Os olhos foram tomados por uma imensa confusão que se instalava tanto na mente quanto no coração. Visões iam e vinham e uma imensa vontade de fugir a consumia, tudo que queria saber era o paradeiro da armadura de relógio, mas seus olhos viam além do que podia e isso a causava dor.Não era a missão de Any saber da dor que seus poderes causariam em outros, ela não se importaria com isso se não visse, mas sabia que ao ajudar os cavaleiros estaria condenando os espectros e isso de certa forma mexia com sua percepção do mundo. Valia a pena se colocar a lutar ao lado de alguém quando poderia ter seu próprio lado?
Mas lembrava-se de algo muito importante: o amor. Querendo ou não havia empregado em Aísha e nos cavaleiros um sentimento acima de empatia e carinho, cresceu com a melhor amiga e havia feito de Albafica e Manigold seus melhores amigos, admitia que sentia algo a mais pelo canceriano, mas antes de revelar queria ter a certeza de que não morreria e o deixaria a sofrer por uma paixão interrompida. Essa lembrança de amor e a vontade de querer estar ao lado deles a fazia repelir os sentimentos de compaixão para com seus oponentes.
O corpo flutuava acima de uma imensa floresta no século XXI, o ano de 2051 escondia a armadura de Relógio e ela com toda certeza a encontraria. As mãos abertas e o corpo coberto apenas por vestes íntimas buscavam o vislumbre dos olhos da morena sobre o local exato de encontro. O coração batia descompassado enquanto o sangue corria quente pelas veias, uma aura dourada percorria seu corpo arrancando-lhe um arrepio sedento de verdades.
Ao lançar os olhos ao céu percebeu que esse estava a se rachar, teria que ser agora, ou não seria nunca mais. O cosmo queimava como nunca antes, os longos cabelos negros balançavam e os olhos passavam do negro para um vermelho vivo e sedento por dor.
— Eu sou o tempo! — gritou e sua voz ecoou até a armadura, que em obediência a ela veio cobrindo seu corpo por completo. Tínhamos agora a mais poderosa amazona de Athena a trajar uma armadura de prata.
Manigold observava as linhas soltarem faíscas e desejava profundamente que a amada pupila voltasse para colocar seu coração de volta no lugar. Sabia o resultado de errar ao mexer na linha do tempo, tudo iria se desfazer e a vida na Terra seria extinta de uma única vez. Ele não ligava se isso acontecesse agora, mas queria ao menos terminar a vida ao lado da mulher por quem despertou o verdadeiro amor. Era incrível como os sentimentos de angustia, ansiedade e desespero tomavam conta de seu corpo a ponto de fazê-lo pensar apenas nela e desejar tanto a sua presença que a falta dela tornasse um peso tão grande quando uma dor.
Todos os cavaleiros de Athena tinham um motivo no qual os fazem mais forte, mas também têm um motivo para fazê-los fracos. A infância de Manigold tinha sido sofrida o suficiente para fazê-lo se tornar um dos mais fortes cavaleiros de sua geração, mas com a aparição de Any, toda a sua fama e o seu poder ía embora, ele agora não estava de joelhos somente por Athena, mas por ela também.
Assim como o próprio Albafica havia se entregado pela primeira vez a luxo de tocar em alguém além de seu mestre. Viver a distância machucava, mas evitava que outros pudessem se machucar. Na visão de Aísha isso era tão nobre quando possuir o maior dos poderes, agora ambos viviam um amor quase impossível a ponto de fazê-los lutar por algo a mais além de Athena. Lutar pela própria vida, lutar para se manter de pé e viver o amor que pretendiam viver.
— Tome isto. — Albafica sorriu positivamente levando o copo de chá a frente da ruiva.
— O que é isso? — a menina perguntou cheirando o copo. Odiava tomar chás desconhecidos.
— Para que não engravide... — Albafica disso com certo receio. Seria estranho se sua namorada tivesse um filho, mas ao mesmo tempo sabia da história de Regulus.
— Eu odiaria te perder... — a ruiva olhou-o por cima do copo enquanto bebia o chá e esperava uma resposta do amado.
— Nunca te vi dizer que odeia algo...
— Você não entendeu que eu e Any somos opostas? — a menina perguntou enquanto se levantava. — Não fui criada para odiar algo... Mas odiaria aquele que tirasse de mim o que eu amo.
Albafica observou o rosto da amazona e notou uma diferença. As palavras de Aísha não eram como antes, parecia que algo nela havia mudado. A cor dos olhos pareciam ainda mais intensas que o normal pois brilhavam num azul vivo o suficiente para transparecer seus sentimentos. Aproximou-se na intenção de trazê-la para si mas a viu cambalear de lado como se fosse cair. Seu coração disparou de imediato e seus braços agarraram a menina puxando-a para seu peito.
— Aísha, o que houve? — perguntou tomando-a nos braços.
— Any...— A voz da ruiva saiu falha o suficiente para assustar o cavaleiro, que não conseguia interferir no corpo da menina graças aos poderes dela. O fato era que Any não poderia permanecer tanto tempo num século diferente de Aísha, ambas eram gêmeas na alma e precisavam estar juntas ao mesmo tempo para que permanecessem fortes o suficiente. Suas almas eram complementares, separá-las seria como condená-las á morte.
— Ela já está vindo. — incentivou o rapaz de cabelos azul celeste. — Permaneça acordada.
Enquanto isso Any fazia o regresso pelas linhas do tempo, voltando para o século XVIII e aparecendo frente a Manigold. O homem olhou a menina espantado, a armadura de prata lhe caía tão bem que ele sequer acreditava. Os cabelos amarrados num rabo de cavalo iam ainda até a cintura, os olhos vermelhos e o tom ainda mais pálido da pele deixavam claro a mudança na menina. O mesmo aconteceria com Aísha de forma diferente, bastava apenas receber a armadura de Andrômeda.
Any se aproximou do cavaleiro de câncer e ao olhá-lo nos olhos o espaço de modificou, tudo ao redor quebrou-se como se o ambiente fosse deixar de existir, mas ao invés disso outro ambiente se moldou e eles apareceram agora na presença de Albafica na casa de peixes, quebrando a impenetrabilidade do teletransporte no santuário.
— Any! — Albafica olhou a menina com espato. — Essa é a armadura de Relógio então...
— Sim. — a voz da menina soou ameaçadora e ao se aproximar ela tocou a testa de Aísha, devolvendo a consciência a irmã.
— O que houve com ela? — o peixe perguntou e olhou para o colega, que assim como ele estava perdido.
— Não podemos permanecer tanto tempo em distância de muitos séculos. — instruiu a mais nova. — Mas foi necessário para que eu pudesse encontrar minha armadura.
— Any... — Aísha livrou-se dos braços de Albafica e abraçou a irmã com força. — Eu senti medo.
— Eu também. — a outra a apertou num abraço. — Eu irei sempre te proteger.
— Te amo... — declarou a ruiva buscando os olhos da irmã.
— Eu também te amo. — Any tocou a testa da outra com a sua e sorriu. — É sua vez de conquistar sua vestimenta sagrada.
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Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)
Fiksi PenggemarAntes de morrer Chronos tirou fragmentos de sua alma para se manter vivo, agora, séculos mais tarde, esses fragmentos reencarnam ao noroeste da Inglaterra e trazem um novo alerta ao mundo. Athena tem a missão de proteger as filhas do tempo e manter...