Ana Clara
Aproximo-me cada vez mais da fazenda, temendo que alguém me veja por aqui. Certa vez, dona Laura ordenou que Mariana, empregada preferida dela, me expulsasse à vassouradas. Confesso que fiquei bem dolorida.
Espio para ver se a cobra da Mariana está por perto e dou mais alguns passos. Quando já estou próxima à escadaria da fazenda, espio dessa vez procurando o príncipe. Tenho quase certeza que ele mora aqui, mas não o vejo em lugar algum.
— Ai! — grito quando uma mão com unhas afiadas aperta meu braço. A pessoa me vira com brutalidade e puxa o meu cabelo.
Sinto minha vista nublada pelas lágrimas enquanto observo Mariana.
Ela me avalia com desprezo, como sempre.
Mariana tem dezenove anos e me odeia. Por isso adora receber ordens da dona Laura para me maltratar.
— O que veio fazer aqui, sua selvagem? — Enfia as unhas mais profundamente em meu braço, sacudindo-me.
— Solte-me, por favor, Mariana. — Choro. — Tá doendo.
Ela me solta com nojo e limpa as mãos no avental.
— Depois preciso desinfetar minhas mãos. Por enquanto só quero deixar um aviso para você. — Me olha de cima a baixo. — Nunca mais se aproxime da fazenda, está me ouvindo? Se eu te pegar aqui de novo, conto pra dona Laura e ela acaba com a tua raça.
— Por favor, não faz isso, Mariana.
— Cala a boca! — Ela me dá um tapa forte. — Some daqui, garota imunda.
Ponho a mão contra o rosto dolorido e corro para longe ainda ouvindo o seu riso de desprezo. Soluço alto, mas levo um susto ao colidir com alguém. Ergo os olhos cheios de lágrimas, com medo de ser alguém da fazendo, e dou de cara com o príncipe.
Meus batimentos cardíacos aceleram.
Ele segura meus braços e me encara com raiva.
— Você de novo? Por que está chorando?
Abaixo a cabeça.
— É melhor eu ir embora, senhor. — Tento me soltar, mas ele me aperta mais.
— Não. Nada disso. — Levanta o meu rosto. — olha para mim.
Eu o encaro, amedrontada. Suspiro, observando o seu rosto lindo.
Ele limpa minhas lágrimas com os dedos.
— O que fizeram com você? — Noto um resquício de raiva na sua voz.
Nesse momento, Mariana se aproxima toda sorridente para o lado dele.
— Boa tarde, senhor Vinícius. — Ela sorri, alisando os cabelos escuros; depois me encara com nojo. — Eu mesma fiz questão de expulsar essa selvagem da fazenda dos seus pais. Ela vive entrando aqui, escondida como um bicho, e dona Laura já proibiu isso.
Então ele é um Velásquez.
— Sei... — diz Vinícius com sarcasmo, e eu sorrio — Agora se manda! Quero falar a sós com ela. E não quero que nada disso pare no ouvido dos meus pais, entendeu? — Mariana resmunga uma resposta e sai pisando duro; mais vermelha que um pimentão.
Bem feito!
— Como se chama, princesa? — ele pergunta, acariciando o meu rosto.
— Ana Clara, senhor, mas pode me chamar de Aninha. — Coro.
— Não precisa me chamar de senhor. — Abre um sorriso lindo. — Nem sou tão velho assim, só tenho 21. Pode me chamar de Vinícius.
— Tudo bem... Vinícius.
Ele me estuda de cima a baixo de forma enigmática.
— Quantos anos você têm?
— Dezesseis.
— Ah... prefiro mulheres mais velhas, mas isso não é uma barreira. — comenta, e eu o encaro sem entender. — Esquece o que eu disse. Onde você mora?
— Com a minha avó, perto do riacho. Nossa casinha é pequena, mas é bem arrumada.
— Acredito. Deixa eu te levar lá perto. Não é bom uma menina bonita como você ficar andando por aí sozinha.
Coro com o elogio.
— Tudo bem, obrigada. — Ele solta os meus braços e saímos de mãos dadas, seguindo pela trilha de pedras até a porteira cheia de seguranças.
Ninguém questiona Vinícius sobre mim, e o caminho até minha casa é tranquilo e cheio de conversas casuais. Ele fala um pouco sobre sua irmã, Amanda, e sua família.
Durante o caminho, ele me faz parar e fica me encarando de um jeito intrigante.
— Eu quero te dar um presente, Aninha. — Vinícius sorri, aproximando-se.
Eu me arrepio toda. Finalmente noto que ele tem tatuagens; várias pelos braços que eu não consigo entender.
— Você já beijou alguém?
— Hm, na bochecha...
— Não, eu me refiro a outro tipo de beijo.
— Como assim?
— Você já beijou um cara... na boca?
Meu rosto esquenta com a sua pergunta.
— Não. Minha vó disse que isso é errado. Só é certo depois do casamento.
Ele ri um pouco.
— Ela não precisa saber. — acaricia o meu rosto, e sinto um calafrio sem sentido. — Posso te beijar?
— É... — encaro sua boca perfeita e sinto uma coisa inexplicável dentro de mim. — Posso? — repete a pergunta, ansioso.
— Sim. — fecho os olhos e aguardo.
No mesmo instante, sinto sua boca macia se grudar à minha. Eu o abraço pelo pescoço e suspiro. Ele me beija mais forte e empurra a língua entre os meus lábios.
— Relaxa, princesa. — ele pede, tornando a me beijar. Faço o que ele pediu, e Vinícius enfia a língua na minha boca. O beijo ganha intensidade e parece que ele quer me devorar. Sinto um pouco de medo, mas também uma euforia sem limites. Beijar é tão bom...
Quando já estou sem fôlego, eu o empurro, sorrindo. Ele beija a minha bochecha, fazendo borboletas voarem no meu estômago.
— Você é muito linda. — enfia o rosto na curva do meu pescoço, e eu me arrepio toda.
Ele aperta minha cintura e ficamos grudados. Vinícius torna a procurar minha boca e fazemos aqueles movimentos bons com ela.
De repente, alguma coisa começa a vibrar entre nós e uma música estranha começa a tocar. Ele se afasta e pega o celular enorme do bolso da calça.
— E aí, pai... — ele fala com o senhor Velásquez. Segundos depois, desliga o celular, tornando a colocá-lo no bolso. — Preciso ir. Depois a gente se fala. — me dá um selinho.
— Tá bom. — sorrio, disfarçando a decepção. — Tchau.
— Tchau. — ele acena e se vai.
Suspiro, antes de seguir para casa. Sinto a alegria me tomar ao recordar o que acabou de acontecer.
Acho que estou apaixonada.
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A Redenção Do Bad Boy
RomanceAté que ponto o amor pode ser destrutivo? A ingênua Ana Clara de 16 anos não pensou nisso quando se envolveu com Vinícius de Albuquerque Velásquez, um jovem rico da cidade grande. Ela só não esperava que ele se mostrasse tão cruel. Agora grávida, e...