c a p í t u l o 37🌻

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Vinícius

Duas semanas depois...

Tchau pra vocês. A gente se vê na capital. — Luan acena com um sorriso enquanto põe a bagagem no porta-malas do carro. Os demais se despedem também e Edu nem olha na minha cara quando passa por mim.

Victória está ao meu lado e não quis ir com a amiga, pois segundo ela, não é bom que eu fique sozinho nessa fazenda. Amanda se apoia em meu ombro enquanto acena para a Sol.

Observo os carros saírem pela porteira, pegando a estrada rumo ao aeroporto particular da cidade. Só ficam Victória, Gustavo, Amanda e meus pais, além de mim, é claro. Só não fui porque meu pai ainda precisa resolver alguns negócios pendentes na fazenda durante essa semana e precisa de mim. Gustavo decidiu me fazer companhia.


🍁


Eu me afasto do casarão, correndo com o Campeão pelo campo. Ele é um bom cavalo, posso dizer. Nunca vi um cavalo tão veloz e obediente quanto esse na minha vida. Só não peço um dos outros cavalos da fazenda porque me acostumei e peguei um carinho especial por esse cara. O que mais me intriga é a sua pelagem escura com leves tons dourados e brancos. Além disso, ele é enorme e ama correr.

Não demoro a chegar ao meu destino e logo estou no riacho. Contenho o sorriso ao ver a Ana Clara ajoelhada à beira da água cristalina. Ela está lavando roupa e não notou minha presença. Enquanto ela faz seu trabalho, caminho calmamente em sua direção, disfarçando o nervosismo idiota que me tomou de repente.

— Eu não sabia que você estava aqui — murmuro como quem não quer nada e ela estremece com o susto, mas não se vira. Fico irritado quando ela continua lavando as suas roupas, ignorando minha presença. — O que foi? Não vai falar comigo?

Ela vira o rosto em minha direção finalmente.

— Não quero falar com você. Vá embora! — suas bochechas ficam coradas e sei que ficou abalada com a minha presença.

Dou um sorriso sem humor.

— Odeio quando você me ignora! — perco a paciência.

Ana Clara apenas volta a me dá as costas, continuando seu trabalho. Sinto a raiva me percorrer com a sua falta de reação e solto:

— Falta uma semana pra eu voltar pra capital.

Percebo que ela fica abalada com minhas palavras, porque para de esfregar a roupa.

— Finalmente irei embora desse lugar — continuo. — Não vejo a hora de voltar pra Belo Horizonte com a minha família. Vamos deixar um caseiro cuidando da fazenda e nem sei quando porei meus pés aqui outra vez.

Ela permanece quieta e em silêncio, mas continua de costas para mim. Observo sua reação às minhas palavras e espero por alguns segundos. Finalmente me dou por vencido, afastando-me dali. Ana Clara continua da mesma forma e eu lhe dou as costas enquanto monto no cavalo. Saio finalmente, sem olhar para trás.


🍁


Ana Clara

Deixo que ele se afaste para liberar toda a dor que estou sentindo. Minhas lágrimas e meus soluços são mais fortes do que eu. Passo a mão no rosto molhado e me xingo por ser tão burra. Eu não deveria chorar por ele! Mas como sou uma boba, não pude evitar. Pelo menos acho que ele não viu minha explosão.

Ele irá embora daqui a uma semana e tá doendo muito saber disso. Eu deveria está feliz com a notícia depois de tudo o que ele me fez, mas não consigo ficar indiferente a isso. Era para estarmos comemorando o nosso casamento, mas isso não vai mais acontecer. Vinícius destruiu meus sonhos de ser feliz.

Termino de lavar a roupa e as coloco no cesto para estender quando chegar em casa. Carrego o mesmo com um pouco de dificuldade e logo chego ao meu destino. Minha vó está deitada na sua rede no quintal e acho que já são umas três horas da tarde.

Aceno quando passo por ela e minha vó sorri. Estendo as roupas e me sento em um banco de madeira, extremamente cansada. Nem fiz muito esforço e já fiquei exausta. Isso é muito estranho.

O que mais me intriga são os enjoos que têm me tomado nos últimos dias. Às vezes eles são tão fortes que me fazem ficar de cama, mas em alguns dias não os sinto. O pior de tudo é a minha menstruação atrasada. Estou com medo de contar isso para a minha vó.

Passo a mão na testa suada, esperando que ela não tenha notado meus olhos inchados depois do meu choro no riacho.

— Está se sentindo bem, querida? — me olha, preocupada.

— Sim, não se preocupe. Só fiquei um pouco cansada, já vai passar.

— Se você está dizendo... — ela olha para os lados, com o cenho franzido. Sei que está preocupada com algo que não quer me contar.

— O que está acontecendo, vó? A senhora só vive preocupada nos últimos dias.

— Eu não queria dizer isso, mas estou com medo de passarmos necessidades novamente.

Fico triste na mesma hora com a sua preocupação.

— Não vamos passar. Eu posso trabalhar e... — eu me calo antes de terminar a frase.

Realmente esses dias andam difíceis para todo mundo. Não consegui mais nenhum serviço na outra vila e minha vó já não tem dinheiro para comprar material para os seus artesanatos e muito menos comida. Nem sei qual será nosso almoço amanhã e estou muito preocupada com isso. Em uma hora ou outra terei que ir à fazenda pedir comida.

Mas o meu maior medo é não ter dinheiro para comprar os remédios de pressão da minha vó e ela realmente precisa.

— Tudo anda muito difícil por aqui. — ela olha para os próprios pés. — Não sei o que fazer.

— Posso pedir comida na fazenda, vó. Não custa nada tentar. A Maria é uma pessoa maravilhosa e não nos negaria isso.

Ela assente e sinto um aperto no coração quando seus olhos se enchem de lágrimas.

— Eu só queria que fosse tudo diferente. Sinto-me horrível por forçá-la a fazer isso. Só queria ter a chance de te dar uma vida melhor, minha neta.

Abraço-lhe apertado e seu corpo estremece com o choro. Odeio vê-la dessa forma. Ela não merece passar por isso e eu só queria acabar com essa dor que ela sente.

— Não chore, vovó. — uma lágrima solitária escorre pelo meu próprio rosto. — Vai ficar tudo bem, prometo.

Nesse momento uma parte dentro de mim sabe que nunca irei deixá-la, ao contrário do que fez minha mãe.

A Redenção Do Bad BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora