c a p í t u l o 54🌻

13.3K 926 56
                                    

Vinícius

Semanas depois...

Entro no apartamento com a cara fechada, trancando a porta atrás de mim.

Acabei de chegar do trabalho, e meu mau humor tem justificativa, afinal não voltei a procurar a Ana Clara. Não por falta de vontade, é claro. Só não quero fazer mal a ela e ao bebê. Isso pode parecer irônico vindo de mim, que só lhe fiz mal, mas ela não merece mais sofrer. Nunca mereceu. Então pela primeira vez, vou tentar respeitá-la, apesar de estar morrendo de vontade de fugir com ela para um lugar só nosso.

Preciso deixá-la em paz. Não quero que ela passe mal por minha causa. Ainda não dispensei Xavier. Apesar de estar afastado fisicamente de Ana Clara, mandei-o segui-la algumas vezes e tirar fotos. Tenho várias comigo e estão espalhadas pelo meu quarto. Em uma foto em especial, Ana Clara está sorrindo enquanto segura uma roupa de bebê em uma loja do shopping. Essa eu guardo comigo e a levo na minha carteira aonde quer eu vá.

Às vezes me bate uma vontade de ir atrás dela outra vez, mas me controlo e acabo bebendo além da conta. Gustavo aparece por aqui às vezes, e Raquel nunca mais apareceu, embora me ligue constantemente. Meus outros amigos de farra tem estranhado meu sumiço nas festas que eu frequentava. Não tenho mais saco pra isso.


*** 


Ana Clara

Deixo o prédio sofisticado, após mais uma sessão de fotos, animada com o resultado. Clarisse disse que em breve as fotos serão divulgadas em revistas e confesso que estou bem empolgada. Recebo uma boa quantia em dinheiro por semana, e as fotos não tem atrapalhado meu trabalho no restaurante. Depositei uma parte em uma conta que minha vó fez, enquanto a outra tenho usado com as despesas na casa de Beatriz. Com parte do dinheiro também comprei roupas novas para mim e para minha vó, além de algumas coisas que meu bebê irá precisar.

— Boa tarde. — murmuro ao fechar a porta atrás de mim.

— Boa tarde, minha querida. — vovó abre um sorriso. Retribuo o gesto. — Como ficaram as fotos?

— Muito boas, vó. — comento, entusiasmada. — Em breve estarão na revista.

— Que maravilha! Você merece, Aninha.

Nós merecemos. — aperto-a em um abraço. — Sinto que agora as coisas vão realmente melhorar. Nunca mais passaremos necessidades.

— Isso agora é passado. — minha vó acaricia meus cabelos. — Tenho muito orgulho de você, Ana Clara.

— Eu que tenho orgulho da senhora. Você é a pessoa mais maravilhosa do mundo. Te amo, vó.

— Também a amo muito, Aninha. — me abraça.

Maria e Beatriz saem de um dos quartos, querendo saber como foi a sessão de fotos. Conto tudo detalhadamente, enquanto nos servimos com o bolo de chocolate e o suco que Maria preparou. Devoro tudo como um leão. Minha gravidez tem me deixado com muita fome, além do sono, é claro. Graças a Deus, os enjoos diminuíram.

Durante a noite, antes de dormir, acaricio minha barriga e converso com o bebê. É um dos momentos mais maravilhosos do meu dia. Porém, às vezes acabo pensando no seu pai e luto com todas as minhas forças para afastar esses pensamentos.

Em outros momentos, choro escondida da minha vó ao me lembrar do passado e de toda a maldade que sofri. Ainda dói, mas estou tentando seguir em frente, pelo meu filho.


***


Umas 20h00 horas, após tomar banho e vestir uma camisola folgada e confortável, decido assistir TV. Logo estou cochilando no sofá com direito à boca aberta e tudo. Beatriz me cutuca, tentando me manter acordada, mas o sono é mais forte do que eu.

De repente, ouço um barulho lá fora e percebo que tem alguém chamando.

— Quem será...? — Beatriz fica de pé, seguindo até a porta. Ela a abre levemente e espia.

— Quem é? — Maria pergunta do sofá.

— Não sei.

Ela abre a porta completamente, caminhando até o portão trancado. De onde estou, posso ter uma boa visão. Vejo um homem do outro lado.

— Ana Clara mora aqui? — pergunta em voz alta. Fico de pé, confusa. Minha vó e Maria esboçam a mesma reação e se levantam.

— O que o senhor quer com ela? — Beatriz pergunta em um tom de voz calmo.

— Um rapaz me pediu para entregar isso a ela, nesse endereço. — levanta um buquê de flores e uma sacola de cor cinza.

Amplio os olhos, surpresa.

— Quem foi? — eu me pronuncio.

— Ele não disse o nome; só me pediu que entregasse isso a uma tal Ana Clara que mora nessa casa.

— Sou eu. — murmuro, seguindo até o portão ainda fechado. O moço passa o presente por cima do portão, e eu o pego de suas mãos.

— Boa noite a vocês. — diz.

— Boa noite. Obrigada. — murmuro.

— De nada. Só fiz o meu trabalho. — sobe em uma moto estacionada em frente ao portão.

Entro em casa novamente, sendo acompanhada por três pares de olhos confusos.

— Ai, que lindo. — Beatriz só falta saltitar de alegria. Sorrio da sua reação. — Tenho certeza que foi o Edu que mandou. Ele é tão fofo.

— Será? — esboço um sorriso, admirando o lindo buquê de flores.

— Fora as flores, ainda mandou um presente. — Maria aponta a sacola em minhas mãos.

Puxo uma caixa delicada e de tamanho médio de dentro da sacola. Ela é toda decorada com o desenho de estrelas brilhantes. Decido abrir a caixa. Meu sorriso fica ainda maior quando vejo um conjunto de roupa unissex de bebê acompanhado de uma touca e sapatinhos fofos.

— Que coisa fofa. — diz Beatriz, pegando a roupinha das minhas mãos. Toco os sapatinhos e não deixo de sorrir.

Minha vó pega o buquê das minhas mãos, dizendo que irá colocá-lo em um vaso. Beatriz me entrega a roupinha, e eu a coloco dentro da caixa junto com as outras coisas.

Um pouco sonolenta, eu desejo boa noite a elas e caminho até o quarto. Sento–me na cama com a caixa nas mãos, então finalmente percebo que há um bilhete dentro da caixa.

Como não o notei antes?

Seguro o pequeno cartão decorado, abrindo um sorriso ao ler a frase:

Para a mamãe mais linda do mundo. Espero que me perdoe um dia. Você sempre será o meu anjo travesso.

V.

Meu sorriso desaparece ao me dar conta de uma coisa.

Só tem uma pessoa que me chamaria dessa forma, e a inicial ao final do bilhete só confirma minha teoria. Lembro-me do dia que certo garoto me chamou de anjo. Meu coração acelera aos poucos e me dou conta de que não foi o Eduardo quem mandou o presente. Um único nome me vem à cabeça.

Vinícius.

Ele mandou as flores e o presente para o bebê.

Observo o bilhete mais uma vez e uma lágrima solitária desce pelo meu rosto.

Guardo a roupinha, a touca e os sapatinhos do bebê no guarda-roupa, tentando me recompor. Apago a luz antes de me deitar na cama.

Apesar de toda a mágoa que ainda sinto por ele, não consigo odiar o presente que ele me deu, porque foi a coisa mais linda que recebi.






Votem e Comentem!

A Redenção Do Bad BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora