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Os olhos negros de Any avistaram um teto sujo e cheio de teias de aranha, aquela era uma das prisões de Chester, para onde foram levadas após toda aquela confusão. Aísha chorava baixinho e amaldiçoava os soldados profundamente enquanto se mantinha encolhida ao lado da melhor amiga.

— Any... — chamou baixinho. — Acorde....

— Estou acordada. — a outra sentou-se sobre o sujo e úmido chão, pôde agora sentir sua pele arder, lembrou-se da surra com o sinto que ganhou do homem.

— Eles falaram que vão nos enforcar ao meio dia. — Aísha disse olhando a amiga.

Any sentiu profunda raiva e encarou os olhos azuis da mais nova a transbordar, precisava fazer alguma coisa. Mas ao mesmo tempo que pensava em mil coisas, seu corpo pedia descanso e uma longa dor lhe consumia juntamente com o sono.

Talvez fosse impossível se livrar desse destino. Tudo piorou quando viu um dos soldados abrir a grade que as prendia, ela o reconheceu, havia socado-o com força na tarde passada. O homem entrou, fechou a grade com as correntes e caminhou até elas. Any moveu-se para perto de Aísha a abraçando.

— Acha mesmo que duas mulheres conseguem ser mais fortes que um homem? — o soldado perguntou.

— Não foi isso que viu ontem? — Any provocou.

O rapaz se abaixou e agarrou pelos cabelos tirando-a de perto de Aísha. Ela sentia-se como uma marionete, por mais que quisesse se livrar, seu corpo doía a ponto de não deixá-la se mexer direito. Ele a balançava e acertava tapas violentos contra seu rosto, não havia importância nisso, desde que deixasse Aísha em paz, Any aceitaria qualquer coisa.

— Me dá uma tremenda dó bater numa mulher tão bela. — as mãos duras do soldado lhe apertaram o rosto com força. — Tenho algo melhor para você.

Jogo-a contra a dura e velha cama daquela prisão e começou a levantar o vestido da garota. Suas pernas eram como seu rosto, brancas e belas, mas não era por ele que ela queria deixá-las expostas.

Seus olhos transbordaram deixando as lágrimas caírem, empurrou-o para longe e gritou, gritou como se houvesse esquecido que sua garganta poderia falhar.

Aísha gritou juntamente a amiga por socorro, o homem parecia se aproximar em câmera lenta de Any sem se importar com os gritos.

— Pare! — uma voz masculina ordenou e ela a reconheceu, era o chefe deles. — Saía de perto desta mulher agora.

O mais velho entrou na sala e agarrou o braço do soldado jogando-o contra o chão fora da prisão. Any chorava em silêncio enquanto assistia a cena, em sua mente ela sentia a pior sensação a consumir, o medo.

Outros soldados entraram pela porta e amordaçaram ambas, as prenderam em correntes fortes nos braços e as obrigaram a caminhar por um corredor sujo e nojento. Enquanto caminhavam podiam ouvir os gritos do soldado que tentou contra elas.

— Onde vamos? — Aísha perguntou com dificuldades por causa da mordaça.

Any lançou o olhar no velho relógio na parede e suspirou. Era meio dia e seis, se fosse para morrer, que ao menos morresse na hora exata. Seguiram pelo corredor e logo saíram do lugar dando em uma praça, as pessoas olhavam e gritavam, algumas tentavam atingi-las por trás dos braços dos soldados, mas estes as protegiam do público. Elas subiram em uma imensa estrutura de madeira e avistaram a corda.

As cordas foram postas em seus pescoços e naquele instante Any olhou Aísha nos olhos e através das lágrimas buscou as lembranças de ambas: quando roubavam bolo na cozinha, os dias de limpeza no orfanato, as brincadeiras de esconder, quando conheceram rapazes e fingiram serem filhas de grandes homens da cidade, a primeira vez que Aísha caiu; tudo aquilo estava preso no coração das duas, não podiam acabar ali, numa mera corda.

Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora