Passion Qui Devient Folle

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Marlon estava sentado em um dos sofás da sala bebericando o chá oferecido por Nicole quando Thierry entrou no cômodo. Ele tentou esconder a respiração ofegante por ter corrido por todo o caminho até lá desacelerando os passos apenas para que sua pressa passasse despercebida, porém, tudo fora em vão. Ele não sabia, mas Marlon podia escutar o som irregular de sua respiração e de seu coração e sentia o cheiro do suor que se formava na palmas de suas mãos. Era como se estas fossem as únicas coisas que o importassem naquele momento. E, na verdade, eram. Aqueles eram os sinais de que Thierry estava vivo. De que a sereia não o destruíra como sempre fazia com outros homens de menos sorte.


- Está um pouco cedo demais para sua aula, não acha? - disse Thierry, fazendo Marlon sorrir apenas por ouvir sua voz.


- Vim apenas para uma visita rápida. - ele respondeu.


- Ah, tudo bem. Então... - Thierry pigarreou. - Nicole, poderia conceder-nos um momento a sós?


- Mas por quê? - questionou Nicole, desapontada. Ela esperava ver com os próprios olhos o desenrolar da amizade entre seu irmão e Marlon. Era o seu futuro noivado que estava em jogo.


- Por que eu quero. - sibilou Thierry, sem melhores argumentos. - Saia.


Indignada, Nicole levantou-se do sofá e entrou pela porta que direcionava aos corredores da casa. Marlon imediatamente precipitou-se em direção a Thierry, mas este ergueu uma das mãos, pedindo que ele permanecesse onde estava. Levou, então, a outra mão, de modo discreto, ao ouvido e aos olhos, pronunciando o nome de Nicole sem emitir qualquer som.


Ela estava de olho neles.


- É bom ver o quanto é amigável com sua irmã. - disse Marlon, tentando parecer natural.


- É impressão minha ou o senhor está sendo irônico?


- Estava apenas tentando dar início a um conversa.


- Poderia ter sido melhor. - admitiu Thierry. - Aceita alguma coisa? Água, suco...


- Não, obrigado. Nicole... A senhorita Laforet acabou de oferecer-me um chá. - corrigiu-se ele ao ver um olhar de desaprovação em Thierry.


- E é por isso que ofereço outras bebidas. Se bem conheço os chás de Nicole, claramente o senhor deve estar desesperado para tirar o gosto da boca. Acredite, fica mais fraco e aceitável com um tempo. Com um longo tempo.


Marlon escutou um murmúrio de desaprovação de Nicole vindo de trás de uma das paredes. Ela realmente estava escutando a conversa.


- Não precisa preocupar-se com isso. Gosto de chás. E, de todo modo, por mais que eu queira ficar, tenho um compromisso urgente.


- Compromisso? Não virá para a aula à tarde? - Marlon alegrou-se ao perceber a pontada sutil de aborrecimento que Thierry deixara escapar em suas perguntas.


- Infelizmente, não.


- Posso ir com o senhor?


- O quê? Para o compromisso?


- Sim.


- Não, sinto muito.


- Por quê?


- Realmente se importa com o motivo?


- Não, mas espero que me responda para que eu possa mostrar-lhe o quanto ele é inútil.


- É algo particular.


- Ficarei longe para dar-lhe privacidade.


- Estou a cavalo.


- O dia está aceitável para uma caminhada.


- Deveria estar repousando depois do ocorrido.


- Não me sinto cansado. Nunca dormi tanto em toda minha vida.


- É um em local distante.


- Chamarei a carruagem, então.


- Detestará o lugar.


- Detesto todos os lugares aonde vou.


- Por que insiste tanto em ir?


- Preciso mesmo explicar-lhe o motivo?


Foi então que ele sorriu. Aquele mesmo sorriso que Marlon tentara imitar no dia anterior. Aquele mesmo sorriso que o desconcertara na Floresta Escura e o desconcertava agora.


"Não, Marlon. Você precisa protegê-lo. Levá-lo junto é um risco para a vida dele." dizia sua voz da consciência que, não muito surpreendentemente, era bastante parecida com a de Folha.


Mas o sorriso... Quantas vezes Marlon sonhara com ele? Ou com os lábios que o contornavam? Ou com o dono de ambos?


"Você tem a obrigação de protegê-lo." prosseguiu a voz. "E o melhor jeito de fazer isso é deixá-lo em segurança em sua própria casa."


- E então? - perguntou Thierry. O som de sua voz estava estrategicamente sussurrado. Aparentemente ele era incapaz de sentir determinadas coisas, mas sabia exatamente como provocá-las em outras pessoas.


- Está tentando manipular minhas vontades, não está? - cochichou Marlon a fim de evitar os ouvidos atentos de Nicole.


- Depende. Estou conseguindo? - perguntou ele. Os estalares de sua língua causando arrepios pelo corpo de Marlon.


- Mande prepararem a carruagem. - disse, derrotado, porém, simultaneamente alegre. Nunca perder uma discussão o causara tanto êxtase.


Thierry deu uma rápida olhada para trás para certificar-se de que Nicole não os observava antes de aproximar seu rosto do de Marlon. Por um momento, Marlon pensou que seria beijado novamente e fechou os olhos, contudo, Thierry apenas encostou sua testa a dele antes de sair para pedir a carruagem.


Marlon perguntou-se se não estava agora com a mesma expressão de bobo apaixonado que o fizera rir de Juliet.


Se parecia um bobo, ele não poderia dizer, mas com certeza estava apaixonado.


Um inconsequente apaixonado.


O Mundo Que As Sombras EscondemOnde histórias criam vida. Descubra agora