Amnésia

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Era sábado à tarde, eu estava em casa vendo TV e comendo pipoca com chocolate derretido, já fazia mais de um mês desde o acidente da Ágata, eu sempre a visitava e precisava ter jogo de cintura com os ciúmes da Lauren. Yara me ligou para pedir desculpas alguns dias depois por ter me batido, acredito que elas estão juntas, apesar de não ter mais aparecido por lá, ela não entrou em detalhes.

Minha porta da sala foi rapidamente aberta e levei um susto, era Julie.

— É a casa da mãe Joana? Entre devagar, por pouco achei que fosse um assalto.
— Desculpa, mas pela tranquilidade que você está, acredito que não tenha visto isso. — Disse ela me esticando o celular.

Era um blog local anunciando o pedido de casamento de Erick a Letícia, eu parei tudo o que estava fazendo, em um momento é como se eu estivesse levitando, eu não sentia meu corpo, exceto pelo coração que batia acelerado, batidas altas que soavam distantes, Julie balançou a cabeça negativamente e me encarou.

— Você vai fazer alguma coisa, né?

Devolvi o celular e a olhei, o que eu faria? Não tenho o que fazer, Letícia seguiu a diante, não posso julgá-la.

— Não.
— Como não? Não a ama mais?
— Nosso relacionamento acabou quando ela passou a não confiar mais em mim, ela seguiu em frente, não posso fazer nada.
— Claro que pode, Letícia é louca por você.
— Foi... não é mais. Julie eu a amo, e por isso desejo que Erick possa a fazê-la feliz.
— Covarde.

Julie saiu me deixando sozinha, eu tentei me acalmar e entrei para o banho, com a testa encostada no azulejo deixei a água quente tentar me relaxar, era difícil, tentei não chorar, mas não consegui, um nó na garganta forte me sufocava, me apertava, parecia que eu ia enlouquecer.

Coloquei uma calça jeans e uma camiseta branca simples com uma jaqueta de couro, peguei as chaves e o capacete escondido e empoeirado que eu ainda guardava da minha Kawasaki Versys 1000, eu amava minha moto, mas não usava pois segundo minha mãe moto era uma bomba relógio e todas as vezes que pegava ela chorava e fazia drama.

Peguei minhas coisas e fui para o posto abastecer, senti meu celular vibrar na jaqueta e respirei fundo, era Ágata.

— Oi.
— Suzane, você vem? Fica comigo hoje.
— Não, Ágata, estou bem ocupada, talvez mais tarde.
— Estou com minhas filhas, venha conhecê-las.
— Será um prazer Ágata. Mas em outra hora.

Acelerei e peguei estrada, eu pilotava sem destino como se em algum lugar fosse possível encontrar a paz, eu tinha vontade de gritar, e fugir como se as lembranças e as memórias não fossem permanecer comigo, por um momento, eu queria esquecer tudo.

Odeio pensamentos do tipo "não tem mais como piorar", a vida sempre mostra que sim, pode piorar sim, e começou a chover, a chuva era forte, reduzi a velocidade aos poucos, eu me sentia melhor, era um alívio imenso ouvir o barulho da chuva e a água fria tocando meu corpo, andei mais alguns metros até chegar em um bar.

Pedi um whisky enquanto comia uma porção de fritas, já começava a escurecer e eu precisava voltar, a chuva agora era fina.

Eu estava a quase 2h de casa, e me sentia agora mais calma, respirei fundo sentindo aquele cheiro de chuva em dia quente enquanto pilotava em velocidade razoavelmente alta, a chuva começou a aumentar, e minha visão estava caótica graças a estrada pouco iluminada, reduzi para fazer uma curva fechada quando percebi um carro tentando me ultrapassar na curva, puxei a moto para a direita tentando me esquivar do carro que acertou o pneu de trás da moto em cheio e me desequilibrei, senti meu corpo ser arremessado para o acostamento e me vi no chão, meu corpo começava a desfalecer e aos poucos tudo estava escuro, apaguei.

O mistério de Ágata Onde histórias criam vida. Descubra agora