Revelações

5K 456 21
                                    

Ela me olhava por baixo dos óculos escuros ouvindo tudo o que eu tinha a dizer, mexia o café em movimentos circulares batendo a colher no interior da xícara.

— Você está prestando atenção? — Perguntei irritada.
— Claro que sim, Suzane. Mas apesar de todas essas coisas que me disse, tenho uma pergunta a fazer... a quanto tempo você e Ágata estavam ficando? — Perguntou Julie analisando.
— Uns dois meses.
— Não estou querendo defendê-la, mas seja racional, Suzan, ela é casada, pode ter engravidado antes de vocês se conhecerem.
— É, eu sei.
— Eu estou realmente tentando ser racional, sei que você está chateada com a situação e eu também estaria, mas tente manter a calma, você não sabe até onde essa história toda é verdade.
— Eu quero ficar sozinha por um tempo, sabe? Esperar o tempo mostrar quem é quem.
— Entendo, podíamos viajar, o que acha?
— To com bastante trabalho essa semana, mas vou me programar e combinamos.
— Ótimo.

Puxei Julie pela cintura e entramos no carro, deixei ela em casa e estacionei entrando na garagem.

Ao abrir a porta tive um susto ao ver minha mãe sentada conversando com a Letícia no sofá da sala, minha mãe sabia que tivemos um relacionamento, e odiava ela, pra minha mãe, ela era a única culpada em eu me relacionar com outras mulheres, mas talvez minha mãe tenha repensado quando me viu sofrer por tanto tempo quando Letícia foi embora.

— Boa tarde. — Disse entrando.
— Filha, vamos almoçar, estávamos só te esperando. — Letícia me olhou surpresa e eu a olhei de volta, peguei os pratos ajudando minha mãe servir a mesa.

Minha mãe falava das minhas traquinagens de criança enquanto eu ouvia espantada, meu celular começou a tocar, era Ágata, Letícia olhou para a tela e para mim, continuou a comer tranquilamente como se não percebesse do que se tratava.

Coloquei toda a louça suja na pia e ouvi meu pai buzinando para minha mãe sair, levei-a até o portão e dei um beijo no meu pai, logo voltei e encontrei Letícia sentada no sofá.

— Desculpa aparecer sem avisar, mas tentei te ligar e seu celular estava fora de área.
— Tudo bem, o que vocês conversavam? — Perguntei.
— Eu nem sei, estava tão nervosa, sua mãe nunca gostou de mim, mas hoje ela estava extremamente receptiva, fiquei sem entender.
— Eu também.
— Suzane, eu vim te ver porque Guilherme me procurou, ele me pediu toda a documentação original e eu entreguei, não estou questionando, sei que você está fazendo suas próprias averiguações, e eu mesma pedi que fizesse isso, eu vim porque omiti uma coisa.
— O que?
— Eu sei que não perguntou e talvez nem seja do seu interesse, mas no último ano que estive morando com minha tia, eu acabei me relacionando com uma pessoa, foi algo sem importância e de curto prazo, estou dizendo porque sei que você vai descobrir realmente tudo sobre mim nesse período que estive longe, e só quero que fique tudo esclarecido.

Eu a olhei, seus olhos cor de mel eram expressivos como sempre, seus cabelos loiros caiam perfeitamente desenhando seu rosto, senti uma pontada de ciúmes ao ouvir essa declaração, Letícia foi sempre tão entregue e fiel a mim, tão pontual e correta como submissa, eu não conseguia imaginar ela nos braços de outra pessoa.

— Isso é tudo o que tem a dizer? — Minhas palavras foram mais duras do que eu esperava.
— Na verdade não, eu queria dizer algo pela última vez, queria que soubesse que não teve um só dia em que eu não sofresse por não ter você, você sabe que tive outras donas e um dono, mas ninguém que eu amei como amei e ainda amo você, não estou pedindo pra voltarmos, apesar de que seria a melhor coisa que poderia me acontecer,  eu só quero você saiba Suzane, que sou sua, mesmo que não queira mais, mesmo que me rejeite, mesmo que não confie no que eu disse por ter sumido a tanto tempo, você sabe que não sou do tipo de pessoa que vai ficar te incomodando, eu poderia falar isso tudo por telefone, mas também poderia não conseguir me expressar como agora, você tem meu telefone, você sabe onde pode me encontrar, Guilherme também, só quero agradecer os anos maravilhosos que passei ao seu lado, e o quanto fui feliz, o quanto me fez feliz, obrigada mesmo por tudo.

Ela se levantou e por reflexo me levantei também, eu a abracei e ela correspondeu, ela tinha cheiro de banho recém tomado e maçã verde, minhas mãos alcançaram seu quadril e a toquei com minha mão possessiva, só em pensar em tê-la novamente eu já conseguia sentir minha calcinha molhada, mas eu não queria e não podia, eu não ia me envolver enquanto não tivesse certeza de que Letícia estava falando a verdade.

— Está de carro? — Perguntei me afastando.
— Não, mas não se preocupe, eu vou de táxi. — Disse ela com as bochechas vermelhas e os olhos brilhantes de excitação.
— Eu te levo.
— Não precisa se incomodar, Suzane.
— Pegue suas coisas.

Puxei-a pela mão e ela entrou no carro, o caminho parecia ser um pouco mais longo do que realmente era, parei o carro e ela me olhou depois de pegar a chave na bolsa.

— Obrigada. — Disse ela.

Ela me olhou nos olhos como se implorasse por um beijo, eu queria beija-la, eu estava excitada e meu corpo sem duvidas adoraria tê-la e dominá-la como sempre fiz, mas o melhor era ir embora.

— Quer entrar? — Disse ela olhando minha boca quase salivando e fazendo meu corpo elevar a temperatura de imediato.
— Não obrigada, já vou indo.

Ela balançou a cabeça em concordância e abriu a porta do carro, eu fiquei olhando-a desaparecer e dirigi de volta para casa.

Ágata ligou varias vezes mas eu não quis atende-la, eu estava cansada e com uma confusão mental gigantesca, eu precisava me afastar delas, eu precisava de um tempo pra mim, e apenas para mim, sem envolvimentos, um tempo apenas para colocar minha cabeça no lugar.

O mistério de Ágata Onde histórias criam vida. Descubra agora