Desmascarando Agata

3.6K 345 44
                                    

Estava aguardando notícias, qualquer coisa, era angustiante, estava do lado de fora da sala de emergência esperando ela terminar de ser atendida quando vi Erick chegar, ele me olhou por cima dos ombros e saiu.

Cerca de 4h depois Letícia saiu com o pé enfaixado e acordada, me levantei para acompanhá-la até o quarto, ela estava na cama e medicada, uma enfermeira ainda estava conferindo tudo, mas logo saiu deixando-nos a sós.

— Letícia, como está?
— Bem, me deixe sozinha.
— Não, não vou deixar você, vou ficar aqui e cuidar de você. — Ela respirou fundo se ajeitando na maca.
— Eu não quero, prefiro que cuide da sua mulher que está grávida.
— Por Deus, Letícia, sei que o que viu é contrário ao que vou dizer, mas não estamos juntas, ela me procurou arrasada, o ex marido faleceu, e acabou acontecendo por um momento de carência. — Letícia me olhou com seus olhos grandes e balançou a cabeça como se estivesse sem acreditar.
— O que foi? O que sabe? Você ia me dizer algo quando chegou.
— Eu estou com um ódio tão grande de você Suzane, que não me importo mais, você fez suas escolhas e eu farei as minhas.
— Do que está falando?
— Por favor, vá embora Suzane.

Erick entrou no quarto e se aproximou entregando a ela um enorme buquê de tulipas brancas, ele deu um beijo em sua testa e segurou sua mão.

Eu entendi do que se tratava suas escolhas, me retirei do quarto arrasada, eu sabia que cedo ou tarde isso aconteceria.

Liguei para Ágata e me prontifiquei a acompanhá-la no velório, no horário combinado busquei-a, ela estava de óculos escuros.

Chegamos ao local do velório, muita gente acompanhava, Ágata se aproximou do caixão e logo se afastou, eu estava distante aguardando-a voltar, ela veio em minha direção e percebi uma mulher linda de aproximadamente 25 anos se aproximar puxando o braço dela, Ágata se virou e senti uma tensão imediata no ar.

— Como tem coragem de vir aqui? Foi você, não foi? Eu vou até o inferno pra provar que você matou meu irmão sua desgraçada, o que queria além das minhas sobrinhas? Dinheiro? Estava chantageando meu irmão não é mesmo? O que ele te deu não era suficiente?
— Você só pode estar louca, você não sabe o que está dizendo.
— Eu não tenho medo de você Ágata, ou prefere ser chamada de Samantha? Esse era seu nome da noite não é mesmo? Tenha certeza que não vou sossegar até provar que você matou meu irmão, e quando isso acontecer, eu mesma irei vingar não só a morte dele, mas dos seus outros amantes assassina.

Eu estava um pouco confusa com tudo o que ouvi, Ágata estava tranquila mesmo depois de ouvir todas aquelas acusações, caminhamos em silêncio para o carro, quando entramos, olhei-a ainda em silêncio.

— Ágata? O que foi isso?
— Total desequilíbrio daquela garota mimada, apesar de tudo não a julgo, ela era muito apegada ao irmão, ela nunca gostou de mim, sempre com essas invenções, vamos? Não me sinto bem.

Eu continuei em silêncio, eu só conseguia me lembrar que Guilherme havia me alertado que Ágata tinha antecedentes criminais, mas não dei importância, e não pesquisei a fundo, será possível que Ágata seja fria a ponto de matar o próprio ex marido e vir ao velório?

Deixei-a em casa e voltei para o local do velório, muita gente já havia saído, o corpo já tinha sido enterrado, entrei para a parte do cemitério andando em meio aos túmulos, procurando aquela mulher, se me lembro bem, ela tinha uma estatura média, tinha curvas bem feitas e pele clara, andei em quase todos os lugares mas não a encontrei.

Em uma capela afastada e com uma porta semi aberta percebi uma movimentação, saíram umas cinco pessoas e eu entrei, a garota estava lá, sentada com um crucifixo de ouro nas mãos limpando as lágrimas, aguardei calmamente que ela terminasse suas orações, estávamos apenas eu e ela na capela.

Ela se levantou e seus olhos encontraram os meus, ela passou por mim e saiu, rapidamente alcancei ela.

— Desculpa, sei que não é o melhor momento, meu nome é Suzane, vi tudo o que você disse sobre Ágata, em outro momento gostaria que me contasse sobre ela, vou te entregar meu cartão, se possível me procure. — Ela me olhou pegando o cartão olhando com delicadeza.
— Advogada? — Perguntou.
— Sim, olhe, é importante para mim saber quem Ágata é de verdade.
— Me acompanha em um café? — Perguntou-a me deixando surpresa.
— Sim, claro que sim, vamos.

Abri a porta do carro para que ela entrasse e dirigi até uma cafeteria próxima, nos sentamos e pedi um expresso com leite e canela, e alguns biscoitos amanteigados.

— Obrigada por conversar comigo hoje, ainda não sei seu nome.
— Lauren.
— Sinto muito por seu irmão, Lauren, uma pena conhecê-la em um momento tão triste.
— Daniel sempre foi como um pai para mim, ele era um filho excelente, um irmão amoroso, um pai dedicado, e um marido... um marido que fazia todas as vontades daquela mulher.
— Não gosta da Ágata?
— Você é amiga dela? Porque se veio para defendê-la é melhor ir embora.
— Lauren, é uma situação complexa, eu me envolvi com Ágata, conheci-a em um pub, e ficamos por algum tempo.
— Mais uma amante dela... só não sabia que ela também se relacionava com mulheres.
— Não, eu não sabia que Ágata era casada, quando descobri rapidamente me afastei, ela sempre foi muito misteriosa, eu jamais me relacionaria se soubesse que ela era casada, eu só preciso saber a verdade.
— Você sabe que o filho que ela espera não é do meu irmão?
— Não?
— Não, é de um antigo amante dela que misteriosamente desapareceu depois de aparecer lá em casa pra contar toda a verdade ao Daniel, esse foi o motivo que levou meu irmão assinar o divórcio, ele nunca acreditou em mim.
— Por que acha que Ágata matou o seu irmão?
— Não seria o primeiro assassinato dela... meu irmão a conheceu quando ela trabalhava em uma casa noturna, ela era garota de programa, ela foi incisiva até conseguir que meu irmão casasse com ela, a quase oito anos atrás, em pouco tempo depois do casamento ela usou a arma do meu irmão para matar um homem na própria casa deles, ela alegou legítima defesa, meu irmão conseguiu que ela não fosse presa e respondesse em liberdade, ninguém da família nunca acreditou nessa história, apenas o inocente ou cego de amores do Daniel, eu fui atrás e descobri que esse cara que ela matou, era uma espécie de cliente fixo dela.
— Você tem como provar o que está dizendo?
— Sim, eu não tenho motivos pra inventar nada.
— Lauren, espero que a gente possa se reencontrar, temos muito a conversar ainda.
— Vou viajar por um tempo, vai ser muito difícil ficar por aqui sem ele, mas no que precisar para desmascarar aquela mulher conte comigo.
— Obrigada.

Lauren estava mais do que triste, eu percebia por suas palavras quanto revoltada ela estava, era inacreditável tudo o que ouvi sobre Ágata, e era um pouco difícil não acreditar que Lauren tenha razão em algumas coisas.

O mistério de Ágata Onde histórias criam vida. Descubra agora