Loups-Garous Ont Mot

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Marlon percebeu imediatamente que Recife não era um simples tritão como imaginara. Depois que as outras quatro sereias mergulharam atrás da mais velha, o lago ficou em silêncio por exatamente noventa e dois segundos. Segundos estes que Marlon contou cuidadosamente. Queria estar com o controle do tempo para certificar-se de quanto ainda restava para a sua pobre vítima.


- Se eles não vierem, a devolveremos ao lago. - sussurrou para que ela não ouvisse. Henry, por outro lado, escutou Marlon com perfeição apesar de se encontrar a uma distância bem maior.


- Por quê? - Henry cochichou de volta sem olhar para trás. A audição de Marlon poderia até não ser tão perfeita quanto a dele, mas ainda era capaz de identificar a decepção na voz do vampiro.


- O que ganharíamos matando-a?


- Diversão?


- A ira de um cardume inteiro.


- Está realmente mais preocupado com sua vida social do que com a vida de seu Beliz? Esperava mais de você, Marlon. - ele riu. - Quando pretendia apresentar-me a ele?


- Nunca. Se depender de mim ele sequer terá o desprazer de saber de sua existência.


- Você não pensava assim até pouco tempo atrás. - Henry soltou pesadamente o ar mostrando cansaço. - Mas, agora que encontrou outro alguém para satisfazer aos seus desejos sórdidos, mudou completamente de opinião.


- Sórdidos? - Marlon ficou tão furioso que se esqueceu de que deveria sussurrar. Percebendo o erro, voltou a falar com o tom mais baixo. - Quem de nós dois matou centenas de pessoas apenas para alimentar-se do sangue delas quando poderia muito bem sobreviver de sangue animal?


- Não fale como se sobreviver de sangue animal fosse um verdadeiro paraíso. Vivi vinte anos neste inferno até perceber que não me importava tanto assim com a vida das pessoas ao meu redor. - pela primeira vez, Henry não parecia contente com o rumo da conversa. - E mais uma coisa: acredita realmente que matei apenas centenas de pessoas? Sabe quantos anos tenho, Marlon? Sabe há quanto tempo sou imortal?


Marlon levou as mãos aos cabelos. Esperava não arranjar um novo motivo para rever Henry pelo resto de sua vida. Maldito dia em que deixara Thierry sozinho perto do lago.


- Por que estamos perdendo tempo conversando? Não tenho qualquer interesse em sua vida nem quero que nutra algum pela minha. Vamos apenas dar um fim silencioso a isto.


- Tudo bem.


Não demorou muito até uma dúzia de sereias e tritões sair da água. Seis tritões ficaram em uma fila à direita e seis sereias (entre elas as cinco que Marlon conhecera anteriormente) em uma à esquerda, formando um corredor humano. Do centro do corredor, emergiram três figuras: um tritão de barba comprida (aparentemente uma espécie de líder do cardume), uma sereia (possivelmente sua companheira) e um outro tritão que aparentava ser uma versão mais jovem do primeiro.


- Nem quando a vida de um deles está em jogo perdem a oportunidade de um bom espetáculo.


- Cale-se, vampiro! - ralhou Marlon.


- O que deseja com meu filho, lobisomem? - perguntou o tritão mais velho com uma voz imponente.


Marlon já planejara tudo na noite anterior, mas o sucesso de seu plano dependeria também de um pouco de sorte.


- Tenho fortes motivos para acreditar que a antiga companheira de seu filho, Corina, está viva. - foi direto ao assunto, ignorando completamente o discurso formal que criara. Não perderia tempo enquanto a sereia se asfixiava na terra.

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