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Os olhos de Albafica quase saíram para fora ao olhar ambas as garotas desacordadas. Any estava deitada ao pé da cama de forma desajeitada, as mãos sujas de sangue e um suor claro sobre a testa, já Aísha estava deitada numa posição confortável, o corte na barriga havia sumido mas a expressão de dor continuava em seu rosto, como se ainda a estivesse sentindo. Ambas apenas dormiam, isso dava para notar pelo mexer da caixa pulmonar das duas, mas em mente elas estavam muito longe da Terra.

— Onde estamos? — Aísha perguntou agarrando-se ao braço direito de Any. Tudo ao redor era branco e parecia sem vida, como se estivessem num templo de gesso, mas era impossível distinguir o que era parede e o que era área livre. — Morremos?

— Não seja boba. — Any sorriu dando passos adiante. — Deve ser uma espécie de ilusão, de alguma forma nossas mentes se unificaram.

— Já deu para perceber que você é uma garota esperta, Any. — uma voz masculina surgiu no local, que aos poucos voltou ao tom das pedras de mármore, era um templo muito parecido com o templo de Athena, no santuário. — Mas ainda assim perigosa.

— Trouxe-nos aqui para dizer isso? Ou tens algum recado realmente importante, Zeus? — os olhos de Any agora eram ambos amarelos e apesar de poder entender os motivos do rei dos deuses, ela não podia negar que ele jamais teria razão em reclamar de algo.

— Ele é Zeus? — Aísha ficou completamente boquiaberta, Zeus era muito diferente do que ela imaginava: um homem de longos cabelos alvos, um corpo completamente definido e rodeado de vestes de pura seda e fios de ouro, os olhos alvos e os dentes alinhados denunciavam uma beleza jovial, apesar dos milhares de anos. — Agora entendo porque tem tantos filhos. — sussurrou para a irmã.

— Sinceramente, depois do selamento de Chronos ao tártaro, eu jamais pude desconfiar que ele fosse tentar sair de lá, havia me esquecido completamente de que um dia ele havia feito vocês. — explicou o deus dos céus. — Achei que Hades fosse conseguir detê-las, mas confesso que a sua estratégia foi melhor do que eu imaginava. — Zeus moveu-se pelo templo e sentou-se sobre o trono esculpido a mão, o Olimpo era realmente admirável. — Porém, não serei eu que irei conviver com a incerteza de deixá-las soltas.

— E vai fazer o que? — Aísha perguntou saindo de trás de Any. — Nos selar também? Somos diferentes do teu pai.

— Isso porque tem humanos envolvidos, mas deixe-me contar uma coisa. — o albino apertou as mãos contra os braços do trono. — Humanos morrem.

— E você tem medo? — um sorriso brotou aos lábios de Any. — Você sabe que não é você quem deveria estar sentado ai, não é? — a morena moveu-se parando frente ao deus, era perceptível a falta de medo nos olhos dela. — Casou-se com Hera pra conseguir o trono e desgraçou o mundo dando ele á Athena, que equivocada errou na primeira guerra santa.

— Pensei que gostasse dos cavaleiros dela. — ele se colocou de pé a encarar a amazona. — Ou já acabou todo aquele amor que sentia pelo Cavaleiro de Câncer?

Any levantou uma das mãos para revidar a provocação do deus com um golpe, mas sentiu o peso da mão de Aísha a segurar, a ruiva sabia que aqui no Olimpo a maioria dos deuses estavam ao lado de Zeus, não seria uma disputa justa.

— Espere. — pediu a ruiva. — Não resolva as coisas com agressão.

— Ouça sua irmã, você está fora de casa. — alertou o deus do raio sentando-se novamente ao trono, era visível que o mesmo era contra a permanecia das duas sobre a Terra. — As quero longe da Terra e longe de qualquer coisa que as leve á Chronos, ou mandarei os exercitos do céu matá-las.

— Isso é tudo medo? — a voz de Any agora era risonha, então Zeus tinha medo que Chronos retornasse a vida. — Não somos Chronos, isso não precisa se tornar um problema.

— E que garantia eu tenho? — ele estava desconfiado e parecia que tinha os argumentos certos para convencê-las de suas certezas. — Eu já vi até mesmo Athena errar por causa de humanos, com vocês sei que não vai ser diferente. Vocês precisam entender que humanos são vulneráveis ao tempo e nós não, logo não os trate como eternos, são meros objetos de manipulação.

— Você quer falar de tempo para mim? — Any ergueu a voz, e isso foi suficiente para fazer Aísha se afastar temendo. — Eu sou o tempo aqui e onde for, posso destruir você e seus deuses sem precisar de muito esforço, porém, não estou disposta a isso, quero que nos deixe retornar a Terra e não interfira mais em nossas vidas.

— Nós aqui não precisamos temê-la. — Zeus moveu calmamente a mão direita e sobre ela o raio apareceu reluzindo pelo templo. — Nós temos armas suficientes para manter vocês caladas.

O deus do raio se levantou apontando o instrumento para Any, estava disposto a acertá-la com uma descarga elétrica, que certamente iria ferir mais do que seu corpo. Quando Chronos foi selado pela tríade, foi necessário a unção das três armas dos três grandes, e para selar uma criação do titã do tempo não ia precisar de menos.

— Pai! — uma voz familiar soou aos ouvindos de Zeus. Ele sabia que ouvi-la queria dizer que iria cometer algum erro, e como sempre sua filha mais nova estava ali para intermediar isso. As meninas viraram o corpo para a imensa porta atrás delas, havia uma mulher de longos cabelos ruivos e olhos vermelhos, ela tinha a pele tão branca quanto a neve e usava roupas diferentes da do deus. — Isso não é necessário.

— Eu não posso ouvir seu pesar agora. — o deus revidou voltando a atenção para Any e Aísha. — O que me reserva o destino caso eu faça algo? — deu-se por vencido.

— Não existe selamento para o tempo. — explicou a ruiva. — Precisaria do tridente de Poseidon e da espada de Hades, e ao menos que tire os selo de ambos, colocado por Athena, não vai conseguir selá-las.

— Quem é você? — Any perguntou trazendo Aísha para perto. Viu a garota se aproximar, ela não parecia demonstrar emoção, o que deixava Any ainda mais preocupada.

— Eu sou a antiga amazona de aquário de Athena. — a ruiva disse respirando fundo e olhando o pai. — Nem sempre precisamos interferir no destino, lembre-se bem disso. — disse á Zeus.

— E parece que você sempre estará aqui para me mostrar isso. — era visível a insatisfação no rosto do mais velho.

— Nem sempre. — a ruiva sorriu demonstrando um olhar sem vida, rapidamente seus olhos trocaram de cor, saindo do vermelho escarlate para o azul. — Defensora dos fracos. — ressaltou o título que havia recebido do pai e se virou para partir.

— Espere! — Any pediu. — Qual o teu nome?

— Kelly. — a menina disse caminhando para porta. — Pergunte ao Krest e ele vai te explicar.

Aísha olhou a irmã com certa desconfiança e balançou a cabeça negativamente. Era estranho que surgisse alguém para defendê-las e alguém que conseguisse convencer o próprio Zeus a desistir de uma decisão, quem era a antiga amazona de Athena e porquê ela tinha ido até lá para ajudá-las?


Não deu tempo de perguntar nada ao deus, o ambiente começou a se desfazer aos olhos das amazonas e aos poucos ambas recobravam a consciência na Terra. Manigold segurava a pequena criança nos braços enquanto Albafica andava de um lado para o outro esperando que ambas acordassem, parecia uma eternidade, mas não haviam se passado mais do que três minutos.

— Assim vai acabar com o piso da casa. — a voz de Aísha soou risonha o suficiente para fazer o pisciano parar de andar.

— Você está bem? — perguntou se aproximando da namorada. — O que aconteceu?

— Fomos conversar com Zeus. — Any disse se sentando, a visão de Manigold a cuidar da pequena menina foi suficiente para fazê-la abrir um largo sorriso. — Desde quando gosta de crianças?

— Não sei. — ressaltou o canceriano. — Talvez desde que conheci esta pequena menina. — Manigold sorriu e se sentou ao lado da amada mostrando a ela a criança. — É ruiva igual a mãe.

— Mas tem os olhos do pai. — ressaltou a morena pegando a criança para si com cuidado. — E qual será o nome dela? — perguntou olhando o casal ao lado.

Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora