Rainha má?

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Demorei um pouco a conseguir dormir, Letícia pelo visto também, acordei às 6h e ela já não estava mais, e ao procurá-la pela casa me dei conta que a gaveta que guardo as coisas dela estava semi-aberta.

Abri a gaveta e percebi que ela havia levado tudo, até mesmo a toalha que havia se secado na noite anterior, no móvel do quarto onde eu guardava meus porta retratos ela levou apenas a foto que tinha de nós, deixando o porta retrato vazio.

Passei as mãos no rosto nervosa e ouvi a campainha tocar, era um rapaz de moto, ele me entregou uma caixa e me fez assinar um papel.

Fechei a porta e coloquei a caixa na cama, quando abri percebi que Letícia estava me devolvendo todas as coisas que eu havia lhe dado, seu roupão de submissa, sua coleira social de brilhantes, sua coleira, nossos brinquedos que ficavam com ela, jóias que a presenteei ao longo do nosso relacionamento, e seu anel de noivado, no fundo da caixa havia uma carta escrita à mão que não demorei muito a ler.

Querida Suzane!
Estou lhe entregando nessa caixa tudo o que me deu e que guardei com carinho até aqui, peguei todas as minhas coisas da sua casa, inclusive nossa foto, e obrigada pelos anos que me fez feliz.
Acho que as coisas entre nós ficaram bem claras depois desta noite, quando te vi no Pub meu coração se encheu de alegria pensando na possibilidade de você ter ido ali por mim já que seu amigo/Espião Guilherme me viu e sem dúvidas falaria pra você que eu estava lá, eu tive a maldita ilusão de você ainda ter ciúmes de mim, você que sempre foi tão controladora e possessiva não é mesmo? Erro meu, talvez você pense que pode me controlar sem querer estar comigo, me controlar mesmo estando em dúvida sobre a veracidade das informações sobre os anos que passei fora, e também dividida entre eu (talvez) e seu casinho com uma mulher casada, Ágata não é isso? Oh minha cara, eu também consigo informações quando quero.
Não, não quero tirar satisfações com você, não é esse o objetivo dessa carta, eu só quero pedir, na verdade implorar que não me procure nunca mais, se não me ama e se não me quer, então me deixe ir, me deixe viver, me deixe te esquecer, me ajude a te esquecer, eu ainda te amo, sim, pois não consigo acreditar que alguém que ame verdadeiramente outra pessoa como eu amo, possa deixar de amar tão fácil como você deixou de me amar, se é que algum dia de fato me amou.
Desculpa por qualquer coisa, e obrigada mais uma vez.
Adeus, Letícia.

Por mais que eu tentasse esquecer tudo o que vivemos era impossível, mas eu não quero continuar esse relacionamento, certo? Eu estava tremendo e com o coração apertado como senti quando ela foi embora, aquela angústia me sufocava e me maltratava, mas eu não iria atrás dela.

Fiz um café forte e tomei enquanto tentava trabalhar, eu não conseguia, eu não tinha concentração nenhuma.

Tomei um calmante natural e me deitei, eu precisava relaxar e dormir um pouco, depois de me revirar muito consegui dormir.

Acordei horas depois bem mais calma, aquela angústia tinha passado e eu já estava me sentindo bem, olhei para o celular, era Ágata ligando pela 7° vez. 

— Oi Ágata.
— Suzane, a gente pode se ver?
— Desculpa, mas estou com problemas, estou sem cabeça agora.
— Entendo... eu pedi o divórcio.

O silêncio se instalou em ambos os lados.

— Ele entrou com ação para requerer a guarda das meninas, queria sua ajuda.
— Eu não vou me sentir a vontade cuidando desse caso, mas vou pedir para um amigo entrar em contato com você, ele é um excelente profissional.
— Obrigada, fique bem.
— Você também.

Tomei um banho demorado e lavei os cabelos, coloquei meu roupão preto e fiquei sentada em um banco no jardim de casa enquanto degustava um vinho tinto com os pés apoiados em uma mesinha.

Recebi uma mensagem da Yara.

"Suzane, posso te ligar?"
"Sim" -Respondi de imediato.

— Suzan, boa noite.
— Boa noite minha rainha, no que posso ajudá-la?
— Bom... eu nem sei como te falar isso, mas Letícia me procurou.
— Serio? O que ela queria?
— Sim, eu prefiro falar pessoalmente.
— Eu vou aí, mas vou entrar pelo portão de trás, deixe aberto.
— Ok.

Coloquei a primeira roupa que vi na frente e saí, estacionei e entrei por trás como combinado, ela estava sentada tomando uma bebida enquanto me aguardava.

— Boa noite minha rainha, fiquei preocupada. — Disse beijando sua mão ao cumprimenta-la.
— Sente-se, vou pegar seu whisky.

Ela se afastou e logo voltou com a garrafa e o copo.

— O que Letícia queria? — Ela me olhou com aquele ar dominador que só ela tinha.
— Você sabe que não sou de rodeios, e só te chamei para vir pois tenho consideração demais por você, vou logo ao ponto, Letícia esteve aqui... na verdade ela ainda está na casa, ela me procurou para que eu aceite ser a Domme dela.
— Isso é sério?
— Sim.

Dei um gole na minha bebida e balancei a cabeça frustrada.

— Não a ama mais? O que aconteceu entre vocês?
— Eu não sei o que sinto por ela, ontem eu fui buscá-la em um pub, ela estava agarrada com um cara... meu sangue subiu na hora e a arrastei para fora, levei-a para minha casa, e talvez ela pensou que ia rolar alguma coisa, mas não aconteceu nada e ela me mandou de volta tudo que dei a ela.
— Desde que ela voltou não aconteceu nada entre vocês?
— Não.
— Não tem vontade mais?
— Sim, ela é sexy, atraente, mas conheci uma pessoa...
— Casada.
— Como sabe?
— Ela me disse quando se justificou do término definitivo entre vocês.
— O que posso fazer? Eu não contava mais com a possibilidade da volta dela Rainha.

Terminei meu whisky e voltei o olhar para ela que estava pensativa.

— O que disse a ela? — Perguntei.
— Pedi que me aguardasse na casa até que eu a procurasse novamente.
— Vai aceitar?
— Me responda uma coisa, caso eu não aceite você vai aceitá-la de volta?
— Não.
— Tudo bem, então eu aceitarei. — Eu a olhei e seu olhar era frio e duro.
— Vou indo.
— Suzane, antes que vá quero deixar claro que se não for eu, será outra Domme, e só quero lhe avisar uma coisa, esta casa continua aberta para seus treinos, eu continuo disponível para treiná-la, mas não se aproxime mais da Letícia a partir de agora, por escolha sua ela me pertence.

Virei as costas e saí deixando que ela falasse sozinha, a partir de agora minha situação com Letícia estava resolvida.

O mistério de Ágata Onde histórias criam vida. Descubra agora