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Manigold estava encolhido no cantinho da parede. O lençol lhe cobria do peitoral para baixo e um pouco de baba escorria por sua boca, Any estava de costas para as costas do mesmo, um tanto afastada e abraçada ao travesseiro que sobrava, talvez uma visão diferente de se ver.

A menina, de sono leve e calmo, abriu os olhos e encarou o guarda-roupa a sua frente, notou que o santo de câncer ainda dormia e se levantou com cuidado para não acordá-lo. A ideia de dividir a mesma cama não foi tão ruim, apesar de ter que dormir quietinha e ainda levar uns tapas do cavaleiro que se mexia a todo instante. Manigold jamais dividiu a cama com alguém e em muitas das vezes nem tinha cama, ia demorar até que se acostumasse com a presença da aluna.

O santuário todo ía acordando aos poucos, as servas já estavam perambulando pelas casas e arrumando as coisas para os cavaleiros tomarem café. Albafica era o único que não usava esse serviço, ele se alimentava geralmente com frutas e quando descia as escadas pegava algumas na casa de câncer, já que Manigold era seu melhor amigo e não negava nada a ele. Porém, Aísha não sabia disso, e com ascendência em touro, estava morrendo de fome.

— Mestrizinho, querido. — chamou de uma forma meiga.

— Sempre me disseram que mulheres quando se mostram meigas é porque querem algo. — advertiu o homem.

— Podemos comer? — ela perguntou sorridente.

— Assim que chegarmos em câncer! — disse ele pela milésima vez. — Deixe de ser apressada.

A menina fez uma expressão triste e abaixou o olhar, Albafica se sentiu culpado, mas não falou nada. Eles já iam quase na casa de virgem, faltava pouco até chegar em câncer e ele tinha plena certeza que ela iria aguentar.
Foi caminhando na frente ficando a alguns passos da menina, mas logo deixou de ouvir os passos dela e olhou para trás. Aísha estava deitada no chão como se tivesse desmaiado, Albafica suspirou e regressou para perto.

— Aísha... — chamou. — Vamos, deixe de teatro.

Esperou por uma resposta da menina, mas não a teve, começou a ficar preocupado com ela e então se aproximou. Ficou em dúvida do que fazer, estava entre virgem e libra, Dohko não estava e duvidava muito que Asmita fosse se levantar para ajudar nessa situação, parece que o cavaleiro de virgem gostava de provocá-lo a tocar nas pessoas. Suspirou profundamente, se a tocasse estaria colocando a vida dela em risco.

— Aísha por favor, acorde... — suplicou com uma voz mais calma.

Contou até dez, e repetiu a contagem, contou novamente de trás pra frente. Enquanto isso Aísha se segurava para não rir, afinal, não era tão ruim brincar um pouco. O cavaleiro se abaixou e com a ponta dos dedos tirou a mecha de cabelo do rosto da amazona, a tonalidade de sua pele era tão diferente da dele e ela parecia tão mais quente. Tocou-a no rosto brevemente, apenas com as pontas dos dedos e tentou captar informações sobre o corpo da garota, mas não obteve sucesso. Podia sentir, mesmo que mínimo, o cosmo da ruiva, mas não recolhia informações, nem sequer pensamentos.

— Hm... — reparou que não tinha como saber como o corpo dela reagia ao seu toque. — Aísha! — chamou.

— Viu como pode me tocar. — o cavaleiro afastou-se rapidamente ao ouvir a voz da menina.

A menina se sentou e começou a rir enquanto abraçava a barriga, mas ao contrário dela, Albafica não estava achando engraçado. O mesmo levantou-se e a olhou sério, a menina deixou de rir e reparou que o mestre não estava para brincadeira.

— Nossa, que mau humor. — ela disse se levantando. — Desculpa...

O silêncio reinou, Albafica odiava brincadeiras deste tipo e enganá-lo não foi a melhor das maneiras de conseguir um toque do santo, afinal, ele se preocupou, caso contrário a deixaria ali sem se importar.

Voltou a caminhar descendo as escadas e Aísha percebeu que ele estava bravo e ficou triste com isso, queria fazê-lo rir e não deixá-lo com raiva.

Mas na verdade, a mente do santo estava se perguntando o porquê dele não conseguir saber de seus pensamentos e do estado de seu corpo, ele consegue fazer isso até com as plantas, e por que seu sangue não fez efeito na menina? Será que ele poderia tocá-la sem nenhum problema?

Na casa de câncer, Any já havia tomado banho e se vestido adequadamente. Só estava um pouco indignada porque as servas não a deixavam fazer nada. Sentou-se a mesa e logo viu o cavaleiro de câncer sair do quarto, seu peitoral nu e os cabelos bagunçados chamaram sua atenção, ele se alongou e sentou a frente da menina, roubando-lhe o bolo de seu prato e pegando pra ele, nesta hora Albafica entrou pela porta ao lado de Aísha.

— Bom dia. — disse o pisciano sério.

— Bom dia. — Mani respondeu sorrindo e batendo a mão na cadeira ao lado dele como se indicasse que Albafica devia sentar. — Vamos tomar café?

— Já pensou em vistir uma camisa? — o pisciano perguntou e cruzou os braços escorando-se na parede. — Sente-se Aísha, e tome café.

— Mas eu sempre fiquei sem camisa. — Manigold disse com a boca cheia enquanto olhava o amigo.

— Agora é diferente. — afirmou o outro. Aísha se sentou ao lado de Any e foi tomando café vagarosamente, ainda estava assustada com a seriedade que o cavaleiro de peixes tratava-a. Estava decepcionada com sua própria atitude.

— Mas que cara de velório. — Any resmungou. — O que aconteceu?

— Nada. — Aísha e Albafica disseram em uníssono e Mani sorriu.

— Formam um belo casal. — disse o canceriano e se levantou. — Vou me vestir! Vai levando elas Albafica.

Albafica pegou uma goiaba da cesta no centro da mesa e saiu andando. Precisava descobrir quem eram essas meninas, e tinha que ser logo. Ninguém além de Rugonis o tocou e saiu vivo, isso causava uma frustração terrível no garoto, seu poder não era suficiente para matar uma reles humana de cosmo fraco? Olhou as mãos e as moveu com cuidado criando uma rosa vermelha. Olhou-a com paixão e sorriu, a beleza das rosas eram absolutas e poderosas para impressionar qualquer um. Até mesmo Aísha.

Deixou que as meninas fossem na frente e enquanto Aísha contava o que aprontou com o peixe, ele conversava com o câncer sobre o que aconteceu e como a ruiva reagiu diante de seu toque.

— Está frustado, não é? — Mani perguntou risonho.

— Desfaça essa cara de satisfeito. — Albafica olhou-o com raiva.

— Mas pense pelo lado bom... Tu podes tocá-la. — sorriu o amigo.

— Isto muda em que? — o cavaleiro fez-se de cínico.

— Não sejas bobo, te conheço melhor que você. — o canceriano riu. — Aconteceu alguma coisa, além disso?

— Se te contar tu não acredita. — engoliu seco.

— Conte. — incentivou o mais velho.

— A vi tomar banho....

Os olhos de Manigold quase saíram do local. Como assim Albafica, de peixes, seu melhor amigo, viu uma mulher tomar banho?

Saint Seiya - Filhas do Tempo (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora