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Kelly tinha toda razão, hora menos hora as duas iam a acabar perdendo Manigold e Albafica. Aísha sempre pensara nisso, por isso sabia que devia aproveitar cada momento ao lado dele, mas Any, esta sempre achou que pudesse, talvez, reverter essa situação e torná-los como elas, mas agora seria uma coisa difícil, ela não era mais somente um receptáculo humano, era uma semi-deusa e da mesma maneira que Kelly, uma imortal. Conviver com a ideia de ter que ver quem ama morrer talvez fosse o pior dos pesadelos, mas era o preço que todo humano pagava.

— Você vai ficar? — Degel parecia querer lembrar do tempo que tinha a ninfa com ele, pareciam ter vivido uma amizade muito forte com Kelly.

— Eu não posso. — a ruiva revidou mostrando um olhar pesado sobre o mais velho. — Estou grávida e quero ficar perto do meu marido.

— Eros? — o questionamento do aquariano era inválido, sabia que ela era casada com o deus do amor e sabia que possivelmente uma gravidez aconteceria, só não imaginava que seria tão rápido, apesar de ter que admitir que o tempo para Kelly era uma bagunça. — Meus parabéns...

Ela não respondeu, seu corpo se desmaterelizou diante os olhos de ambos, agora tinha somente a lembrança da presença da ninfa. Any resolveu deixar o mais velho sozinho, ele precisava de tempo para assumir mentalmente que Kelly já era uma mulher e não precisava mais de sua ajuda. E a própria Any precisava de tempo para pensar em assumir a ideia de perder Manigold para o tempo.


Quando adentrou o quarto o contemplou sobre a cama, estava sem as vestes superiores e descalço, os cabelos desengrenados e a respiração calma, era um anjo com pensamentos pervertidos, mas ainda um anjo. Ela se aproximou e foi se livrando o camisa suja de sangue, havia estragado o tecido de seda, iria ficar devendo uma para o canceriano.

Ele admitia que o ciúmes estava o corroendo por dentro, mas não queria assustá-la. Só de imaginar que ela estava na frente de outro homem usando somente uma camisa e aquela calcinha, ficava louco. Mas também ficava louco olhando aquele corpo desnudo frente a cama, os seios pequenos e duros por causa do frio, a bunda e as pernas torneadas, era como implorar para que ele ficasse completamente maluco.

— Por que está me olhando assim? — ela questionou pegando uma nova peça.

— Não pegue. — ele não estava pedindo e ela sabia disso só de ouvir seu tom de voz. — Fique sem roupa. — o cavaleiro se levantou a puxando para perto e passou as mãos pela nádegas da garota, tinham um assunto pendente a tratar. — O que estava fazendo na casa de aquário?

— Ciúmes? — a morena soltou o vestido que havia pego, quando questionou a ideia de ter doze signos num mesmo lugar, era disso que estava falando. — Ele não precisa existir.

— Não me provoca! — a voz do mais velho se elevou, mas era óbvio que aquilo a irritaria, gritar com uma virginiana é como pedir passagem direito para o inferno. — Desculpa...

— Quero que me solte. — apesar do semblante sereno, sua voz transparecia raiva. Manigold fez, soltou o corpo dela com cuidado e a sentou sobre a cama. — Tenho certeza que sentirei falta disso. — sentiu uma facada transpassar seu peito, aquilo era como matá-la aos poucos. — Até mesmo do ciúmes e das irritações.

— Espero que sempre lembre de mim como alguém que lhe ensinou alguma coisa. — a morte era uma dor comum para Manigold, não tinha o que lamentar.

— Você me ensinou a amar. — ela sorriu, ele podia ver através da respiração dela que estava emocionada. — Eu te amo. — admitiu.

Mya dormia tranquilamente no berço que Any havia preparado para ela, Aísha tinha os olhos carregados por lágrimas de dor. Havia tido os melhores meses de sua vida ao lado de Albafica, apesar de ainda estar longe de acabar, ela tinha certeza que acabaria e que para ela ia doer tanto quanto a pior dor do mundo. Quando se é humano não se esquece da morte facilmente, pois ela chega para todos e não demora para que voltem a se encontrar, mas para um imortal, a morte não existe, e sabendo disso, Aísha se sentia ainda pior. Sabia que ia presenciar a partida não só de seu namorado, mas de sua filha também.

— Consigo sentir sua alma chorar. — o pisciano se aproximou, para ele todo esse sofrimento era desnecessário, havia vivido toda sua vida afastado de qualquer sentimento para com as pessoas e Aísha era a única que o fizera temer o próprio coração, sentia que não havia lutado na guerra passada por ele ou por Athena, mas por ela. — Eu não nasci para amar ninguém, Aísha. Você é como uma flor do meu jardim, está tão presente que agora somos um só, quando eu morrer ainda estarei aqui. — ele apontou para o peito esquerdo da mais nova.

— Você sempre estará em meu coração. — proferiu, queria gritar isso, mas todos que mereciam saber já sabiam. — Mesmo que seu corpo esteja longe, sua alma me pertence.

O tempo sempre será absoluto, não importa quem tente contra ele. Any e Aísha aprenderam com o passar dos anos que existem coisas que devem levar para o coração e não para a carne, apesar do desejo de sempre querer ter em posse. Como qualquer um criado por humanos, ambas tinham falhas visíveis, mas que com o tempo foram aperfeiçoadas, e esses anos não foram ao lado de Albafica e Manigold.

 
Após longas semanas da guerra contra Thanatos e Hypnos, o despertar do deus dos mares fez novamente com que os cavaleiros tivessem que se sacrificar para salvar o mundo, era uma ótima justificativa, mas também era fato que o mundo salvo não preenchia o espaço que havia sobrado no peito das duas garotas.

 
Mya cresceu saudável e muito distante do santuário, Aísha jamais permitiria que a filha tivesse o mesmo destino do pai, não por não gostar dos cavaleiros, mas por assim como Kelly, ter entendido o real desejo dos deuses, e infelizmente, Athena se incluía na lista. Pandora tinha toda razão, a deusa da Terra acabou deixando com que mero sentimentos fossem suficientes para sacrificar uma geração inteira de humanos, era certo que a Terra estaria sempre a salvo, mas não pelas mãos das irmãs do tempo. Essas tinham o que todo mundo queria ter, o tempo a seu favor.

Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora