Vinícius
Semanas depois...
Entro no apartamento com a cara fechada, trancando a porta atrás de mim.
Acabei de chegar do trabalho, e meu mau humor tem justificativa, afinal não voltei a procurar a Ana Clara. Não por falta de vontade, é claro. Só não quero fazer mal a ela e ao bebê. Isso pode parecer irônico vindo de mim, que só lhe fiz mal, mas ela não merece mais sofrer. Nunca mereceu. Então pela primeira vez, vou tentar respeitá-la, apesar de estar morrendo de vontade de fugir com ela para um lugar só nosso.
Preciso deixá-la em paz. Não quero que ela passe mal por minha causa. Ainda não dispensei Xavier. Apesar de estar afastado fisicamente de Ana Clara, mandei-o segui-la algumas vezes e tirar fotos. Tenho várias comigo e estão espalhadas pelo meu quarto. Em uma foto em especial, Ana Clara está sorrindo enquanto segura uma roupa de bebê em uma loja do shopping. Essa eu guardo comigo e a levo na minha carteira aonde quer eu vá.
Às vezes me bate uma vontade de ir atrás dela outra vez, mas me controlo e acabo bebendo além da conta. Gustavo aparece por aqui às vezes, e Raquel nunca mais apareceu, embora me ligue constantemente. Meus outros amigos de farra tem estranhado meu sumiço nas festas que eu frequentava. Não tenho mais saco pra isso.
***
Ana Clara
Deixo o prédio sofisticado, após mais uma sessão de fotos, animada com o resultado. Clarisse disse que em breve as fotos serão divulgadas em revistas e confesso que estou bem empolgada. Recebo uma boa quantia em dinheiro por semana, e as fotos não tem atrapalhado meu trabalho no restaurante. Depositei uma parte em uma conta que minha vó fez, enquanto a outra tenho usado com as despesas na casa de Beatriz. Com parte do dinheiro também comprei roupas novas para mim e para minha vó, além de algumas coisas que meu bebê irá precisar.
— Boa tarde. — murmuro ao fechar a porta atrás de mim.
— Boa tarde, minha querida. — vovó abre um sorriso. Retribuo o gesto. — Como ficaram as fotos?
— Muito boas, vó. — comento, entusiasmada. — Em breve estarão na revista.
— Que maravilha! Você merece, Aninha.
— Nós merecemos. — aperto-a em um abraço. — Sinto que agora as coisas vão realmente melhorar. Nunca mais passaremos necessidades.
— Isso agora é passado. — minha vó acaricia meus cabelos. — Tenho muito orgulho de você, Ana Clara.
— Eu que tenho orgulho da senhora. Você é a pessoa mais maravilhosa do mundo. Te amo, vó.
— Também a amo muito, Aninha. — me abraça.
Maria e Beatriz saem de um dos quartos, querendo saber como foi a sessão de fotos. Conto tudo detalhadamente, enquanto nos servimos com o bolo de chocolate e o suco que Maria preparou. Devoro tudo como um leão. Minha gravidez tem me deixado com muita fome, além do sono, é claro. Graças a Deus, os enjoos diminuíram.
Durante a noite, antes de dormir, acaricio minha barriga e converso com o bebê. É um dos momentos mais maravilhosos do meu dia. Porém, às vezes acabo pensando no seu pai e luto com todas as minhas forças para afastar esses pensamentos.
Em outros momentos, choro escondida da minha vó ao me lembrar do passado e de toda a maldade que sofri. Ainda dói, mas estou tentando seguir em frente, pelo meu filho.
***
Umas 20h00 horas, após tomar banho e vestir uma camisola folgada e confortável, decido assistir TV. Logo estou cochilando no sofá com direito à boca aberta e tudo. Beatriz me cutuca, tentando me manter acordada, mas o sono é mais forte do que eu.
De repente, ouço um barulho lá fora e percebo que tem alguém chamando.
— Quem será...? — Beatriz fica de pé, seguindo até a porta. Ela a abre levemente e espia.
— Quem é? — Maria pergunta do sofá.
— Não sei.
Ela abre a porta completamente, caminhando até o portão trancado. De onde estou, posso ter uma boa visão. Vejo um homem do outro lado.
— Ana Clara mora aqui? — pergunta em voz alta. Fico de pé, confusa. Minha vó e Maria esboçam a mesma reação e se levantam.
— O que o senhor quer com ela? — Beatriz pergunta em um tom de voz calmo.
— Um rapaz me pediu para entregar isso a ela, nesse endereço. — levanta um buquê de flores e uma sacola de cor cinza.
Amplio os olhos, surpresa.
— Quem foi? — eu me pronuncio.
— Ele não disse o nome; só me pediu que entregasse isso a uma tal Ana Clara que mora nessa casa.
— Sou eu. — murmuro, seguindo até o portão ainda fechado. O moço passa o presente por cima do portão, e eu o pego de suas mãos.
— Boa noite a vocês. — diz.
— Boa noite. Obrigada. — murmuro.
— De nada. Só fiz o meu trabalho. — sobe em uma moto estacionada em frente ao portão.
Entro em casa novamente, sendo acompanhada por três pares de olhos confusos.
— Ai, que lindo. — Beatriz só falta saltitar de alegria. Sorrio da sua reação. — Tenho certeza que foi o Edu que mandou. Ele é tão fofo.
— Será? — esboço um sorriso, admirando o lindo buquê de flores.
— Fora as flores, ainda mandou um presente. — Maria aponta a sacola em minhas mãos.
Puxo uma caixa delicada e de tamanho médio de dentro da sacola. Ela é toda decorada com o desenho de estrelas brilhantes. Decido abrir a caixa. Meu sorriso fica ainda maior quando vejo um conjunto de roupa unissex de bebê acompanhado de uma touca e sapatinhos fofos.
— Que coisa fofa. — diz Beatriz, pegando a roupinha das minhas mãos. Toco os sapatinhos e não deixo de sorrir.
Minha vó pega o buquê das minhas mãos, dizendo que irá colocá-lo em um vaso. Beatriz me entrega a roupinha, e eu a coloco dentro da caixa junto com as outras coisas.
Um pouco sonolenta, eu desejo boa noite a elas e caminho até o quarto. Sento–me na cama com a caixa nas mãos, então finalmente percebo que há um bilhete dentro da caixa.
Como não o notei antes?
Seguro o pequeno cartão decorado, abrindo um sorriso ao ler a frase:
Para a mamãe mais linda do mundo. Espero que me perdoe um dia. Você sempre será o meu anjo travesso.
V.
Meu sorriso desaparece ao me dar conta de uma coisa.
Só tem uma pessoa que me chamaria dessa forma, e a inicial ao final do bilhete só confirma minha teoria. Lembro-me do dia que certo garoto me chamou de anjo. Meu coração acelera aos poucos e me dou conta de que não foi o Eduardo quem mandou o presente. Um único nome me vem à cabeça.
Vinícius.
Ele mandou as flores e o presente para o bebê.
Observo o bilhete mais uma vez e uma lágrima solitária desce pelo meu rosto.
Guardo a roupinha, a touca e os sapatinhos do bebê no guarda-roupa, tentando me recompor. Apago a luz antes de me deitar na cama.
Apesar de toda a mágoa que ainda sinto por ele, não consigo odiar o presente que ele me deu, porque foi a coisa mais linda que recebi.
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A Redenção Do Bad Boy
RomanceAté que ponto o amor pode ser destrutivo? A ingênua Ana Clara de 16 anos não pensou nisso quando se envolveu com Vinícius de Albuquerque Velásquez, um jovem rico da cidade grande. Ela só não esperava que ele se mostrasse tão cruel. Agora grávida, e...