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O dia amanheceu cinza pelo santuário, os cavaleiros de ouro tinham apenas ordem para permanecer em suas casas, enquanto os de prata e bronze faziam a ronda pelo vilarejo e os arredores do santuário. Todos pareciam ter uma imensa esperança que dessa vez a guerra tomasse um rumo tão diferente quanto a situação inusitada que as meninas causaram ao chegar. 

A barreira de Athena brilhava protegendo o santuário de qualquer invasor que pudesse vir, mas ela sozinha não era suficiente, Albafica e Any haviam prometido ajudar na defesa do santuário e junto a Aísha e Manigold foram para o caminho que dava ao santuário, na esperança de proteger a estrada para evitar que algum exército chegasse por terra.

— Não entendo, se Hades não despertou, os espectros não virão por terra. — Aísha disse enquanto observava Any e Albafica unificarem seus poderes.

— Não vamos proteger apenas a entrada. — o pisciano disse e logo sorriu olhando a morena a sua frente. — Any teve uma ideia esplendorosa.

— Posso saber qual? - Mani perguntou curioso e olhou a ruiva na esperança que ela o ajudasse.

— Os deuses não virão por terra. — Any ditou enquanto tocava a palma de Albafica com a sua. — Usarão de alguma forma o espaço para se locomover, espalharemos o veneno pelas linhas do espaço para que afete-os diretamente. — explicou.

— Mas e se os cavaleiros precisarem se mover da mesma forma? — Manigold questionou, de certa forma seus golpes dependiam daquilo.

— Estão proibidos de usarem. — a morena disse de forma determinada. — Somente eu e Aísha somos imune ao veneno, corram as casas e avisem os outros cavaleiros desse feito.

Manigold não queria de certa forma aceitar a ordem, mas seria uma chance a mais de sobreviver e salvar Athena, não podia negar. Juntamente a Aísha ele subiu as casas explicando aos cavaleiros sobre o que Any e Albafica estavam fazendo. Defteros não gostou muito da situação, mas sabia que talvez não precisaria dar tudo de si para vencer o inimigo, concordaria em não se arriscar até certo ponto, pois jamais colocaria sua vida a frente da vida de Athena ou dos humanos. Asmita e Dohko pareceram já saber do plano quando os dois contaram, de certa forma eles eram experientes o suficiente para saber que somente aquilo não seria o suficiente para deter a chegada de Hypnos e Thanatos, mas se bem conhecia o deus da morte, ele jamais esperaria por uma ideia tão bem feita, não iria perceber se o caminho até Athena estava ou não infectado já que seu objetivo era apenas chegar e não aprender com o trajeto.

Na casa de câncer Manigold esperava ansiosamente pela chegada de Any, havia deixado Aísha em casa quando avisaram a Degel e Kardia sobre o plano, agora restava apenas a pior parte: aguardar. A casa estava silenciosa já que nenhuma serva tinha ordem para subir por ali durante as guerras, deveriam ficar no vilarejo a salvo de qualquer inimigo, contando que os cavaleiros de bronze e prata estavam por lá para dar assistência. Obviamente todos já estavam acostumados com as guerras que o santuário travava, se moravam ali era porque gostavam realmente do local e acreditavam que Athena poderia os proteger em quaisquer circunstâncias, o que as vezes parecia difícil, mas era sempre feito com muito carinho. Ser um cavaleiro de Athena não era a melhor das tarefas, mas era uma tarefa honrada, porém ser espectro se tratava da mesma situação. Any havia percebido um único erro nas pessoas, apesar de amar o mundo a todo coração, todos ainda acreditavam que Hades fosse um deus ruim, prepagam que matar não é correto, mas quando se trata da própria defesa, matar é permitido. Talvez fosse por isso que Hades quisesse recomeçar o mundo, para que de uma vez por todas pudesse pregar a verdadeira justiça, não haviam pessoas boas ou ruins, haviam objetivos diferentes, mas entendê-los enlouqueceria qualquer ser.

— Manigold? — a voz de Any ecoou pela casa acordando o cavaleiro que dormia sobre o trono. O sol havia se posto e a noite já reinava, esta seria a última noite de paz no santuário de Athena, a última noite que podiam aproveitar para dizer o que faltava para dizer.

— Estou aqui. — gritou o homem ao se levantar passando a mão pelas vestes e pelo rosto na tentativa de espantar o sono. — Você demorou.

— Desculpe, não foi uma tarefa fácil. — a menor sorriu e retirou o elmo da cabeça com delicadeza. Essa era a melhor visão que Manigold poderia ter: Any sorrindo e vestindo uma armadura de Athena. Era essa a mulher dos sonhos dele. — Tens fome?

— Tenho! — ditou e se aproximou um pouco. — Felizmente não é de comida. — sorriu de forma tímida, pela primeira vez sentia vergonha em dizer o que queria dizer.

— Não estou entendendo. — Any sorriu mais uma vez e segurou a mão do mestre com delicadeza.

— Sinto fome... — ele a puxou pela cintura e levou os lábios ao ouvido da pequena. — Dos teus lábios.

Any não pôde evitar uma leve supresa na fala do mais velho, mas cedeu dando-lhe um beijo onde entregava todos seus sentimentos puros numa unção de amor. Apesar do cavaleiro sentir um desejo tão forte pela menina, ele não fez mais do que beijá-la durante toda a noite e em seguida adormecer onde mais queria, em seus braços. Se naquele momento houvesse alguém prestes a escolher entre amar e fazer o justo, ele aconselharia que amasse, jamais havia sentido tudo que agora acelerava seu peito, de início não, mas agora aconselharia a todos que amassem da forma mais intensa que pudesse, até o último suspiro de vida que lhes cabia, só assim estreiam realmente satisfeitos de corpo e alma.

E enquanto dormiam, Aísha e Albafica amavam-se mais uma vez para consumar o amor que sentiam um pelo outro. Não podiam culpá-las, mas a chegada das gêmeas no santuário provou a Manigold que é possível amar e a Albafica que ele pode, tanto quanto os outros, tocar o mundo, e tinha em sua cama o mundo no qual se referia. Uma linda mulher de longos cabelos vermelhos, os olhos que ele desejava ver pelas manhãs antes de um treino puxado, a voz que desejava ouvir a desejar uma boa noite de sono, o corpo que queria tocar durante algum pedido, o cheiro que queria sentir antes de morrer, além das rosas, Aísha era tudo que desejava e tudo que tinha de agora em diante.

Quando o dia finalmente amanheceu, Manigold olhava Any dormindo em seus braços: os cabelos negros despenteados e os olhos fechados, misturando os cílios escuros com a palidez presente nas maçãs do rosto. De certa forma ele não se via fazendo o papel de bom namorado, mas agora tinha que admitir que tudo que queria estava em seus braços, o sentimento em seu peito era tão intenso que chegava a doer. Mas não demorou para que ela também abrisse os olhos e o observasse, a morena achava charmoso aqueles cabelos azuis bagunçados e o cavanhaque bem feito no rosto do amado.

— Bom dia. — cumprimentou o mais velho. — Fico feliz que tenha dormido mais perto de mim.

— Confesso que não foi ruim. — ela sorriu. — Quero te pedir uma coisa, antes de irmos.

— Pode pedir. — os braços fortes do cavaleiro envolveram a cintura da menina puxando para o colo dele.

— Quero que permaneça na casa de câncer enquanto a guerra acontece. — ela pediu deslizando os dedos pela mão dele.

— Posso saber por quê? — ele perguntou com desconfiança.

— Só me obedeça. — Any olhou-o com certo receio que ele não pôde negar. Mas era óbvio que estava mentindo, tinha contas a acertar e seu mestre contava com ele.

— Tudo bem. — ele sorriu perverso. — Com uma condição. — saltou da cama pegando uma camisa.

— Qual? — a menina questionou enquanto sorria. — Quer que eu me comporte e não seja grossa?

— Não. — ele se inclinou e a beijou brevemente. Logo em seguida abriu a porta do quarto e sorriu olhando para trás. — Vais fazer amor comigo quando tudo isso acabar.

Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora