Pingos nos ís

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Estava frio, me sentei no sofá e olhei em volta, parecia que tudo estava mais claro agora, Letícia tinha voltado, em cima do sofá estava ainda os laudos da internação, scaneei pelo celular e coloquei de volta ao lugar, no quarto, Letícia dormia tranquilamente nua, caminhei lentamente para fora e saí.

Já em casa tomei um banho rápido e coloquei meu pijama, me deitei e me cobri, eu estava me concentrando e tentando não pensar em nada.

Meu celular apitou, era um e-mail da Ágata.

DE: Ágata
PARA: Suzane
ASSUNTO: Quero te ver

Suzane, estou indo te ver, está em casa ou no escritório?

DE: Suzane
PARA: Ágata
ASSUNTO: Re: Quero te ver

Estou em casa. Pode vir.

Não demorou muito para que Ágata chegasse, ela estava com cara de choro e me abraçou quando me viu.

— Ei, está tudo bem?
— Problemas, às vezes acho que não vou aguentar,
— O que aconteceu? Me fale, não posso ajudá-la se não sei o que está acontecendo. — Ela me olhou nos olhos antes de me abraçar.
— Só preciso de você, do seu carinho.
— Ágata... precisamos conversar. — Ela me olhou atenta.
— O que foi?
— Eu preciso saber o que está acontecendo.
— Desculpa, mas não quero falar sobre.
— É sempre assim. Estou cansada desse mistério todo.
— Me perdoe.

Respirei fundo esfregando as mãos no rosto e jogando o pescoço para trás, voltei a atenção para ela que me observava.

— Eu preciso te contar sobre minha ex... minha ex noiva voltou.
— Como?
— É uma longa história, mas como sei que você nunca tem tempo, te conto melhor sobre isso depois, em resumo, estávamos noivas, tivemos um... desentendimento diria, e ela foi embora a cinco anos atrás.
— Vai voltar com ela? É isso?
— Não, Ágata, estou te comunicando antes que você descubra de outra forma.

Ela me olhou confusa ajeitando uma mecha atrás da orelha.

— E o que pensa em relação a isso?
— Não sei, não tive tempo de raciocinar...

Ela me beijou subindo em cima de mim, e me abraçando, eu a peguei pelos braços e a afastei.

— Minha mãe pode chegar a qualquer momento.
— Tudo bem, acho melhor eu ir, a gente se fala.

Me despedi dela com um beijo rápido e ela se foi, voltei para a cama e me cobri.

Meu celular começou a tocar e me virei para atender, era Letícia.

— Oi. -Disse ao atender, ela fez silêncio, talvez esperasse que eu voltasse a chamá-la como antes, de "minha"
— Sou eu, podemos conversar? Ontem não talvez não tivemos tempo suficiente pra esclarecer algumas coisas, queria falar com você.
— Eu vou aí.
— Só uma pergunta. —Sua voz calma quase não foi ouvida.
— Pode perguntar.
— Como quer que eu esteja? —Essa pergunta antes representava muito para a gente, ela sabe disso.
— Desculpa, Letícia, vou apenas para conversarmos.
— Claro, me desculpe.

Tomei um banho e me arrumei, quando ouvi que minha mãe havia chegado em casa fui até a cozinha para dar um beijo nela e tomar meu café.

Quando terminei deixei minha mãe em casa e saí, buzinei e Letícia abriu a garagem para que eu estacionasse.

Ela estava com os cabelos presos em um coque folgado e um vestido preto rodado simples na altura dos joelhos, ao me ver, ela ficou com as bochechas coradas.

— Entre, fique à vontade, quer beber alguma coisa?
— Água.

Ela voltou depois de um tempo com um copo grande de água com gás com gelo e limão, como eu sempre pedia a ela.

— Obrigada. — Disse ao receber.
— Desculpa te chamar aqui, mas acho que pelo horário de ontem não tivemos muito tempo pra conversar.
— É sim, não tem problema. 
— Eu posso fornecer a você todos os dados da clínica que fiquei internada assim como a da empregada da casa da minha tia, ela via tudo, eu nunca mentiria pra você Suzane, você não faz ideia do tempo que levei até ter coragem de voltar, e de te olhar novamente, e de me explicar, tudo parece vago e estranho, mas posso provar tudo o que disse.
— Eu quero sim todos os dados, mas não porque desconfio de você, mas porque  devemos processar a todos pelo que fizeram a você, principalmente a psicóloga.
— Eu te passo tudo detalhado por e-mail.

Ela pegou o copo vazio da minhas mãos e trouxe mais água.

— Eu nem sei como questiona-lá diretamente, mas tenho algumas perguntas se me permite.
— Pode fazer.
— Você tem alguém? Casou-se depois de mim, ou tem alguma submissa?
— Não me casei Letícia, e não tenho mais nenhuma submissa, nunca me perdoei depois daquele dia, não quis ter mais submissa depois de você. — Ela sorriu com tristeza e eu continuei.
— Queria esclarecer algumas coisas sobre aquele dia.
— Não... não precisa.
— Sim, eu preciso... Letícia, quando você sumiu naquela noite eu fiquei extremamente preocupada, eu liguei mais de quarenta vezes para o seu celular desde as 18h que era o nosso horário combinado, quando fui até a empresa te procurar, e vi você saindo sorridente com aquele cara... porra, eu perdi a cabeça, quando eu te prendi na Cruz de Santo André e coloquei a amordaça na sua boca, eu fiquei tão fora de mim, que não percebi que você tinha soltado a bolinha vermelha para que eu parasse, eu fui imprudente por não olhar, quando eu parei percebi a burrada que eu tinha feito, mas já era tarde demais e você havia ido embora. 
—Você não viu quando soltei?
— Não, eu não vi Letícia, por Deus, eu jamais ultrapassaria seus limites... Guilherme te procurou por dias, mas foi impossível te achar, foi desesperador, desculpa.

Letícia estava com as mãos na boca e os cotovelos apoiados nos joelhos, ela encarou o chão por muito tempo.

—Você ainda me ama Suzane? —Perguntou ela me olhando.
— Não sei, não sei mais o que sinto por você.
— Tudo bem.
— Letícia... eu me envolvi com uma pessoa, não temos nada assumido ainda, mas preciso que saiba disso.

Ela virou o rosto encarando o chão, percebi tentava se controlar para não chorar, senti um aperto no peito.

Meu celular tocou, era Guilherme, pedi licença e saí para atender.,

— Oi Gui, alguma novidade?
— Vamos lá, a Ágata recebeu duas mulheres na casa, ela estava abraçada com uma delas, as mulheres já saíram de lá, mas vi Ágata pela janela provando um vestido de festa.
— Festa?
— Sim.
— Tente descobrir mais coisas, fico no aguardo.

Desliguei a ligação e voltei para a casa, Letícia continuava sentada, me aproximei e sentei ao seu lado.

Ela trocou olhares rapidamente sem me encarar, puxei-a para meu colo e a abracei, ela tinha cheiro de hidratante de morango e cabelo recém lavado.

— Desculpa por ter sido covarde e não ter voltado antes, tive medo da sua reação.
— Está tudo bem.
— Não, não está nada bem Suzane. — Disse ela se levantando.

Ela estava de costas com a mão apoiada na cintura.

— Pode me deixar sozinha?
— Como quiser.

Abracei-a deixando um beijo carinhoso no topo da sua cabeça, e entrei no carro.

Quando estava a algumas quadras de casa Guilherme me ligou, rapidamente atendi.

— Minha querida Suzane, novidades.
— Fale Guilherme.
— Acho que consegui uma coisa que te interessa, e muito.

Senti minhas pernas fraquejarem e meu coração bater forte, ansiosa pelo o que quer que seja que ele tenha conseguido.

O mistério de Ágata Onde histórias criam vida. Descubra agora