Votre Parfum Est Si Merveilleux

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- Não! Você está fazendo errado novamente.

- Mas o senhor falou que era assim que se escrevia o f.

- Eu falei que isso era um j.

- Não é um j. Eu escrevo o j de outro jeito.

- Pouco me importa. Você deve fazer o f corretamente ou jamais entenderão sua letra.

- Estou me esforçando ao máximo.

- Não é o suficiente.

- E o que quer que eu faça?

- Um f!

Thierry pegou sua pena, molhou-a na tinta e desenhou um f minúsculo para que Marlon pudesse copiá-lo.

- Agora, tente você.

Marlon pegou sua própria pena e tentou imitar a letra de Thierry, mas tudo o que saiu foi um garrancho torto.

Thierry passou a mão pelos seus cabelos loiros. Quando aceitou ensinar Marlon a ler e escrever há algumas semanas, ele sabia que não seria uma tarefa fácil. Marlon, entretanto, mostrara-se muito mais inteligente do que Thierry o considerara inicialmente e, em apenas uma semana, lia palavras curtas e simples sem precisar pensar muito na pronúncia de cada letra. O grande obstáculo que eles haviam encontrado nada mais era do que a letra absurdamente ilegível de Marlon e sua lentidão em formar palavras no papel. Ler, para ele, era muito mais fácil que escrever.

- Ainda está fazendo errado. – Thierry tentou parecer tranquilo, mas o rapaz ao seu lado possuía a incrível, porém não muito rara, capacidade de fazê-lo perder a paciência com facilidade.

- Por que não pulamos para a letra g? O meu g é muito bonito.

- Ele parece um oito deformado. E nós apenas sairemos daqui quando o senhor fizer um f descente.

Marlon não conteve seu sorriso involuntário.

- Ainda bem que tenho o dia todo. – sussurrou.

- Mas eu não tenho.

Em um súbito gesto de impaciência, Thierry agarrou a mão de Marlon que segurava a pena e a forçou a percorrer as curvas da letra. Não ficou muito legível, mas ainda era melhor do que todos os outros que Marlon fizera.

- Viu? – perguntou Thierry, soltando a mão de seu aluno e levando a sua própria à testa para massagear a têmpora. – Agora tente refazer do mesmo jeito. – pediu em um tom cansado.

Marlon, contudo, não se mexeu. Ele observava o f em seu caderno de um modo débil e vazio. Parecia perdido dentro da própria cabeça, sem absorver ou sequer compreender o que acontecia ao seu redor.

- Senhor Marlon? – chamou Thierry.

Abruptamente, Marlon aproximou seu rosto do ombro de Thierry e inspirou fundo, mergulhando no cheiro que o suor dele emanava por baixo da roupa. Por incrível que pareça, aquele cheiro não o parecia repulsivo como o suor da maioria das pessoas. Muito pelo contrário. Algo nele o atraía como um ímã forte até seu dono mal humorado. Ele não percebera o quanto o perfume de Thierry era agradável até o momento em que este aproximou-se para forçá-lo a escrever.

- O que pensa que está fazendo? – Thierry sacudiu o ombro para afastá-lo, como se Marlon fosse um inseto asqueroso que nele havia pousado.

- Sentindo seu cheiro. – ele respondeu.

Aquela não era a resposta pela qual Thierry esperava. Ele tentou abrir a boca para gritar com o lunático que acreditava ter algum tipo de liberdade com ele, mas nenhuma palavra se formava de tão surpreso que estava com tamanha ousadia.

Por fim, conseguiu formular uma frase:

- Faça algo deste tipo novamente e o empurrarei porta afora. Fui claro?  

Marlon não sorria, mas o brilho negro faiscante em seus olhos denunciava que Thierry falhara miseravelmente em tentar assustá-lo. O rapaz não tinha medo de suas ameaças. Talvez por acreditar que ele jamais fosse cumpri-las.

- Foi bastante claro, senhor...

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