, enquanto Érico quer convence-lo de usa-la.

— Acho melhor não.

— Também acho que ficará bem em você, deixe o menino colocar. – a costureira de idade avançada atrás do balcão para o que está fazendo para observar os dois com um sorriso meigo nos lábios e sustenta a sugestão do garoto. – São poucos homens que se atrevem a usar uma gravata borboleta. Tente.

Érico acaba ficando mais animado ainda quando percebe que Ollavo consente levemente com a cabeça, quase não aguenta a euforia, pela segunda vez no mesmo dia vai ficar a centímetros de distância do Major. Afinal, aquele artigo que teve que escrever para a revista que trabalhava sobre gravatas, ensinando como colocar e em que situação usar, serviram de grandíssima ajuda.

Ele se aproxima novamente de Ollavo, só que agora de maneira diferente, devagar e sem pressa, já que dessa vez o homem consentiu em o deixar colocar a gravata. Levanta a gola e passa a fita em volta do pescoço dele. Seu coração não para quieto dentro do peito, com o mínimo de cuidado e lentamente faz o nó borboleta, tentando aproveitar o momento e se concentrando em não errar.

Ollavo nesse um minuto fica parado feito gelo olhando fixamente para frente, sem apresentar reação ou emoção alguma, mas nota que o jovem está gostando mais da situação do que ele. Um pensamento lhe vem rapidamente a cabeça e olha instintivamente para o garoto que tem um sorriso largo no rosto.

“Ele realmente gosta de mim ou é apenas interesse físico? ” – Ele interrompe seu pensamento ao ver o menino lhe olhar de volta.

— Já terminou? – Ollavo pergunta ainda olhando para o menino.

— Sim. – Érico responde sem graça por estar ficando com o rosto quente e se afasta do homem para que o mesmo possa se ver no espelho novamente.

Ollavo realmente não gosta de gravatas, mas de repente olhando como está bem vestido agora, começa a aceita-las.

— O que acham? Ficou bom, né? – Érico pergunta para as atendentes, depois de notar que todas estão realmente admiradas em ver que o homem ficou realmente bem.

Todas concordam, inclusive a costureira. Ollavo sorri ao perceber que realmente nada pode ser entediante com o jovem, até tem uma plateia que concorda com o garoto. Ele se vira para ir ao provador tirar o terno, mas para ao ouvir...

— Eu ti disse, amo homens que combinam com gravatas borboletas. – ele diz sendo sincero e vai em direção ao balcão sem esperar resposta, se é que teria uma.

Ollavo segue seu caminho para o provador sem dar muita importância para o que ouviu, afinal isso é consequência de estar se aproximando de Érico, a pessoa que ele sabia que está interessado nele.

Enquanto tira o terno pensa em todas as coisas que aconteceram nesses últimos dias em relação a ele e ao menino, se sente responsável por estar deixando o garoto se aproximar dele tendo plena consciência que ele está explicitamente atraído por ele. Pensa que se isso continuar terá que ser sincero com o garoto, essas aproximações exageradas e elogios a qualquer momento evidenciam que Erico acha que pode acontecer algo. Não pode alimentar isso dentro do menino, seja só um interesse físico ou sendo algo sentimental. Tem que deixar claro que esse tipo de relação nunca será recíproca.

Quando Ollavo sai do provador e vai ao balcão para pagar o terno, a camisa e a gravata, a atendente já se apressa em colocar as vestes na sacola. Ela lhe avisa que seu companheiro já pagou e que está o esperando na parada de táxi ao lado da loja. Ollavo fica tão furioso que nem corrige a mulher por confundir ele e Érico com um casal e simplesmente sai da loja levando a sacola.

Encontra o menino sentado no ponto mexendo no celular e para na frente dele.

— Por que pagou? – pergunta grosso.

— Quis ti dar um presente. – Érico diz sorridente olhando para o homem notavelmente bravo na sua frente e sente vontade de rir, pois já previra essa reação. – Mas se você não quiser aceitar pode me pagar me levando para almoçar.

Ollavo solta um riso curto ao deduzir que o garoto fez de propósito, ambos sabem que ele odeia ganhar presentes sem dar nada em troca. Não consegue acreditar que o garoto é realmente um perseguidor incansável.

— Um almoço não paga um terno desse. – Ollavo fala mais grosso e alto do que realmente queria dizer.

— Bem, então você pode me pagar me levando para jantar também e se não for suficiente podemos sair para beber. – Érico sorri contente com o rumo que as coisas estão levando.

— Não, prefiro pagar em dinheiro. – Ollavo fala realmente irritado achando isso um suborno.

— Eu não aceito dinheiro, mas se não quiser que seja pago dessa maneira eu posso lhe dar outras opções. – Érico fala travesso brincado com o assunto para tentar dissolver a raiva do homem em pé na sua frente e o fazer desistir de o pagar, o que seria uma coisa realmente constrangedora.

Seu ato não foi com segundas intenções, ele realmente quis agradar o homem que o convidou para sair em um dia que, provavelmente, passaria entediado no quarto do hotel. Sabia que ele reagiria de forma dura e está feliz por isso, pois se aproximou tanto do homem que consegue até prever suas reações.

— Será que não dá para falar a sério com você sequer uma vez?! Eu estou falando sério! – Ollavo se irrita cada vez mais com a petulância do garoto de estar flertando com ele tão abertamente.

Nesse momento Erico percebe que Ollavo realmente está levando isso a sério demais e constata que o mesmo deduziu coisas erradas sobre seu ato.

— E eu também estou, o que custa aceitar meu presente?! Amigos dão presentes uns aos outros e saem para jantar em retribuição. Que mal tem?! – Érico agora monstra sua frustração e desgosto em ver que o militar está fazendo questão de recusar seu presente, uma atitude idiota. Porém, fica mais magoado pelo fato de Ollavo não aceitar o retribuir com um simples almoço.

Ollavo ia tentar contra argumentar, mas para ao perceber que o garoto tem razão, se fosse outros amigos dele lhe dando um terno de presente ele com certeza os chamaria para jantar ou beberem algo. Conclui que perdeu a razão, o problema nessa situação é que ele ainda não sabe como lidar com uma personalidade tão inflexível e extravagante como a de Érico, de uma certa forma ficou apreensivo novamente de ter que lidar com uma pessoa assim.

— Me desculpa, quer ir almoçar? – Ollavo pensa um pouco no que está fazendo e sabe que isso não vai acabar bem, algo está o avisando que se aproximar demais do menino pode resultar em confusão, por isso está tentando se afastar dele de novo.

— Não estou mais afim... quero ir direto para minha cama. – Érico fala colocando seu telefone no bolso e se levantando, pois, o táxi que chamara chegou. – E não se esqueça que tem uma festa para ir hoje à noite, então descanse.

Érico entra no carro, sentado no banco detrás fica inquieto com seus pensamentos, acha que o Major está começando a evita-lo novamente depois de terem finalmente tido um contato mais afetivo dentro da loja. Se aborrece ao concluir que Ollavo realmente acha que ele comprou o terno para suborna-lo, mas esse sentimento aversivo se dissolve com a lembrança de que conseguiu ficar um pouco íntimo do militar. Ele sorri involuntariamente e se arrepende de ter recusado o almoço, mas por enquanto acha que será melhor deixar o militar um pouco em paz, já que depois de tudo ele realmente começou a se afastar de novo.

“Não seja apressado, vamos devagar com ele. ” – Érico pensa, concluindo que com Ollavo terá que ter paciência, se não o perderá de maneira fácil e sabe que o homem sentado no banco da frente é extremamente especial para seu coração.

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Daniel está apreensivo enquanto dirige, tenta ao máximo não olhar para a pessoa ao seu lado no banco do passageiro. Quando chegaram em casa depois do almoço, Olliver disse que queria conversar com ele em um lugar privado longe de todos após jantarem. Ele lhe convidou para irem beber em um bar que estava curioso para conhecer no centro. Daniel não tinha como recusar, sabe que tem que conversar com seu filho e sabe que depois do casamento não terá tempo para isso.

Então quando chegam na frente do bar CrossRoads Daniel não se atenta ao nome famoso e muito menos lembra que é um lugar que oferece stripper em sala fechada. Com seu coração batendo rápido e sua mente lhe enchendo com possíveis maneiras de começar a se desculpar nem nota os vários carros conhecidos no estacionamento.

Quando finalmente entraram no bar e Daniel viu todos seus amigos e padrinhos sentados juntos em uma mesa cheia de bebidas, respirou sem graça tentando acalmar seu coração pela surpresa e sorri acenando para eles. Não pode acreditar que seu filho foi tão longe para poder o levar a sua própria despedida de solteiro. Ele olha para o menino do seu lado sorrindo e como nunca antes em sua vida o admira, sente seu coração bater em alegria por ter um filho assim.

Olliver olha de volta para seu pai e nota as lagrimas contidas em seus olhos, Daniel o puxa para um abraço. Seu filho foi capaz de relevar tudo que estão passando para armar uma surpresa para ele, se sente tão grato por isso que não pode medir esse sentimento de arrependimento dentro dele.

— Me perdoe, eu nunca quis ti machucar, eu te amo muito e eu nunca poderia nem se quisesse deixar algo assim entre a gente... – Ele desfaz o abraço só para olhar para seu filho que o olha surpreso e emocionado, ignora completamente que seus amigos estão os olhando sem entender nada. – Se é o Thalles que você ama, vá em frente.

Olliver deu sorriso com seus olhos marejados e puxou seu pai para um abraço forte.

Thalles ao lado de seu pai sorri aliviado, mesmo estando longe e não tendo escutado uma palavra sabe que Daniel os aceitou. Ele está tão feliz que queria correr até eles, os abraçar e comemorar a união deles, mas entende que o resto da família ainda não está preparada para isso. Antes de Olliver chegar com Daniel, sentado na mesa com todos os tios, sobrinhos e amigos do noivo percebeu que eles são tão cabeça fechada quanta uma porta trancada a sete chaves, só pelos assuntos que já discutiram na mesa sabe que a união dele e de Olliver não vai ser bem vista.

Todos os homens sentados em volta da mesa não entendem o que está acontecendo com pai e filho para estarem fazendo uma cena tão melosa. Então uns dos tios resolvem tirar sarro da cena ao se aproximar dos dois e gritar para todos ouvirem:

— Eu os declaro pai e filho! Podem fazer a honra de pararem de viadagem e se sentarem.

— Viemos aqui para aproveitar a última noite do Daniel livre! – um dos amigos íntimos de Daniel grita enquanto pai, filho e tio se sentam a mesa.

Olliver se senta na ponta da mesa em frente ao  seu namorado, sorri para ele emocionado e grato confirmando o que Thalles já tinha certeza que momentos atrás Daniel os aceitou. Os outros 15 homens a mesa, já exaltados pela bebida e afetados pela euforia do momento, não notaram quando o garoto timidamente devolveu o sorriso gesticulando com os lábios “eu te amo muito” para o mais velho.

Olliver não esconde sua felicidade e também gesticula com os lábios “eu te amo muito mais” para logo depois beber um gole de chope para disfarçar. Ele pensa se não deveria ter dito isso em voz alta para todos ouvirem, mas ao olhar em volta conclui que estragaria a noite se o fizesse, então se conforma em apenas entrelaçar as pernas com a de Thalles por debaixo da mesa, o que fez seu namorado saltar em surpresa e rir silenciosamente.

Entretanto, Nicolas, primo de Olliver nota a cena nada comum entre os dois amigos e por alguns segundos pensa em ignorar, mas ao olhar para seu lado vê que seu amigo Gustavo também notou a cena e os dois riem. Algo os diz que essa noite será empolgante e muito longa.

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Érico está estirado na cama pensando em como as horas demoram para passar quando não si tem nada para fazer, com o celular em mãos já está cansado de procurar algo bom para assistir e de discutir futilidades com seus amigos. Olha as horas e percebe que é hora do jantar, fica em dúvida se deveria pedir para trazerem no quarto, mas acha melhor se mexer um pouco, faz mais de quatro horas que está deitado tentando fugir do tédio.

Ele pensou em ir a despedida de solteiro, mas após repensar que estaria em um clube masculino com um grupo de homens mais velhos bêbados e falando besteiras abertamente achou melhor ficar.

Quando chega ao salão vê que está lotado de hóspedes e pensa em voltar para o quarto, porém encontra um rosto conhecido entre a multidão, um homem sentado sozinho em uma mesa para dois lugares. Érico sorri animado indo em direção ao seu alvo.

— Achei que você tinha uma festa para ir hoje. – Érico fala assustando o homem que estava comendo tranquilamente e sem pedir licença se senta na frente dele.

— Você também não foi convidado? – Ollavo retruca colocando os talheres no prato vazio, terminando seu jantar.

— Olhe para mim! Acha mesmo que iriam me querer lá, eu viraria o alvo deles. – Érico fala sendo sincero notando que seu amigo terminou de comer e volta a pensar em pedir para comer no quarto.

— Então faço das suas palavras as minhas... – Ollavo fala mostrando o óbvio, nenhum dos amigos e familiares de Daniel reagiriam bem com sua presença. – Nesse ponto sou igual a você, ninguém me quer lá.

Érico finalmente se dá conta do óbvio, claramente, os amigos de Daniel devem saber do passado deles, passado no qual Ollavo não tem um papel muito amigável.

— Uau! Não tinha pensado por esse lado, nós somos dois rejeitados. – Érico diz fazendo seu amigo rir e sorri para ele, mas repentinamente tem uma ideia relâmpago. – Que tal fazermos um acordo.

Ollavo olha para o menino surpreso, não faz a mínima ideia do porquê ser citado algo assim agora.

— Vamos juntos, vamos nos dar apoio. É provável que eles vão nos ignorar, então vamos ser ignorados juntos. – Érico diz animado estendendo sua mão em direção ao homem mais velho.

— Mas o que eu ganho com isso? – Ollavo pergunta cruzando os braços e se encostando na cadeira. – O que você ganha com isso? Vai ser estressante do mesmo jeito, estando ou não juntos.

— Bem, poderíamos ter a companhia um do outro e você gosta de estar comigo que eu sei, ti faço rir muito facilmente. – Érico diz ainda com a mão estendida olhando fixamente para seu amigo. – Qual é?! Eu estou entediado de ter que ficar aqui e sei que você não tem nada para fazer também.

Ollavo pensa nessas palavras e de como o garoto se mostra tão persistente, lembra da situação de mais cedo, quando rejeitou o menino sendo arrogante e tem uma proposta melhor.

— Que tal irmos beber em algum lugar legal? – Ollavo fala tentando não pensar muito, pela primeira vez vai agir por puro impulso.

Érico se surpreende e recolhe sua mão que estava estendida, não esperava isso, pensa na oportunidade que está sendo posta na sua frente e sorri besta fazendo o homem o olhar estranho.

— O que foi?! – Ollavo pergunta depois de ver o garoto começar a rir abobalhado.

— Tem certeza que quer beber comigo? – Érico pergunta imitando seu amigo, cruzando os braços e se encostando na cadeira.

— Tenho. – Ollavo diz confiante, achando engraçado o garoto estar o desafiando. – Tenho que pagar um certo presente.

Érico sorri mais ainda.

— Então é um encontro?! – Érico diz animado só para provocar seu amigo que imediatamente fica sério. – Sua dívida só será paga se me levar em um encontro.

— Não. Quer saber esquece, não dá para falar a sério com você. – Ollavo fala irritado preste a se levantar, mas desiste assim que o garoto puxa sua mão e a aperta quase em um gesto de comprimento.

— Então vamos fazer assim, eu finjo que a gente tá em um encontro e você finge que a gente é só amigo, enquanto todo mundo no bar finge não estranhar a gente junto. Agora vamos! – Érico puxa a mão de Ollavo o fazendo se levantar e ir para a saída do salão, age rapidamente antes de perder sua oportunidade por mais enrolação sua.

O Major não entendeu metade das palavras ditas pelo garoto de forma rápida, mas não se importou em contesta-lo, nem o adverte por estar sendo puxado involuntariamente para fora do hotel, acha graça em ver como o menino não tem medo algum dele.

Érico tem sérios planos em sua cabeça para colocar em prática o que vem reprimindo durante todo esse tempo. Entretanto Ollavo tem planos bem controversos, planos nos quais podem fazer a relação deles acabar de uma vez ou finalmente fazer o garoto desistir dele e serem apenas amigos. Não dá para si prever qual plano vai dar certo, pois os dois têm dúvidas disso, mas com certeza ambos darão o máximo de si em seus respectivos objetivos.

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Notas dos autores: Olá, realmente não achamos que poderíamos passar tanto tempo sem atualizar a história e pedimos desculpas (como sempre). Mas a vida é corrida e cheias de surpresas não é mesmo! Bem, espero que tenham gostado e agradecemos a todos que comentam, votam e apoiam a história. Esse capítulo só deu Erico e Ollavo rsrsrsrsrs Fizemos de propósito! E sim, estaremos trazendo mais momentos desses dois. Então nos vemos no próximo capítulo!!! Bjsss!
❤️🧡💛💚💙💜😽

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