Juste un Baiser

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Nimbus, o cavalo cinzento de Marlon, cavalgou rapidamente o caminho de volta. Marlon havia acabado de levar Thierry (a pé, claramente) para casa.


Ao vê-los, Nicole não se conteve e pulou no pescoço do irmão tentando explicar o quanto quis sair para vê-lo, mas que as chuvas não haviam permitido. Thierry pareceu um tanto desajeitado ao retribuir o abraço caloroso. Ele não tinha muita prática com aquilo.


- Pensamos em sair para buscá-lo ontem, mas Marlon havia enviado um bilhete insistindo que ele mesmo faria isso. - explicou o senhor Laforet. - Ficamos com medo de nos desencontrarmos pelo caminho.


- Mas quando você não veio no dia previsto e recebemos mais um bilhete sobre seu estado, pensei em eu mesma ir atrás de você caminhando. - falou Nicole, sem fazer qualquer movimento para soltar o irmão. Thierry arregalou os olhos com o espanto pela atitude dela.


- Eu fiz questão de tirar esta ideia absurda da cabeça dela. - resmungou senhor Laforet para Marlon. - Nós tínhamos coisas importantes para resolver e Thierry certamente jamais faria o mesmo por ela.


Marlon estava prestes a pedir que o senhor Laforet não fosse tão desagradável e estragasse o momento quando notou os braços de Thierry envolvendo Nicole com um pouco mais de força e naturalidade. Talvez o antigo Thierry jamais se preocupasse com a irmã caçula, mas ele não estava tão certo disso quanto ao novo. O que havia renascido das águas do lago da Floresta Escura.


- Quer entrar e tomar uma xícara de chá? - ofereceu Nicole ao se afastar do irmão. Ela olhava para Marlon com tamanha intensidade que ele pensou que logo receberia um abraço também. - O senhor deve estar cansado da caminhada.


- O senhor Marlon trouxe o cavalo conosco para voltar cavalgando. Não vai precisar beber chá. - Thierry deu alguns passos para frente, colocando-se diante de Nicole com se quisesse protegê-la ou afastá-la de Marlon.


- Nunca se sabe... - disse Marlon olhando fixamente para Thierry, desafiando-o a rir. Este pareceu inabalável. Anos de prática. - De qualquer forma, tenho que voltar para casa antes que escureça. - ele fez uma breve mesura para Thierry. - Melhoras, senhor Laforet. Espero vê-lo muito em breve.


- Eu também, senhor Marlon. - respondeu ele ainda com sua expressão séria e sua voz fria.


O senhor Laforet entrou na casa e Nicole o seguiu de braços dados com o irmão. A alegria por vê-lo bem emanando de seus poros.


- Parece pálido, Thierry. Farei um chá para você. O melhor chá que já provou em sua vida.


- Sabe que detesto chá, Nicole.


- Então, não será uma tarefa tão difícil assim.


Thierry girou um pouco o pescoço e percebeu que Marlon ainda estava parado atrás dele, com os braços cruzados, observando-o. Marlon piscou um dos olhos para ele e Thierry imitou o gesto de um modo anormalmente adorável.


Marlon ainda não havia conseguido tirar a recordação do beijo que havia recebido de sua mente. Quase caiu do cavalo umas duas vezes por não prestar atenção ao caminho. A lembrança era tão nítida que ele estava certo de que, se fechasse os olhos, poderia sentir novamente a pressão tímida dos lábios de Thierry contra os seus.


A tentação de tê-lo junto de si era tão grande que, ao chegar ao meio do caminho, ficou tentado a voltar e aceitar a xícara de chá oferecida por Nicole apenas para poder admirar por mais alguns segundos aqueles olhos tão escuros quanto uma noite sem estrelas. Queria estar no mesmo ambiente que ele apenas por mais alguns minutos.


A visão de sua própria casa o fez deixar seus sonhos um pouco de lado. Ele tinha problemas importantes para resolver o mais rápido possível. A o efeito da chuva sobre Thierry só podia ser algum tipo de efeito colateral causado pelo encanto da sereia. Marlon poderia ter feito como o seu pai o instruíra inúmeras vezes e a matado. Isso sim quebraria o encanto definitivamente. Era o modo mais rápido e fácil, mas ele não era um assassino. Encontraria um modo de convencê-la a livrar Thierry daquela maldição o mais rápido possível ou este jamais poderia entrar em um rio, lago ou ficar embaixo da chuva sem enlouquecer novamente.

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