Marlon alcançou Thierry em poucos segundos. Lógico que a disputa não era das mais justas. Marlon era mais rápido que qualquer pessoa normal e Thierry não aparentava ter qualquer noção de equilíbrio no estado em que se encontrava. Ele correndo mais parecia com alguém que havia acabado de tropeçar em alguma coisa e que tentava não cair dando alguns passos trôpegos para frente.
Ao sentir as mãos de Marlon prenderem seus braços, Thierry se debateu como um peixe fora d'água. Tentou socá-lo novamente ou atingi-lo com o cotovelo, mas Marlon era muito mais forte.
A respiração de Thierry e seus batimentos cardíacos estavam muito acelerados. Sua boca estava seca, sua cabeça doía com uma vertigem terrível e, se não fosse por sua sede extrema que o conduzia para o lago, cairia de cansaço no chão. Estava fraco demais para resistir quando Marlon o arrastou de volta para sua casa.
- O que foi que fez desta vez, Marlon? - gritou Folha ao ver o estado de calamidade em que Thierry estava. - Deite-o na cama agora.
Marlon obedeceu e logo Thierry se viu no mesmo quarto da última vez. Os lençóis macios eram um convite para um sono profundo, mas ele não podia dormir. Precisava de água. Muita água. Só o lago sereia capaz de saciar sua sede.
- Água, Juliet! - berrou Folha. Thierry mal teve tempo de piscar antes da garota entregar um copo cheio para ela. Folha jogou metade do líquido pela janela e Thierry teve a vaga impressão de ter-la visto cuspir no copo.
- O que houve em seu rosto? - perguntou Juliet para Marlon, passando a mão pelo local onde Thierry o havia esbofeteado em um ataque súbito de ira. Uma mancha rocha já havia surgido no queixo dele e Thierry estava desesperado para pedir-lhe perdão. Para pedir que Juliet tirasse a mão do rosto de Marlon. Do seu Marlon.
- Não é comigo que devem preocupar-se. - disse Marlon, afastando gentilmente a mão de Juliet de seu rosto.
- Não fale nada. - bronqueou Folha quando Thierry tentou pedir desculpas pela sua agressividade. - Poupe os seus esforços e beba esta água bem devagar.
Thierry pegou o copo que Folha havia lhe oferecido e bebeu tudo de uma vez apesar das recomendações. Estava sedento. A água era muito pouca. Ele precisava de mais. Ele precisava da água do lago.
- Mais... - ele esforçou-se para pedir. Sua boca estava rachada e cheia de feridas doloridas que o impediam de falar normalmente. - MAIS. - berrou. Filetes de sangue surgiram em seus lábios secos. - EU PRECISO DE MAIS.
- Não pode dar um pouco mais de água a ele? - Marlon parecia um aluno receoso de que sua pergunta para o professor fosse estúpida demais.
- Infelizmente não. Ele está muito desidratado.
- Eu. Preciso. De. Mais. - disse Thierry, fazendo menção de sair de cima da cama. Marlon estendeu o braço sobre o corpo dele, impedindo-o de se movimentar. A mão livre de Marlon subiu até a cabeça de Thierry e acariciou afetuosamente seus cabelos molhados pela chuva.
- Preciso que fique aqui. Será melhor para você. - Marlon sussurrou próximo ao ouvido dele.
- Marlon... Por favor, Marlon... - ele tentou pedir por mais água, mas sua voz parecia um chiado rouco. Estaria chorando de desespero se suas lágrimas não tivessem secado.
Thierry parou de tentar livrar-se do braço de Marlon e relaxou o corpo. Marlon o soltou e se virou para falar com Folha. Thierry aproveitou seu momento de distração e saiu correndo.
Atravessou a porta aberta do quarto, ignorando os chamados atrás dele. Logo estaria saciando sua sede na água cristalina do lago. Estava quase abrindo a porta da frente quando uma dor intensa vinda de sua nuca espalhou-se por sua coluna, membros e cabeça.
Ele se curvou no chão, gritando de dor. Seus músculos se contraíram até finalmente relaxarem após ele desmaiar no tapete da sala.
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O Mundo Que As Sombras Escondem
FantasyO mundo está longe de ser como você imagina. Não significa que porque você nunca viu algo que ele necessariamente não exista. Sou a prova viva disso. Mas vamos ao que realmente interessa, pois esta história não se trata apenas de um mundo do q...