Le Lecteur Mind

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Era realmente incrível o quanto a beleza de Marie era capaz de seduzir homens de todas as idades, inclusive casados. De todas as damas presentes na festa do casamento de Violeta, ela parecia ser a única que não fazia qualquer esforço para ser notada. Consequentemente, não lhe faltavam parceiros para danças, completamente encantados com seus modos recatados e seu sorriso doce.


O vestido de Marie era simples comparado aos quais ela possuía dinheiro de sobra para comprar e suas jóias eram poucas comparadas, até mesmo, às que mulheres muito menos ricas que ela usavam. Mas para quê ela se daria ao trabalho de perder horas preciosas de seu dia arrumando-se? Era mais do que certo que ela receberia a mesma atenção mesmo trajando um pano de chão.


Thierry não resistiu ao impulso de aproximar-se dela. Era interessante o modo como ela interagia com todas aquelas pessoas e todas pareciam admirá-la. O jovem senhor Laforet também era muito admirado. Mais pela sua aparência e dinheiro do que qualquer outra coisa.


Ele sabia que havia uma infinidade de senhoritas que o apreciavam (ou apreciavam sua casa e suas posses), mas tinha certeza de que todas mudariam de ideia se o conhecessem de verdade. Bastava olhar para os criados de sua casa para notar que maioria tremia só de escutar seu nome. Ele assustava as pessoas e gostava disso. Ser temido o dava uma sensação de poder. O temor dos outros o satisfazia como nada no mundo.


Até pouco tempo atrás.


- Senhor Laforet! - exclamou Marie assim que viu Thierry. - Eu estava justamente explicando a este cavalheiro o motivo pelo qual não posso acompanhá-lo nesta dança. - Thierry franziu o cenho. - Porque o senhor havia me convidado primeiro.


Thierry estava prestes a desmentir Marie quando esta apoiou o braço na parte interna de seu cotovelo e o arrastou até o lugar onde várias pessoas dançavam alegres. Entre elas, uma bela e apaixonada noiva junto ao seu marido, que fazia questão de desfilar com ela por todos os lugares para cumprimentarem os presentes.


Esta era a parte que Thierry mais postergava desde o início do casamento. Não queria agradecer a ninguém pela presença, simplesmente porque, se dependesse dele, nenhuma daquelas pessoas estaria em sua casa. O casamento nem sequer era dele. Por que tinha que pagar pelo erro dos outros?


- A festa está belíssima. A senhora Edmond também. - Marie sorriu para ele de um modo sugestivo.


- Para mim ela sempre será Violeta Laforet, minha irmã.


- Não sabia que o senhor era tão ciumento.


- Não sou, entretanto, a senhorita terá que concordar que Violeta combina muito mais com Laforet do que com Edmond.


Marie deu como resposta apenas um olhar divertido de soslaio para Thierry e ele não pôde deixar de observar o tom lilás de sua íris. A cor era tão suave que poderia facilmente ser confundida com azul, mas, se ele olhasse com bastante atenção, conseguia ver aquele tom tão bonito e incomum. Talvez aqueles olhos fossem os responsáveis pelo estado de transe em que os homens ficavam sempre que olhavam para ela.


- Se não tirar os olhos de mim, não se concentrará na dança senhor Laforet. - advertiu ela assim que se posicionou diante de Thierry para que pudessem dançar.


- Acredito que este é o momento em que peço desculpas para senhorita e elogio seus olhos.


- Se o senhor os comparar a algo infinitamente belo, mesmo que seja um exagero, seria melhor ainda.


- Teus olhos são tão belos e brilhantes quanto as estrelas que iluminam a vastidão obscura do céu noturno. - Thierry tentou dar o ar de devoção que sempre via nos homens apaixonados. Ele estava obstinado em fazer Marie sorrir mais uma vez para que pudesse analisá-la mais de perto. Ela sorriria mesmo que não achasse graça, ele tinha certeza disso. Marie era realmente boa naquilo. Não foram poucas as vezes em que a vira rir das piadas sem graça do senhor Bovary. Mas ele queria o sorriso dela em sua essência mais pura. Quem sabe pudesse imitá-lo?

O Mundo Que As Sombras EscondemOnde histórias criam vida. Descubra agora