A persistência é o motivo da vitória e ir e vir cabe a nós e a mais ninguém. A neve se soltava do chão numa fria e calma manhã de início de verão, os ventos obrigavam os galhos de árvores arranharem a janela do décimo quarto do orfanato. As órfãs dormiam no nono sono enquanto o sol ousava aparecer para lhe despertar o dia. O tilindar do sino matinal foi ouvido, não havia mais escapatória. A mais velha abriu os olhos com calma e observou o teto empoeirado acima de sua cabeça, pensou profundamente que aquilo precisava de uma limpeza e mentalmente se ofereceu para essa missão, realmente ela tinha a essência de uma virginiana.Girou o corpo retirando os cobertores de cima de seu corpo e só então notou o quão frio estava fora deles, sua pele clara se arrepiou deixando os pelos dos braços em pé, ela adorava o frio. Levantou-se sem se preocupar com os pedidos de seu corpo para que ficasse na cama e agarrou o casaco ao lado da cama.
— Hm... — seus olhos foram a amiga que ainda dormia sobre a cama ao lado. — Aísha, levante-se! — ordenou.
— Que tal mais cinco minutos? — a ruiva mais nova abriu seus belos olhos azuis, não tão belos já que havia remela neles.
— Você sabe que a Madre não tolera atrasos, e muito menos eu! — sorriu a outra com muita ironia.
Odiava a Madre, disso todas ali sabiam, porém não era hoje que ela queria levar horas de sermão desnecessário.
Estava novamente diante do vasto e pobre guarda-roupa, havia ali apenas vestidos realmente idênticos e não restava outra opção a não ser vesti-los. Após alguns minutos a mais velha estava pronta, a cor do vestido não lhe realçava nada, o nude sem graça se fundia a palidez de seu rosto e lhe deixava ainda mais apagada. Já Aísha ficava ainda mais viva, o tom ruivo de seu cabelo lhe dava um ar mais vivo e alegre, combinando com a cor do vestido. Sempre foi assim, uma mais discreta e a outra mais radiante. Eram uma complexa oposição, sequer sabiam como conseguiam ser amigas.
O café passou até rápido, o que para a ruiva foi uma pena, ela adorava comer, apesar de sempre estarem economizando e dividindo tudo com os outros órfãos. A surpresa veio mesmo quando receberam o recado de uma colega: a Madre queria vê-las.
— Acho que já sabem porquê estão aqui, não é? — a mulher de cabelos brancos perguntou sorridente.
— Não. — Aísha, com sua lua em peixes, respondeu com sinceridade.
— Daqui alguns dias as mocinhas completam dezoito anos. — essa com toda certeza foi a pior frase que podiam ouvir. — Não esperam passar toda a vida aqui, não é?
— Claro... que não! — a voz da morena soou ameaçadora.
— Any, você se acha tão segura de si e de suas próprias palavras, tem ao menos ideia do que é morar na rua? — a Madre perguntou sentando-se a sua cadeira.
— Devo ter mais noção disso que a senhora. — sorriu. — Passa todo o teu dia sentada nesta cadeira sem mover um dedo por ninguém, quer realmente que acreditemos que esse tempo todo esteve nos ajudando? Esqueceu que nos obriga a trabalhar?
— Chega! — a velha gritou. — Quem você pensa que é para me dizer o que devo fazer?
— Sou alguém muito melhor que você, megera. — Any agarrou Aísha pelo braço e a arrancou da sala da velha as pressas. Com toda certeza a Madre não ajudaria em nada depois que saíssem daqui, e é claro, elas precisavam pensar em algo para fazê-las sobreviver nas ruas enquanto não arrumavam um local para ficar.
— Any... — choramingou a outra. — Não temos pra onde ir...
— Não se preocupe, eu darei um jeito nisso. — A ruiva a envolveu num abraço apertado, mesmo não gostando de tanta proximidade, a menina abraçou a amiga e a escutou chorar baixinho. Any e Aísha estavam juntas desde que nasceram, suas mães eram amigas e quando faleceram as deixaram neste local na esperança que elas conseguissem sobreviver. Mas ao contrário disso, elas passaram por grandes humilhações, apesar de ser um orfanato cristão, elas foram obrigadas a trabalhar e conviver com as maldades de uma velha ingrata e mal amada. Mas o verdadeiro inferno ainda não havia chegado.
Alguns dias depois
— Espero que se divirtam na rua. — a Madre disse sorrindo. — Pense Aísha, case-se e deixe sua amiga pra lá, com ela você não tem futuro.
— Nunca. — respondeu a ruiva.
As duas iniciaram o caminho rumando ao portão do lugar, com toda certeza elas sentiriam falta da outras crianças e do jardim, do cheiro das rosas e da grama cortada entrando pela janela da imensa sala. Mas não retornariam, afinal, não havia mais nada delas ali. Vestiam apenas a roupa do corpo e não levavam nada em mãos, não tinham o direito nem de levar as roupas pois estas não as pertenciam. Any deu o primeiro passo para fora do portão e colocou a capa sobre a cabeça, o branco da capa combinava com o negro de seus cabelos dando destaque ao seu rosto pálido e seus olhos da cor das trevas. Aísha colocou a toca da capa verde que usava e segurou a mão da amiga com certa força, parecia que a qualquer momento suas pernas fossem falhar e ela fosse cair, ter Any ali era como ter certeza que estava pisando no chão.
Assim como Any, Aísha levava no pescoço um colar, se tratava de um círculo e dois riscos, como se fosse o relógio e dois ponteiros, pois um havia se perdido. Ao menos era assim que a carta da mãe delas explicava, elas tinham colares iguais para representar a união de ambas. A tarde já estava partindo quando o estômago da mais nova roncou.
— Não aguento mais andar. — queixou-se. — Preciso comer algo.
— Vamos dar um jeito. — a outra disse.
Passaram em diferentes restaurantes e quitandas procurando algo para comer, mas todos se recusavam a ajudar, isso de certa forma irritava ambas, o que custava ajudar uma pessoa? A última opção foi tentar furtar algo, ao final da rua havia uma barraca com muitas frutas. Este era o alvo.
— Mas não é errado? — Aísha perguntou.
— Você não está com fome? — perguntou Any e ela acenou positivamente com a cabeça. Any abaixou a cabeça e esticou a mão para pegar a maçã, mas um homem agarrou seu braço com certa força e o esticou para cima. Ela sentiu que talvez ali fosse o fim dessa missão, a força do homem era muito maior que a sua e por mais que tentasse se livrar ela não conseguia.
— Então temos uma ladra aqui? — o homem, que aparentava beirar os trinta e cinco anos perguntou. — Sua mãe não te ensinou que não se deve pegar coisas que não são suas?
— Solte-a! Deixe-a em paz! — Aísha gritou.
— Se não o que? — o homem arremessou Any contra Aísha. — Vou ensinar a vocês a não roubarem ninguém. — nesta hora metade da rua já havia se juntado para assistir, muitas pessoas incentivavam e riam da situação. O homem começou a tirar o sinto de sua calça e o dobrou em dois, acertando em seguida as meninas com ele. Aísha gritou de dor com o atrito do couro sobre sua pele, já Any não reagiu, enquanto as pessoas gritavam e o homem batia em ambas seu universo interior parecia explodir de ódio, sentia uma força desconhecida tomar seus braços e pernas.
— Chega! — disse e segurou o braço do homem. — Você não vai nos humilhar assim. — não sabia como, mas apenas com o movimentar de sua mão ela arremessou o homem para longe, as pessoas fizeram silêncio enquanto viam Any espancar o homem, Aísha sorria enquanto chorava ainda pasma com a situação. Logo soldados começaram a se juntar e agarram Any pelos braços.
— Me soltem! — ela pediu tentando se livrar dos braços dos soldados.
— Fique quieta! Peguem a outra garota também. — ordenou um dos rapazes com o uniforme.
— Não toquem nela. — Any gritou se livrando dos braços daqueles homens que se diziam da lei.
— Que tipo de ser você é? — um deles perguntou ao notar que seu corpo estava muito machucado. Porém, nem mesmo ela sabia o que dizer.
— Aísha!! — Any gritou ao ver a mais nova ser levada por um dos homens. Uma energia dourada começou envolvê-la e logo ela notou que havia algo acontecendo com seu corpo. Não fazia ideia do que, mas orava profundamente para que aquilo ajudasse.
— É uma bruxa! — uma mulher gritou e toda a população começou a correr e se esconder.
— Chega! Peguem essa mulher logo. — ordenou o chefe dos soldados e isso foi a última coisa que pode ouvir, sua consciência foi tirada.
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Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)
FanfictionAntes de morrer Chronos tirou fragmentos de sua alma para se manter vivo, agora, séculos mais tarde, esses fragmentos reencarnam ao noroeste da Inglaterra e trazem um novo alerta ao mundo. Athena tem a missão de proteger as filhas do tempo e manter...