N'y Pense Plus

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Nicole foi incapaz de esconder sua alegria quando Marlon a convidou para dançar, pois, por mais que negasse para o pai e para Violeta quando estes a perguntavam, ela tinha certeza de que Marlon a via de um modo especial e não tardaria em pedi-la em casamento. Ela, entretanto, também não queria criar muitas esperanças como na última vez. Tentava ver suas possibilidades de um ponto de vista mais realista como o do seu irmão e constatou que Marlon não parecia muito cheio de opções.


Apesar de não ser um rapaz feio, Marlon era muito relaxado em questão de aparência. Tudo bem que, de uns tempos para cá, ele começara a cortar de um modo mais descente as unhas, cabelos e barba, mas ele não parecia ter uma grande preocupação em manter-se alinhado. O cabelo, agora mais curto que quando no dia em que o conheceu, estava bagunçado de tanto ser puxado para trás por mãos suadas e suas roupas, completamente amarrotadas. Ele era desleixado em demasia para alguém com as posses que herdara.


E isso era encantador.


Lógico que ela estava feliz por ser a única a achar Marlon atraente em meio a todas aquelas moças solteiras. Isso talvez se devesse ao fato de praticamente ninguém na festa saber sobre a gorda fortuna de sua família, do contrário, Marlon estaria cheio de "novos amigos".


Marlon não carecia de pessoas interesseiras ao seu entorno, pensava Nicole. Ele precisava de pessoas como ela, que o admiravam em sua essência mais bruta. Nicole era a única que via a beleza por trás de Marlon.


Ou assim ela pensava.


O que a senhorita Laforet não sabia era sobre o dom inato ao seu parceiro de dança. O dom que o impedia de passar despercebido por qualquer mulher que ainda não encontrara alguém a quem entregar seu coração. O dom que incitava no sexo oposto os seus instintos mais primitivos e que existiam muito antes de criarem as regras de moralidade e decência.


Não. Nicole não era a única, mas pensava ser. Assim como todas as outras. O que as diferenciava, no entanto, era até que ponto cada uma seria capaz de ir para satisfazer o vazio que nem sabiam possuir, mas ao qual tinham certeza de que Marlon era o único capaz de preencher no momento.


Poucos metros adiante, Thierry encarava o casal formado por sua irmã e por Marlon da mesa onde estava sentado ao lado de Marie. Ele não sabia o que mais o afetava. Se era a repulsa pela felicidade estampada no rosto de ambos ou o fato de Marlon estar com as mãos encostadas em sua irmã mais nova.


Thierry fechou a mão esquerda em torno da sua taça de vinho quase vazia. A força exercida foi tão grande que, por pouco, o cristal não se quebrou.


- E o senhor ainda nega ser ciumento. - murmurou Marie, surpreendendo Thierry. Ela nem sequer estava olhando em sua direção ou na direção de Marlon e Nicole quando falou.


- Pouco me importa com quem Nicole dança ou deixa de dançar. - ele resmungou.


Marie virou a cabeça na mesma direção para qual os olhos de Thierry apontavam, observou o casal por um breve momento e voltou a encará-lo.


- Mas quem falou em Nicole? - ela perguntou.


Um pulso de pura adrenalina percorreu o corpo de Thierry com o espanto. Será que Marie percebera alguma coisa? Não. Claro que não. De onde ela tiraria esta ideia? Ela deveria estar falando novamente de Violeta.


Thierry procurou pela irmã mais velha, movendo os olhos rapidamente. Nenhum sinal dela.


De onde ela tiraria esta ideia?


Ele virou seu corpo para Marie para poder encará-la.


De onde ela tiraria esta ideia?


- De quem mais você poderia estar falando? - ele perguntou secamente.

O Mundo Que As Sombras EscondemOnde histórias criam vida. Descubra agora