Pilares de mármore polido, fitas brancas balançando com o vento, flores espalhadas pelo chão e uma profunda dor atormentando o peito, isso era tudo que Mya tinha, o tempo não passava para si, mas para o resto da humanidade sim. Eram incontáveis as vezes que tinha mudado de país, de cidade, de identidade e de vida. Tudo que tinha era uma carta escrita em grego antigo e um pouco de esperança no peito. Mas aquele lugar a chamava, ressoava como o canto das aves na floresta, seu peito parecia estar aberto, era a Grécia.
Tudo estava em ruínas, como todos os outros diziam, somente pilares e templos destruídos, seus olhos não podiam ver o que realmente havia atrás de toda aquela ruína, mas ali havia um santuário escondido por meio de uma projeção holográfica. A filha do tempo levou a mão ao rosto e secou o pouco de suor que lhe escorria, o calor era infernal para quem estava acostumada com o frio da Rússia. Virou calmamente o corpo para sair dali, não havia nada que chamasse sua atenção naquele lugar, não seriam rochas quebradas que iriam a fazer permanecer naquele local. Seu corpo travou antes mesmo que pudesse dar o primeiro passo, uma sensação a invadiu por completo, sua visão escureceu a tirando da realidade, seu corpo caía por um buraco, o fundo não parecia existir e a realidade parecia mudar a cada segundo. Mya tinha longas visões com os cavaleiros e com os feitos de sua mãe e sua tia, se antes havia desconfiança, agora ela era ainda mais concreta. Quando sua visão voltou a ficar clara, ela encontrou paredes de lavas, galhos de puro ferro e um chão que parecia se mover a cada passo que ela dava. Ao centro daquele imenso salão havia uma pequena plataforma que sustentava um livro de tamanho médio.
— Pegue-o para mim. — uma voz rouca ecoou em sua mente causando uma imensa dor em sua nuca. A respiração ficou dificultosa, um vento forte passou pelo templo bagunçando seus cabelos. O livro tinha a capa totalmente vermelha com escritas em dourado, parecia muito bonito, mesmo estando tão longe de suas mãos. — Pegue-o... — a voz novamente lhe causou dor. Seu corpo se moveu involuntariamente na direção da plataforma, quem sabe se pegasse de uma vez toda aquela tormenta fosse desparecer. Os passos eram dolorosos, sua mente resistia mas seu corpo parecia ter vontade própria. A mão se esticou na direção do livro, mas antes que pudesse agarrá-lo uma luz amarelada surgiu a sua frente a obrigando fechar os olhos.
— Quem é você e o que pensa que está fazendo aqui? — as orbes azuis celestes se abriram num susto. Havia um homem a sua frente que estava vestindo uma de armadura de ouro e tinha cabelos num tom de lilás tão infantil quanto a cor de suas unhas da mão, no lugar de sua sobrancelha haviam dois pontinhos e por seu ombro descia um chifre também de ouro.
Mya sentiu o corpo fraquejar e perdeu a consciência assim que o cavaleiro se aproximou. Mu a tomou nos braços e se tele transportou para longe dali, a garota mal sabia que estava nas paredes do próprio labirinto do Tártaro e que tocar naquele livro poderia causar um imensa confusão em todo mundo, Chronos havia a atraído até ali porque sabia que ela era filha de Aísha e assim como a mãe carregava o dom da vida. Mu percebeu a presença do cosmo adormecido de Mya e a seguiu para garantir que nada fosse acontecer à ela, quando a encontrou pensou que daria trabalho tirá-la dali, mas para sua sorte ela desmaiou, o que facilitou muito o trabalho do cavaleiro.
Os cavaleiros do século vinte estavam todos vivos, com exceção de Aiolos. Quando os dourados foram convocados para salvar Asgard de Loki, Odin deu uma nova chance de vida aos cavaleiros que haviam morrido no muro das lamentações e esses voltaram para seus lugares no santuário. Com o passar dos anos se tornou cada vez mais difícil esconder a existência dos cavaleiros, e Saori, reencarnação dessa época, usou seu dinheiro para equipar o santuário com a melhor das tecnologias. Aísha e Any havia deixado Mya na Terra para mantê-la segura das ameaças de Zeus, segundo elas, era mais fácil controlar o deus dos raios de perto. O Olimpo passou a ser habitado pelas novas deusas, que receberam a ajuda de Kelly para vigiar os passos de Mya, porém Chronos fez de tudo para atrair a neta para o seu despertar, e se não fosse pela esperteza do atual cavaleiro de áries talvez o titã tivesse conseguido o que queria.
— O que iremos fazer com ela? — Saori estava um pouco nervosa, desde que tinha concertado as coisas ela não tinha participado de mais nenhuma guerra e parecia que todos estavam em perfeita paz, trazer Chronos de volta era no mínimo, assustador.
— Não a conhecemos, senhorita. — Mu tinha o olhar no chão, estava de joelhos em sinal de respeito. — Mas sabemos que ela manifesta cosmo dentro de si, mesmo que seja mínimo, precisamos descobrir o porquê de Chronos a ter levado até aquele local.
— Mu tem toda razão, senhorita. — Shina completou, ela havia ajudado o cavaleiro de Áries a cuidar dos ferimentos que tinham encontrado pelo corpo de Mya, a tinha vestido com roupas novas e a agora todos esperavam a ruiva acordar. — Seja o que for que ele queira com ela, vamos interrogá-la da melhor forma possível.
— Eu mesmo posso fazer isso. — Milo olhou a amiga em reprovação, ele tinha técnicas de tortura que ajudavam na interrogação de prisioneiros, mas não era bem isso que Saori queria fazer com a pobre garota.
— Milo, acho que tortura não será necessária. — a jovem Athena disse olhando o mais velho, que com uma expressão frustrada suspirou. — Assim que ela acordar iremos perguntar gentilmente o porquê dela estar aqui.
Mu tinha um mal pressentimento em seu coração, não costumava acreditar muito nesse tipo de coisa, mas se lembrava do que seu mestre Shion havia lhe ensinado, do que havia contado sobre a guerra contra Thanatos e Hypnos, se realmente as filhas de Chronos estiverem por trás do aparecimento dessa garota, as coisas irão ficar complicadas para os cavaleiros, uma nova era estava por vir e uma nova história começava a ser contada, mas por que no santuário de Athena?
...
Mya abriu os olhos e imediatamente seu corpo saltou da cama, a visão da luz dourada e do homem de cabelos lilases ainda estava em sua mente, mas ele já havia sumido de sua presença. Reparou nas paredes bem estruturadas, provavelmente também feitas de mármore, assim como a cama que dormia, o local tinha um doce cheiro de lavanda, deveria ser as roupas de cama, que além de possuir um cheiro eram tão alvas quanto as nuvens.
Olhou para si e reparou que não vestia suas roupas, um vestido branco lhe cobria até os pés, tinha ficado bem em seu corpo, mas não fazia bem o seu estilo. Ela se perguntava onde estava e muito pior, por quê estava?A porta foi aberta e através uma figura foi revelada: cabelos verdes que iam até a altura dos ombros, olhos gigantes no mesmo tom de verde dos cabelos e uma pele um tanto bronzeada, era a Shina, amazona de cobra do século XXI. Mya recuou brevemente quando a viu, a única janela que tinha naquele local dava diretamente para um penhasco, não era uma boa pular.
— Quem é você? — a ruiva perguntou levando a mão ao peito, havia se assustado com o surgimento da amazona.
— Sou a Shina, amazona de prata a constelação de cobra. — a esverdeada se apresentou cordialmente. — Poderia me acompanhar?
— Para onde vai me levar? — Shina não era uma pessoa muito paciente e odiaria ter que explicar as coisas para a desconhecida.
— A senhorita saberá de tudo na hora certa. — para todo bom entendedor meia palavra basta, e foi o que bastou para fazer Mya acompanhá-la, a ruiva não tinha lá muito juízo, quando era criança tinha descoberto que seus machucados saravam mais rápido do que o de pessoas normais, talvez se morresse pudesse voltar a vida, o tempo não era mais um problema para ela.
Mya reparava em toda a estrutura do grande salão, mas o que chamou mesmo sua atenção foi o homem de cabelos lilases, ele estava lá novamente e havia um outro vestido com uma armadura que também era de ouro. Ou havia morrido, ou o mundo nunca foi nada do que pensava.
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Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)
Hayran KurguAntes de morrer Chronos tirou fragmentos de sua alma para se manter vivo, agora, séculos mais tarde, esses fragmentos reencarnam ao noroeste da Inglaterra e trazem um novo alerta ao mundo. Athena tem a missão de proteger as filhas do tempo e manter...