Mudanças

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Pela manhã acordei com uma dor de cabeça forte, procurei nas gavetas do armário um analgésico e tomei, fiz um café forte e arrumei a mesa do café da manhã.

Dei um beijo na Letícia para acorda-la e logo ela veio tomar café, encheu uma xícara com leite morno, café quentinho e pegou um pedaço de bolo.

— Lê, eu acabei não falando na correria, estou indo viajar hoje, tenho algumas audiências fora da cidade, se precisar de algo é só me ligar, peço pra Guilherme dar um pulo aqui.
— Poxa amor, quando você volta?
— Em dois dias, vai passar voando, vai ver.

Dei um beijo em sua boca acariciando seus cabelos e quando me dei conta estávamos sendo observadas.

— O que é isso Letícia? De novo? Quando Denzel me disse eu mal pude acreditar que você teve coragem de dispensar um menino de ouro daquele, e de família muito honrada, por uma... coisa dessas.
— Mamãe, o que faz aqui?
— Essa casa é minha, venho quando eu quiser.

Peguei na mão dela por baixo da mesa acariciando e dando forças, me levantei e fui para o quarto buscar minha arma que eu havia escondido no guarda roupas para ela não acabar achando, enquanto isso elas discutiam na cozinha.

Quando entrei na cozinha Letícia estava chorando sozinha, a mãe já havia saído.

— Ela já foi? — Perguntei.
— Sim, mas ela vai voltar.

Me aproximei e a abracei, ela estava muito nervosa.

— O que foi?
— Ela quer me obrigar a voltar com Denzel ou voltar para o Canadá.
— E se você não fizer isso?
— Ela vai me expulsar, vai parar de me ajudar financeiramente.
— Só isso?
— Como só isso? Dependo da minha mãe pra tudo Suzane.
— Arrume suas coisas, pegue tudo o que é seu, venho te buscar às 14h.
— Eu não tenho dinheiro pra me manter sozinha agora.
— Não questione, Letícia, as 14h estarei aqui pra te buscar, não se atrase.
— Não vai dar tempo, minha mãe não deve demorar.
— Ok, vamos, eu te ajudo.

Ela me olhou e saí para o quarto, peguei duas malas grandes e comecei a juntar tudo, Letícia apareceu encostada na porta do quarto.

— Vamos, não fique parada.

Ela começou a olhar as gavetas e em pouco mais de 40 minutos já tínhamos arrumado tudo.

— Falta mais alguma coisa?
— Não. Vou só olhar no banheiro.
— Vou levando pro carro.

Abri o porta malas e coloquei todas as coisas, antes que eu pudesse voltar ela apareceu com o restante das coisas e trancou tudo jogando a chave por baixo da porta.

— Pronta?
— Sim. — Respondeu.

Passamos todo o caminho em silêncio, ela estava nervosa, e por conhecê-la bem como conheço, ela vai demorar a se acostumar em ficar na minha casa.

Estacionei e ela saiu do carro, ouvi um barulho e percebi que a casa não estava sozinha, minha mãe certamente estaria lá, Letícia me olhou sem jeito, visivelmente deslocada.

— Obrigada Suzane, mas é melhor eu voltar, sua mãe não gosta de mim.
— Ei... minha mãe não mora aqui, relaxa, venha.

Puxei-a pela mão para dentro de casa, minha mãe estava na cozinha lavando umas coisas depois de preparar o almoço, me olhou e voltou o olhar para Letícia.

— Oi, venham almoçar, fiz panquecas.
— Oi, mãe, Letícia vai passar uns dias aqui. — Minha mãe me olhou incomodada.

Fingi não perceber e me sentei ao lado da Letícia, minha mãe serviu a gente e almoçamos em silêncio, assim que terminamos fui deixar minha mãe em casa e aproveitar para falar com ela.

— Mãe, eu vou viajar esses dias, Letícia vai ficar em casa, se possível tente ser cordial. — Ela me olhou.
— Está trazendo ela pra morar com você?
— Em definitivo ainda não, mas acostume-se com a ideia.
— E não pode cada uma ficar na sua casa? Tem que trazer essa menina pra cá?
— Não preciso dar satisfações sobre tudo mamãe, por favor, se quer continuar cuidando das minhas coisas é sempre um prazer tê-la em casa, se quiser continuar vindo todos os dias lá em casa eu também ficarei feliz, mas não vou aceitar que maltrate ela, tudo bem?

Minha mãe saiu do carro batendo a porta, suspirei, como é difícil essas mulheres geniosas.

Entrei em casa e Letícia estava terminando de lavar a louça, abracei-a por trás dando um beijo no seu pescoço.

— Não te trouxe pra ser empregada, não precisa passar o dia arrumando as coisas viu?
— Eu sei, só quero fazer algo útil.
— Tudo bem, vou arrumar ali para você colocar suas coisas.

Eu tinha feito um closet bem espaçoso que no final tinha decidido não usar mais, esteve fechado esse tempo todo desde que Letícia havia ido embora.

Arrumei minhas malas e me despedi dela, liguei para o Rodrigo e fiquei esperando ele atender.

— Suzane, que bom falar com você, já no aeroporto?
— Sim, você vai agora?
— Não, estou esperando uma cliente que vai comigo.
— Tudo bem, a gente se vê lá.

Rodrigo era um grande amigo, advogado a bastante tempo, a gente sempre viajava a trabalho juntos, inteligentíssimo e muito educado.

Algumas horas depois fiz check-in no hotel, era fim de tarde e o dia estava quente e delicioso, coloquei um biquíni e dei um mergulho, fiquei sentada tomando uma água de coco olhando o mar um pouco distante.

— Você não perde tempo. — Ouvi a voz do Rodrigo ao fundo, sorri e me levantei para abraçá-lo, mas parei imediatamente ao ver ao lado dele, Ágata, ela me olhou sorrindo, possivelmente já sabia que me encontraria aqui.
— Olá meu querido, como está?
— Bem, não melhor do que você que está a cada dia mais linda.
— Obrigada. — Respondi.

Ágata saiu com as coisas dela e foi para o quarto, Rodrigo me olhou.

— O que ela faz aqui? Por que a trouxe?
— Você me encaminhou o caso dela, esqueceu? Amanhã é a audiência de reconciliação ou divórcio definitivo, vocês estão brigadas?
— É uma longa história.
— Não vai me dizer que vocês...
— Sim.
— Meu Deus, você é demais garota, essa Ágata é uma mulher linda.
— É sim, mas estou comprometida agora.
— Com quem? Conheço?
— Sim, Letícia voltou.
— Entendi... bom, vou descansar um pouco, saímos pra jantar as 20h viu?
— Podem ir, eu vou jantar no quarto mesmo.
— De forma alguma, faz muito tempo que não saímos juntos, você vai sim.

No horário combinado coloquei meu jeans com uma camiseta estampada e all star, fiz uma maquiagem simples e saí, logo Rodrigo apareceu com uma calça escura e uma polo clara, dei graças a Deus por Ágata não estar.

— Vamos. — Disse.
— Espere. Ouvi sua voz ao fundo com um sorriso sarcástico.

Ágata estava com um vestido escuro marcando sua barriga, ela usava uma jaqueta jeans e os cabelos soltos, ela estava muito bem maquiada.

Respirei fundo e me virei continuando a andar, Rodrigo falava algo que eu não prestava atenção, logo o táxi chegou e ele foi para frente, sobrando para que eu me sentasse ao lado da Ágata no banco de trás, ela cruzou as pernas fazendo o vestido descer mostrando mais do que deveria, me ajeitei no banco olhando fixamente para fora, Ágata estava bem enganada se estivesse achando que eu transaria com ela.

O mistério de Ágata Onde histórias criam vida. Descubra agora